FONTE: Guilherme Balza, do UOL Notícias, em São Paulo.
Após dois anos de incidência moderada do vírus da dengue, o Brasil volta a ver a quantidade de casos da doença alcançar patamares elevados e o número de mortes crescer a cada dia. A situação é mais grave nos Estados do Centro-Oeste, no Distrito Federal, além de Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo (principalmente na Baixada Santista e em Ribeirão Preto). Na Bahia, o surto não é de dengue, e sim de meningite, que já infectou 20 pessoas e causou seis mortes neste ano.
Além da meningite e da dengue, outras doenças tropicais como a malária, a leishmaniose e a esquistossomose ainda provocam centenas de mortes por ano e fazem milhares de vítimas, sobretudo entre a população carente. Para o médico e sanitarista Almério de Castro Gomes, doutor em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo) e professor titular da mesma universidade, o país não investe na vigilância e atua a reboque dos surtos e epidemias.
“A prioridade não pode ser a atuação emergencial, esperar acontecer para correr atrás. O enfrentamento a essas doenças requer um tipo de programa com continuidade, com vigilância permanente. Enquanto não houver uma mudança no paradigma, tratar-se a causa, não a doença, essas epidemias serão recorrentes”, afirma.
DENGUE.Somente entre o início do ano e a primeira quinzena de fevereiro deste ano, a dengue matou 14 pessoas e infectou quase 42 mil nos três Estados do Centro-Oeste e no Distrito Federal. Outras 20 mortes nesses Estados estão sob investigação. Em apenas seis semanas de 2010, o número de casos de dengue confirmados representa cerca de 30% de todos os casos registrados em 2009 (125.722) e 65% dos contabilizados em 2008 (65.610).
No Estado de São Paulo, a Baixada Santista viu os casos de dengue saltarem de 33 no final de janeiro para 611 no último dia 23. Só no Guarujá há 312 casos de dengue confirmados neste ano e outros 660 aguardando a confirmação. Em todo o ano passado, foram registrados 81 casos na cidade. Até o momento foram confirmadas na baixada três mortes por dengue - duas no Guarujá e uma em Santos. Já em Ribeirão Preto (SP), o total de casos de dengue nesse ano (1.688) já supera os do ano passado inteiro (1.674).
Na região Sul do país, foram confirmados 530 casos no Paraná nesse início de ano, contra 893 em 2009, e o primeiro registro de morte por dengue hemorrágica, em Londrina. Já no Rio Grande do Sul, o Hospital de Caridade da cidade de Ijuí (400 km de Porto Alegre) registrou nessa quinta-feira (25) o primeiro caso de dengue hemorrágica no Estado em três anos. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, sete casos da doença foram confirmados e outros 184 estão sob suspeita.
“A dengue é uma doença difícil de combater, que não se enfrenta na base do imediatismo. São necessárias ações continuas, porque se for interrompido o combate por dois ou três meses, por exemplo, todo o trabalho anterior se perde. Isso desanima os gestores públicos”, diz o sanitarista.
MENINGITE.O Ministério da Saúde não tem um número consolidado de casos de meningite no Brasil nestas primeiras semanas de 2010, mas a quantidade de casos e mortes na Bahia já é considerável. Até o dia 9 de fevereiro, a Secretaria da Saúde da Bahia confirmou 20 casos da doença, com cinco mortes. Em 2009, foram 194 casos, com 20 óbitos.
A quantidade de casos e óbitos por meningite vem sofrendo uma sensível redução na última década, mas o número de vítimas ainda é elevado. Em 2000, foram 5.019 casos, com 941 mortes. Já em 2008, o Ministério da Saúde contabilizou 2.555 casos, com 500 óbitos.
“A meningite aparece anualmente, de forma sazonal. Essa doença requer um estudo longitudinal para ser melhor compreendida. A academia produz trabalhos belíssimos sobre essa patologia, mas eles não são aplicados pelo poder público”, diz Almério de Castro Gomes.
OUTRAS DOENÇAS.Se os casos de meningite diminuíram, os de esquistossomose cresceram entre 1995 e 2007 – período em que o Ministério da Saúde contabilizou os dados. Em 1995 eram 9.995 casos, número que saltou para 112.334 dois anos depois. De 1997 a 2007, o número de casos nunca esteve abaixo dos 76 mil. No mesmo período, ocorreram, em média, 500 mortes por ano.
