Um acordo fechado recentemente vai disponibilizar para mulheres dos 69 países mais pobres do mundo injeções de anticoncepcionais que custam apenas US$ 1 (cerca de R$ 2,57).
O dispositivo é chamado de injeção mas não se encaixa totalmente nesta categoria. Possui uma pequena agulha, e não a tradicional seringa, e é de fácil aplicação.
O acordo para disponibilizar este método contraceptivo em tantos países foi fechado pela Fundação Gates (do fundador da Microsoft, Bill Gates), a companhia farmacêutica Pfizer e a Fundação Para Investimento na Infância.
O dispositivo já foi usado para combater a hepatite B na Indonésia. E Burkina Faso foi o primeiro país a usar a injeção como método anticoncepcional.
Praticidade.
O novo anticoncepcional foi batizado de Sayana Press e uma das pacientes a provar o dispositivo em Burkina Faso foi Soré Neimatou, de 20 anos, em uma clínica da capital, Ouagadougou.
"Tenho um namorado, mas não quero engravidar. Primeiro, quero casar", disse.
Neimatou nunca tinha usado anticoncepcionais antes e, ao ser apresentada com várias opções, acabou escolhendo este novo método.
Uma das vantagens do dispositivo é que ele já vem pronto para ser usado e não precisa ser preparado em uma seringa.
O remédio pode ser injetado de forma simples, basta apertar uma válvula. Com uma dose, uma jovem como Neimatou ficará protegida durante três meses.
O anticoncepcional usa um dispositivo de aplicação chamado Uniject e, por isso, não há risco de uma dose mal aplicada. Como não é possível usar mais de uma vez, também não há o risco de infecção ao compartilhar agulhas.
A simplicidade do dispositivo também é um aliado para enfermeiras e profissionais de saúde, pois o treinamento para a aplicação em pacientes é mais rápido.
Kadidia Diallo, uma das parteiras que lida diretamente com jovens como Neimatou, afirma que o Sayana têm mais chances de ser aceito por adolescentes de zonas rurais.
"Normalmente, com a seringa teríamos que aplicar na nádega, ou no alto da perna, mas com este, você aplica no braço", disse.
"Isto é uma vantagem para mulheres que vivem no interior. Muitas mulheres não vêm para tomar injeções se tiverem que levantar os vestidos, mas este (método) é mais discreto", acrescentou.
Testes.
Nos primeiros testes as mulheres participantes relataram menos dor no local onde o anticoncepcional foi aplicado, em comparação com as injeções tradicionais.
Rahimata Tiendrébéogo, de 18 anos, usou o Sayana. Ela quer ir para a universidade para estudar inglês e conta que já viu muitas de suas amigas ficarem grávidas, principalmente as mais pobres.
"Não é bom para as mulheres terem bebês tão jovens, pois elas são estudantes... elas não têm recursos para criar uma criança. Sou independente e quero ser uma mulher responsável", disse.
A falta de anticoncepcionais em países da África Subsaariana ainda é um grande problema.
Quase um quarto das mulheres em idade fértil em Burkina Faso afirmam que gostariam de fazer um planejamento familiar e engravidar apenas quando quiserem. Em média, as mulheres do país têm seis filhos.
Apesar de a proporção de mulheres usando anticoncepcionais na África ter dobrado nas últimas duas décadas, atingindo 26% da população, é muito mais difícil para as mulheres mais pobres, sem escolaridade ou que vivem em regiões rurais conseguir acesso a estes métodos.
A OMS estima que 222 milhões de mulheres em países em desenvolvimento gostariam de adiar ou evitar uma gravidez mas, atualmente, não usam nenhum método anticoncepcional.
Antinconcepcionais injetáveis são populares entre mulheres de países em desenvolvimento, onde o risco de morte devido a uma gravidez é de quase um em cada 15 casos.
Próximos países.
Os próximos países que devem começar a usar o Sayana serão Níger, Senegal e Uganda.
O lançamento do anticoncepcional ocorre depois de muitos anos de trabalho na Path, a organização responsável pelo projeto do dispositivo, e do investimento de doadores internacionais.
"Burkina Faso foi um de quatro países identificados para esta introdução (do Sayana), este programa piloto inicial", disse Sara Tifft, porta-voz da Path.
Justine Greening, secretária de Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha, que apoia o projeto, afirmou que o "acesso a métodos de planejamento familiar modernos, seguros e confiáveis é vital".
"Sem a possibilidade de escolher por ela mesma quando ter filhos e quantos deve ter, a mulher perde a oportunidade de participar de maneira completa na sociedade", afirmou.
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