Comer sem engordar. Com essa
promessa, os edulcorantes artificiais ganharam ampla aceitação e popularidade
devido ao seu baixo custo e também pelos potenciais benefícios à saúde,
fundamentalmente prevenir e combater a obesidade e o diabetes.
Receberam imensos investimentos da
indústria alimentícia em todo o mundo. A partir da década de 1980, em virtude
de mudanças na legislação brasileira, os adoçantes artificiais deixaram de ser
considerados medicamentos e invadiram as prateleiras dos supermercados.
Uma colega de trabalho denomina-os
jocosamente de "hipocrisil", já que seu uso tem aliviado a culpa,
quase sempre presente, após uma farta refeição regada com refrigerante diet ou
finalizada com cafezinho e adoçante.
Paradoxalmente, no entanto, o aumento
no consumo de adoçantes é seguido, a passos largos, pelo aumento assustador da
obesidade e do diabetes tipo 2 e pelas graves consequências de ambos à saúde
humana.
Embora os adoçantes tenham sido
introduzidos há mais de cem anos, os estudos científicos avaliando seus
benefícios vinham gerando resultados conflitantes e, muitas vezes, difíceis de
serem interpretados.
Recentemente, no entanto, foi
publicado em revista científica de grande respeitabilidade um primoroso estudo
mostrando que os adoçantes artificiais provocam o aparecimento de alterações na
taxa de açúcar do sangue, tanto em animais de experimentação como em humanos,
favorecendo o desenvolvimento do diabetes.
“O aumento no consumo de adoçantes é seguido, a passos largos, pelo
aumento assustador da obesidade e do diabetes tipo 2 e pelas graves
consequências de ambos à saúde humana”. Cesar Geremia, membro da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, sobre os possíveis riscos
do uso de adoçantes à saúde.
Os autores realizaram uma sequência
de experimentos com grande rigor metodológico que mostrou que o consumo de
adoçantes provoca modificações na composição e no funcionamento das bactérias
intestinais (microbiota intestinal). Esta microflora alterada provoca
anormalidades no metabolismo do hospedeiro, seja camundongo ou ser humano.
Os achados foram confirmados em vivo
e em vitro pela transferência da microbiota alterada pelos adoçantes para
camundongos sem bactérias intestinais. Estes, recebendo essas bactérias,
desenvolveram as mesmas alterações no controle da glicemia observadas naqueles
que consumiam adoçantes.
Na última etapa do estudo, sete
voluntários saudáveis, que não consumiam adoçantes regularmente, passaram a
ingerir a dose máxima de um adoçante por sete dias e, mesmo nesse curto período
de exposição, passaram a apresentar as mesmas alterações observadas nos
camundongos.
Qual o significado imediato deste
estudo de grande qualidade? Em medicina, como em todas as ciências, a
veracidade e a universalidade dos achados experimentais devem ser corroborados
por estudos equivalentes de outros pesquisadores, antes de terem a sanção da
comunidade científica.
Mas é necessária urgência nesses
estudos tendo em vista o aumento alarmante do sobrepeso no mundo – 30% da
população mundial, 2,1 bilhões de pessoas, e pelo também epidêmico crescimento
do diabetes em nível global – 382 milhões de pessoas em 2013, segundo a
Federação Internacional de Diabetes. É essencial e urgente que a iniciativa
privada e governamental envidem esforços conjuntos para modificar este panorama
ominoso.
Enquanto se aguardam posicionamentos
oficiais, o que fazer? Usemos de moderação e de equilíbrio nas nossas escolhas.
E lembremos que talvez o velho Hipócrates, Pai da Medicina e da Escola de
Cós, possa ainda estar atualizado quando há 2600 anos afirmava: "que o
vosso alimento seja o vosso primeiro medicamento".
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