FONTE: Andrew Tarantola (gizmodo.uol.com.br).
Você
só precisa andar pela seção de cuidados pessoais de um supermercado para
entender o tamanho do negócio de vendas de desodorantes e antitranspirantes. Só
nos Estados Unidos, as vendas desses produtos movimentaram mais de US$ 2 bilhões
em 2013. Mas você sabe do que é feita aquela substância que você passa (espero)
nas suas axilas todas as manhãs?
A origem do mau cheiro do
suor.
Suas
axilas desempenham um papel essencial na regulação da temperatura corporal:
você tem cerca de 3 milhões de glândulas sudoríparas que bombeiam cerca de 14
litros de água por dia (ou cerca de 4 litros de água por hora sob condições
extremas). Curiosamente, embora a maioria dos mamíferos possua glândula
sudorípara, poucos deles — incluindo cavalos e humanos — produzem grandes
quantidades de fluindo de termorregulação, vulgo suor.
Assim
como a urina, o suor é quase estéril e não tem odor quando é excretado: ele só
começa a feder quando é fermentado pelas bactérias do ambiente. No caso da
transpiração das axilas, há dois tipos de glândulas que produzem o suor: as
glândulas crinas servem para resfriar o corpo, decretando apenas água a
eletrólitos. Como esse suor é relativamente pobre de nutrientes, ele raramente
atrai bactérias e quase não afeta o cheiro do corpo. As glândulas apócrinas, no
entanto, também transportam gorduras e proteínas pela superfície da pele junto
com o suor, e tudo isso é digerido pelas colônias de bactérias — junto com as
células mortas da pele e do cabelo — e isso gera o odor do suor como subproduto
metabólico.
As
axilas podem ser comparadas
a florestas tropicais em meio à topografia tipicamente árida da pele, o que faz com que elas sejam o lar ideal para vários
tipos de bactérias. Elas prosperam em ambientes úmidos e com baixo pH criados
quando você lava o manto ácido natural produzido pelas suas axilas usando
sabonetes alcalinos. Depilar as axilas também ajuda a aumentar o número de
bactérias, já que os pelos que protegeriam a umidade da pele são removidos. E
mesmo que o pessoal mais ermitão-hippie-naturalista diga que a sujeira é uma
coisa natural e até mesmo legal, é compreensível que a maior parte das pessoas
queira manter o aroma fresco de uma pele desodorizada.
A diferença entre
desodorantes e antitranspirantes.
Desodorantes
e antitranspirantes não são a mesma coisa. Esses dois compostos químicos foram
criados para propósitos radicalmente diversos e funcionam de maneira
completamente diferente quando são aplicados na pele.
A
mais antiga referência a desodorantes data do século IX como parte da
pesquisa do sábio persa Ziryab sobre limpeza e higiene pessoal na corte
Umayyad, na Ibéria Islâmica, e está junto com informações sobre o banho e o
creme dental (que ele teria inventado). Mas foi apenas na era Vitoriana que um
inventor da Filadélfia (cujo nome foi apagado da História) criou o
primeiro desodorante comercial, chamado Mum, em 1888. A Bristol-Meyes adquiriu
a empresa em 1931 e, uma década depois, revolucionou a higiene pessoal ao
desenvolver um aplicador roll-on usando como base a tecnologia da caneta
esferográfica. Assim foi criado o desodorante roll-on que é usado até hoje.
Desodorantes
não conseguem fazer com que você pare de suar. Em vez disso, eles miram nas
bactérias que se alimentam do seu suor. Geralmente os desodorantes têm álcool
ou outros ingredientes que contribuem para fazer com que suas axilas se tornem
ambientes inóspitos para as colônias de bactérias. Eles também podem conter
bactericidas como o triclosan que mata os organismos antes que eles tenham
tempo de digerir seus fluidos. Por isso, em algumas partes do mundo, os
desodorantes são considerados cosméticos.
