FONTE:, CORREIO DA BAHIA.
Instituto está
na reta final para a criação de uma nova droga contra o câncer produzida a
partir da saliva do carrapato-estrela.
O Instituto Butantã entrou na reta final para os testes
clínicos - com humanos - de uma nova droga contra o câncer produzida a partir
de uma proteína encontrada na saliva do carrapato-estrela (Amblyoma
cajennense). Os experimentos feitos com camundongos e coelhos, inteiramente
concluídos, mostraram que a proteína levou à regressão de tumores renais, de
pâncreas e do tipo melanoma, além de reduzir metástases pulmonares derivadas
desses tipos de câncer.
De acordo com a coordenadora do estudo, Ana Marisa
Chudzinski-Tavassi, o instituto está esperando autorização da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes clínicos em humanos.
"Confirmamos que a proteína ataca e mata as células cancerígenas sem
oferecer risco às células saudáveis. Os testes pré-clínicos foram um sucesso e
temos tudo pronto para termos um medicamento inovador para tratamento do câncer
com menos efeitos colaterais", disse.
Segundo ela, as pesquisas foram iniciadas há cerca de dez
anos no Laboratório de Bioquímica e Biofísica. Mas o impulso definitivo
aconteceu em 2013, com a construção de uma nova infraestrutura, exclusivamente
voltada para o projeto, financiada com recursos de mais de R$ 15 milhões do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O instituto conseguiu também parceria com a indústria
farmacêutica nacional para realizar os testes. Segundo ela, o modelo de
pesquisa e desenvolvimento traçado pelo instituto é um marco para a ciência
brasileira. "Graças à expertise do instituto e à estrutura do laboratório,
conseguimos produzir a proteína em biorreatores dentro das condições exigidas
pelos órgãos reguladores e adiantamos os testes de estabilidade e
toxicidade."
Assim, segundo ela, foi possível levar a pesquisa até um
estágio tão avançado que a indústria se sentiu confortável para fazer uma
formulação e tocar os ensaios pré-clínicos. "Com isso, acredito que
conseguimos criar um modelo de desenvolvimento de novos fármacos viável para o
País", disse. Transformar as pesquisas feitas na bancada dos laboratórios
em produtos disponíveis no mercado, segundo ela, é um notório gargalo para a
produção de novos medicamentos.
Saliva de carrapato.
De acordo com Ana Marisa, o interesse inicial do laboratório no carrapato-estrela não tinha nenhuma relação com o câncer. Os cientistas queriam entender como a espécie, que se alimenta de sangue de animais, é capaz de impedir sua coagulação.
De acordo com Ana Marisa, o interesse inicial do laboratório no carrapato-estrela não tinha nenhuma relação com o câncer. Os cientistas queriam entender como a espécie, que se alimenta de sangue de animais, é capaz de impedir sua coagulação.
"Analisamos uma série de substâncias na saliva do
carrapato e encontramos uma proteína que inibia uma fase importante do processo
de coagulação sanguínea. Como é difícil trabalhar diretamente com a saliva
do animal, analisamos os genes envolvidos com a expressão dessa proteína e, com
técnicas de engenharia genética, expressamos essa proteína em bactérias",
afirmou.
Durante os vários testes com a nova molécula - batizada
de Amblyomin-X -, os pesquisadores notaram que, além de inibir a coagulação em
células de vasos sanguíneos, ela matava células tumorais. "Testamos em
culturas e células, em camundongos, depois em coelhos. O resultado era sempre o
mesmo: as células normais permaneciam ilesas e as células tumorais
morriam", disse.
Utilizando marcadores biológicos, os cientistas
acompanharam a trajetória da molécula no organismo dos animais. "Nos
animais sem tumores, vemos a molécula dar uma volta e ser excretada. Nos que
têm tumor, ela fica estacionada. Isso demonstra a baixa toxicidade da
droga", disse Ana Marisa.
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