FONTE: Regina Navarro Lins (reginanavarro.blogosfera.uol.com.br).
Comentando o “Se eu
fosse você''.
A questão da semana é o caso do internauta que quis se separar da
mulher porque o casamento ia mal. Paga pensão, mas é tratado como bandido que
abandonou o lar. Teme que a ex ponha seus filhos definitivamente contra ele.
Não tenho dúvida de que o divórcio é,
muitas vezes, a melhor opção, apesar de geralmente ser um período bem difícil.
Penso ser importante analisar sob dois ângulos a situação vivida pelo leitor. O
primeiro é a dor que uma separação provoca em quem não deseja o afastamento.
Quando alguém deixa de ser amado é
tomado por uma profunda angústia e tristeza. A maioria das pessoas só se sente
valorizada, especial, com certeza de possuir qualidades, se tiver um parceiro
amoroso.
Mesmo que o parceiro não satisfaça
nem preencha suas necessidades afetivas e sexuais, a separação é dolorosa
porque impõe o rompimento da fantasia do par amoroso, tão cultivada por todos.
No caso de uma separação conjugal há ainda uma agravante: a sensação de
fracasso, já que desde criança todos aprendem que o casamento é o lugar onde
uma pessoa pode se realizar afetivamente.
Acrescente-se a isso a baixa
autoestima que ocorre nessas situações e as inseguranças pessoais que
reaparecem. O resultado são separações em que a hostilidade e o ódio pelo outro
chegam a níveis extremos. E isso pode ocorrer com qualquer um, independente do
sexo.
O outro aspecto, que já devia estar
sendo discutido mais amplamente, é a situação do homem atual. Durante milênios
as mulheres perceberam o homem do mesmo modo como ele aprendeu a se definir: um
ser privilegiado, acreditando ser mais forte, mais corajoso, mais decidido,
mais responsável, mais criativo e mais racional.
Claro que isso serviu bem para
justificar a dominação da mulher por tanto tempo. Contudo, de trinta e poucos
anos para cá, as mulheres começaram a exigir o fim da distinção dos papéis
masculinos e femininos, e a certeza do homem superior à mulher foi abalada.
Diante dessa nova mulher
desconhecida, muitos homens passaram a questionar a identidade masculina,
desejosos de se libertar desses papéis tradicionais a eles atribuídos.
Não mais subjugados ao mito da
masculinidade, acreditando na igualdade entre os sexos, buscam uma vida afetiva
com suas parceiras livres de obrigações e cobranças, que só servem para impedir
uma relação verdadeira com elas. Mas nem todas as mulheres se deram conta
disso.
Muitas continuam alimentando a mesma
forma de pensar e agir de sempre: a mulher é frágil, desamparada, necessitando
desesperadamente de um homem ao lado, que lhe dê amor e proteção e, mais do que
tudo, que dê um significado à sua vida. Ao mesmo tempo em que qualquer homem é
visto como perigoso, sempre disposto a enganar.
Dentro dessa ótica, a separação é
percebida como um ataque, merecendo, portanto, ser revidado. O simples fato de
um homem não desejar mais a continuidade do casamento o transforma de imediato
no déspota opressor, tão conhecido na história do patriarcado.
Afinal, o que mais poderia se esperar
de um homem? Com os estereótipos masculinos falando mais alto, surge o desejo
de vingança. E para que ela tenha êxito, não se pode aceitar que a meta de
todos deveria ser a busca de uma vida realmente satisfatória.
É certo que a mudança das
mentalidades demora algumas vezes mais de cem anos para se concretizar, mas
isso não importa, desde que se abra um espaço definitivo para a autonomia de
homens e mulheres.
Enquanto isso, sorte de quem tem
coragem para aproveitar este momento, em que, felizmente, a culpa e os
sacrifícios estão sendo substituídos pela possibilidade de prazer.
+
Regina Navarro.
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