Antitranspirantes,
por outro lado, são classificados como drogas pela FDA quando combinados com
desodorantes. Eles chegaram na virada do século XX, com o Everdry. Mas não
demorou para que esse produto se tornasse problemático por causa de seus altos
níveis de cloreto de alumínio, que causa dermatite (coceira e pele irritada) em
boa parte da população e pode ser considerado fatal quando grandes
concentrações se infiltram no corpo, causando falência renal. Jules Montenier
solucionou esse problema em 1941 quando patenteou a primeira mistura moderna de
antitranspirante, que atenuava os problemas causados pelo cloreto de alumínio
com um composto nitrílico solúvel.
Os
compostos de cloreto de alumínio são os agentes antitranspirantes mais eficazes
que existem no mercado hoje. Eles se misturam ao suor para criar uma camada de
gel que obstrui o duto da glândula sudorípara, além de fazer com que elas se
contraiam. Quando mais poros forem fechados, menos você suará. O processo é
temporário, claro — uma hora o bloqueio sai junto com a descamação da pele —
embora o tempo de permanência do efeito antitranspirante varie de pessoa para
pessoa. Outros ingredientes ativos incluem parabenos e hidroxitolueno butilado
(BHT), que agem como conservantes, fragrâncias de mascaramento, óleos
emolientes hidratantes, agentes emulsionantes e pó de talco para reduzir o
atrito.
“Você
quer que suas axilas fiquem o mais seco possível a fim de que os
ingredientes ativos do antitranspirante tenham oportunidade de realizar o seu
trabalho de fechar poros e bloquear dutos sudoríparos”, explicou David
Pariser, professor de dermatologia da Eastern Virginia Medical School em
Norfolk, nos EUA, ao WebMD. “É por isso que você deve colocar os
antitranspirantes à noite, antes de ir dormir, em vez de passar pela manhã logo
após sair do banho.”
Antitranspirantes podem
feder.
Assim
como outros cosméticos farmacêuticos modernos como o protetor solar e a pasta
de dente, antitranspirante em excesso faz mais mal do que bem. Como mencionado
acima, uma pequena parte da população é alérgica ao alumínio e sua aplicação
pode resultar em coceira e vermelhidão e inflamação da pele.
O
uso prolongado tem sido ligado a níveis elevados de alumínio no sistema do
usuário (também conhecido como “carga corporal”, similar a como os peixes ficam
carregados com mercúrio com o passar do tempo). Muito alumínio em seu organismo
pode ser fatal, já que ele pode detonar seus rins. Por isso a FDA tem, na
última década, rotulado antitranspirantes com alertas contra seu uso por
pessoas com problemas renais. Outros irritantes potenciais incluem o zircônio e
o propileno glicol, ambos ingredientes comuns em antitranspirantes.
Isso
tudo não significa que o uso moderado e diário de antitranspirantes lhe causará
algum mal. Mas se você tem uma dessas vulnerabilidades (sensibilidade ao
alumínio, rins enfraquecidos), é de bom tom diminuir a dose.
Os antitranspirantes
realmente causam câncer?
Apesar
da crença popular, uma coisa que os antitranspirantes não são é cancerígeno.
Isso de acordo com um bom número dos maiores institutos de pesquisa em
medicina. Mas como estamos na Internet e uma hora ou outra alguém invocará
uma teoria da conspiração, vejamos de onde veio o mito do antitranspirante
cancerígeno.
Por
volta da virada para o século XXI, surgiu um rumor ligando o aumento do risco
do desenvolvimento de câncer de mama à prática de se depilar e aplicar
antitranspirante nas axilas. Em um esforço para acabar com o mal entendido, a
Sociedade Americana do Câncer cita dois estudos, conduzidos em 2002 e 2003:
Não existem estudos epidemiológicos contundentes na
literatura médica que conectem o risco do câncer de mama ao uso de
antitranspirantes e pouquíssimas evidências científicas sustentam essa
alegação.
