FONTE: Fátima Protti - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Fátima Protti explica que a atração sexual se dá mais pela pessoa do que pelo gênero e que a bissexualidade nem sempre é uma transição para a hétero ou a homossexualidade.
"Namoro há três com um rapaz que
conheci na academia. Nossa relação vai bem e até já fazemos planos de nos
casar. No entanto, me preocupo com o fato de ele não saber que já tive
relacionamento com mulheres. Sou bissexual e não tenho vergonha da minha
orientação sexual, mas tenho medo do meu namorado não aceitar. Ele é de família
religiosa e é careta em relação à diversidade sexual. Ainda sinto desejo por
mulheres, mas não penso em trair. Não quero mentir para ele, mas também não
quero estragar uma relação que vai bem. O que eu faço? Conto ou não
conto?"
Entendo
que não é fácil numa sociedade como a nossa, com tantos preconceitos, revelar
para o namorado que é bissexual. Já é difícil para muitas pessoas entender a
orientação gay, imaginar que alguém pode ter atração e amar pessoas de ambos os
sexos é ainda mais complicado.
Temos
muito a aprender sobre a sexualidade, e muito mais nesse assunto. A verdade é
que nos atraímos e desenvolvemos um amor mais pela pessoa e menos pelo gênero.
Ainda
existe a crença de que ser bissexual é uma transição para ser gay ou hétero,
não necessariamente. Que são pessoas promíscuas, indecisas, não monogâmicas e
por isso traem o tempo todo. Sabemos que nada disso tem a ver com a orientação
sexual, mas com a pessoa em particular.
Outro
problema é a intolerância de muitas religiões e a tentativa de interferência
sobre a nossa sexualidade ainda nos dias de hoje. Um pequeno embrião de
reflexão sobre a homossexualidade e relacionamento homoafetivo teve inicio no
ano passado pela Igreja Católica, mas levará um bom tempo para que a sociedade
entenda as várias formas de expressão da sexualidade.
No que
diz respeito a sua dúvida, cara leitora, entendo o seu receio de uma provável
rejeição do namorado, mas o problema de se guardar um segredo é que sempre
haverá um sinal de fumaça entre vocês.
Afinal,
não estamos falando de esconder cartas de ex-namorados. É parte da sua
identidade que se expressa, ainda sente desejo por mulheres, mesmo não tendo
vontade de traí-lo.
O maior
equívoco é acreditar que pode controlar os sentimentos e os desejos o tempo
todo. A verdade é que se em algum momento a vontade de viver novas emoções
aparecer, o controle pode falhar. Se isso acontecer provavelmente seu namorado
se sentirá enganado e as consequências são piores.
Não
deixe essa história caminhar sem a verdade. Dê a ele a chance de decidir com
quem deseja estruturar sua vida. Se ele optar em continuar a relação precisará
aprender a lidar com essa novidade.
Sinta o
melhor momento dos dois para uma conversa. Seja clara e esteja preparada para
as várias perguntas que ele com certeza fará. Com relação à questão religiosa,
o próprio catolicismo já começou a discutir a diversidade e esse é um ponto
positivo durante a conversa, caso ele questione algo nesse sentido.
Você
demonstra estar bem segura com sua orientação e já passou da fase de se
esconder, mostre quem realmente é. Se ele não aceitá-la, com certeza não é a
pessoa certa para você.
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