Novos testes de uma
vacina contra a malária produziu resultados animadores chegando à fase final de
testes - a primeira a atingir este estágio -, mas também produziu demonstrações
de desapontamento com o grau de efetividade aquém do ideal.
Nos experimentos, a
droga RTS,S/AS01 ofereceu proteção parcial a um grupo de 16 mil crianças de
sete países africanos. Mas não foi efetiva em bebês de até três meses de idade,
afirmaram os autores do estudo na revista científica britânica "The
Lancet".
A malária mata mais
de 500 mil crianças no mundo, o equivalente a uma a cada minuto. No Brasil,
segundo a OMS, o número de casos de malária tem diminuído, tendo sido
registrados, em 2014, 178 mil casos, que levaram a 41 mortes.
Apesar do desempenho
limitado, os cientistas salientaram que a droga é a vacina em estágio clínico
mais avançado disponível.
"O
desenvolvimento desta vacina continua sendo importante", disse o
coordenador do grupo de trabalho sobre malária da organização Médicos Sem
Fronteiras, Martin de Smet. "Posso ver o uso dessa vacina especialmente
nos países onde a malária é um mal permanente, onde as crianças têm em média
cinco, seis, sete episódios de malária por ano.
Assim, mesmo que
vacina ofereça, digamos, 30% de proteção, se você traduzir isto em número de
crianças salvas e em número de episódios de malária evitados, claro que (a
vacina) é uma contribuição significativa para o controle da malária",
afirmou o especialista.
Mas ele afirmou que
os resultados são "desapontadores". "Tínhamos muita expectativa
em relação a essa vacina e o nível de proteção que ela proveria. Está sem
dúvida abaixo do que esperávamos."
Proteção parcial.
Quase 9.000 crianças
entre 5 e 17 meses de idade e 6.500 bebês entre 6 e 12 semanas receberam a
vacina em sete países africanos (Burkina Faso, Gabão, Gana, Quênia, Malauí,
Moçambique e Tanzânia) entre março de 2009 e janeiro de 2011. Elas foram
acompanhadas até o início de 2014.
Segundo os dados
publicados na "Lancet", a droga protegeu um terço das crianças
vacinadas no experimento.
Após receber três
doses da droga, os níveis de efetividade em crianças mais velhas chegaram a
46%. Mas os efeitos em bebês foram menos significativos, afirmaram os
cientistas.
Pesquisadores buscam
uma vacina contra a malária, transmitida pela picada do mosquito, há 20 anos.
Atualmente não existe nenhuma vacina aprovada contra a doença.
O autor do estudo,
Brian Greenwood, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres,
reconheceu que dificilmente os níveis de efetividade da vacina contra a malária
se compararão aos da droga para prevenir o sarampo, que chegam a 97%.
O parasita da malária
tem um ciclo de vida complexo e ao longo dos séculos aprendeu a resistir ao
sistema imunológico humano.
A agência europeia de
medicina vai revisar os dados e, se for aprovada, a vacina poderia receber
autorização para produção comercial. A Organização Mundial da Saúde pode
recomentar seu uso em outubro.
Ceticismo.
Alguns cientistas
receberam o resultado dos testes com reserva. Para o professor Adrian Hill, da
Universidade de Oxford, a droga é um "marco", mas deixa muitas
questões em aberto.
"Pelo fato de a
vacina ter um efeito tão curto, o reforço é importante, mas não tem a mesma
efetividade das primeiras doses", afirmou. "Mais preocupante é o
indício de um repique na propensão a malária: após 20 meses, as crianças
vacinadas que não receberam o reforço tiveram um aumento no risco de contrair
malária grave nos 27 meses seguintes, comparadas com as crianças não
vacinadas."
Outros especialistas
pediram que o custeio da vacina não implique reduções de investimento em
medidas preventivas, como a distribuição de redes antimosquito.
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