Na realidade, um estudo epidemiológico cuidadosamente
desenvolvido acerca desse tema foi publicado em 2002 comparando 813 mulheres
com câncer de mama e 793 sem a doença. Os pesquisadores descobriram que não há
ligação entre o risco do câncer de mama e o uso de antitranspirantes,
desodorantes ou depilação das axilas.
Um estudo publicado em 2003 analisou as respostas de
questionários enviados a mulheres que tiveram câncer de mama. O pesquisador
relatou que mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama em idade mais
jovem disseram que usavam antitranspirante e começaram a depilar as axilas mais
cedo e com mais frequência do que as que foram diagnosticadas com mais idade.
Mas o projeto do estudo não incluiu um grupo de controle de mulheres que não
tiveram câncer de mama, e foi criticado e classificado por especialistas como
irrelevante à segurança dessas práticas de higiene nas axilas.
Pouco
tempo depois, a Fundação do Câncer Susan G. Komen, o Instituto Nacional do
Câncer e o BreastCancer.org se posicionaram, independentemente, favoráveis à
Sociedade Americana do Câncer. Pesquisadores do Instituto chegaram a
dizer que eles “não estão cientes de qualquer
evidência conclusiva ligando o uso de antitranspirantes ou desodorantes para as
axilas ao subsequente desenvolvimento de câncer de mama”. Mas nem todos os
pesquisadores ficaram convencidos.
“A
falta de evidência não é evidência da falta de efeitos danosos” e “esses
químicos estão sendo aplicados diretamente, todos os dias, por uma quantidade
enorme de pessoas e os efeitos da exposição a longo prazo na saúde são,
basicamente, desconhecidos”, disse
ao WebMD o toxicologista Philip W. Harvey.
Em
2004 e 2005, dois estudos conduzidos pelo Dr. Philippa Darbre e publicados na
Revista de Toxicologia Aplicada e na Revista de Química Inorgânica,
respectivamente, exibiram uma conexão direta entre a aplicação de alumínio e
mutações de DNA não verificadas – um pré-requisito para o crescimento do tumor.
Um estudo subsequente em 2007 sugeriu que os antitranspirantes contribuíram
para a carga de alumínio no corpo, o que discutimos acima.
Esses
estudos foram todos rapidamente refutados por outros pesquisadores, mas não
muito bem. O epidemiologisto da Sociedade Americana do Câncer, Michael
Thun, argumentou em 2008 que “os estudos não
demonstraram qualquer ligação direta entre parabenos e quaisquer problemas
de saúde, incluindo o câncer de mama. O que se descobriu é que existem muitos
outros compostos no ambiente que também simulam o estrogênio naturalmente
produzido”. Ele continuou: “mesmo que o parabenos promova o crescimento do
tumor dependente de estrogênio, o risco do uso cosmético é ‘minúsculo’
comparado a outros promotores do tumor conhecidos”.
E
novamente, em 2009, outro estudo ligou o uso de ftalatos e sais de alumínio com
o desenvolvimento do câncer de mama, citando a habilidade dos químicos em
acumular no corpo e imitar (ou pelo menos amplificar) os efeitos do estrogênio.
No geral, tentativas de recriar as descobertas de Darbre retornaram resultados
mistos, levando o estado atual de circunstâncias ambíguas à segurança desses
produtos.
Então,
como no caso dos cigarros
eletrônicos, o veredito ainda pesa
favoravelmente a favor da segurança. Se você está preocupado que seu
antitranspirante incitará o crescimento de um tumor cancerígeno em algum ponto
futuro, não tome a atitude drástica; em vez disso, mude para um desodorante. O
pessoal da firma que pega o mesmo elevador agradece. [CBS News 1, 2 - Statista - NCI - WebMD 1 - Wiki - ACS - KOMO News]
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