Depois da esquistossomose e da dengue, as doenças tropicais que mais matam no Brasil são a leishmaniose e a malária. Entre 2000 e 2008 ocorreram, em média, 3.000 casos de leishmaniose por ano, com cerca de 200 óbitos em cada ano. O Nordeste concentra a maioria de vítimas. Já a malária, que atinge os Estados da Amazônia, registrou 314 mil casos em 2008, com 67 óbitos.
Para Castro Gomes, o poder público nas esferas municipal, estadual e federal é responsável pelo alto número de vítimas e falha ao se distanciar das pesquisas acadêmicas. “O poder público procura a academia para resolver determinados problemas, mas não há uma política de integração. Temos muitos pesquisadores ótimos que não são aproveitados”, diz.
De acordo com ele, a figura do sanitarista, do profissional da saúde pública coletiva, perdeu força a partir do final da década de 70. “Hoje não se dispõe desse sanitarista, que seria o médico da comunidade. A medicina tradicional vê o pessoal, o individual. Para a saúde pública o paciente é a comunidade toda”, afirma.
Ainda segundo Castro Gomes, o Estado deveria incentivar a comunidade a compreender seu papel diante de surtos e epidemias, como a do vírus da dengue. “O ambiente somos nós, as pessoas, as relações. O ambiente não é estático, é dinâmico. O indivíduo interfere no ambiente e precisa se colocar como parte do ambiente para refletir e agir”, afirma.
Após dois anos de incidência moderada do vírus da dengue, o Brasil volta a ver a quantidade de casos da doença alcançar patamares elevados e o número de mortes crescer a cada dia. A situação é mais grave nos Estados do Centro-Oeste, no Distrito Federal, além de Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo (principalmente na Baixada Santista e em Ribeirão Preto). Na Bahia, o surto não é de dengue, e sim de meningite, que já infectou 20 pessoas e causou seis mortes neste ano.
Além da meningite e da dengue, outras doenças tropicais como a malária, a leishmaniose e a esquistossomose ainda provocam centenas de mortes por ano e fazem milhares de vítimas, sobretudo entre a população carente. Para o médico e sanitarista Almério de Castro Gomes, doutor em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo) e professor titular da mesma universidade, o país não investe na vigilância e atua a reboque dos surtos e epidemias.
“A prioridade não pode ser a atuação emergencial, esperar acontecer para correr atrás. O enfrentamento a essas doenças requer um tipo de programa com continuidade, com vigilância permanente. Enquanto não houver uma mudança no paradigma, tratar-se a causa, não a doença, essas epidemias serão recorrentes”, afirma.
DENGUE.Somente entre o início do ano e a primeira quinzena de fevereiro deste ano, a dengue matou 14 pessoas e infectou quase 42 mil nos três Estados do Centro-Oeste e no Distrito Federal. Outras 20 mortes nesses Estados estão sob investigação. Em apenas seis semanas de 2010, o número de casos de dengue confirmados representa cerca de 30% de todos os casos registrados em 2009 (125.722) e 65% dos contabilizados em 2008 (65.610).
No Estado de São Paulo, a Baixada Santista viu os casos de dengue saltarem de 33 no final de janeiro para 611 no último dia 23. Só no Guarujá há 312 casos de dengue confirmados neste ano e outros 660 aguardando a confirmação. Em todo o ano passado, foram registrados 81 casos na cidade. Até o momento foram confirmadas na baixada três mortes por dengue - duas no Guarujá e uma em Santos. Já em Ribeirão Preto (SP), o total de casos de dengue nesse ano (1.688) já supera os do ano passado inteiro (1.674).
Na região Sul do país, foram confirmados 530 casos no Paraná nesse início de ano, contra 893 em 2009, e o primeiro registro de morte por dengue hemorrágica, em Londrina. Já no Rio Grande do Sul, o Hospital de Caridade da cidade de Ijuí (400 km de Porto Alegre) registrou nessa quinta-feira (25) o primeiro caso de dengue hemorrágica no Estado em três anos. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, sete casos da doença foram confirmados e outros 184 estão sob suspeita.
“A dengue é uma doença difícil de combater, que não se enfrenta na base do imediatismo. São necessárias ações continuas, porque se for interrompido o combate por dois ou três meses, por exemplo, todo o trabalho anterior se perde. Isso desanima os gestores públicos”, diz o sanitarista.
MENINGITE.O Ministério da Saúde não tem um número consolidado de casos de meningite no Brasil nestas primeiras semanas de 2010, mas a quantidade de casos e mortes na Bahia já é considerável. Até o dia 9 de fevereiro, a Secretaria da Saúde da Bahia confirmou 20 casos da doença, com cinco mortes. Em 2009, foram 194 casos, com 20 óbitos.
A quantidade de casos e óbitos por meningite vem sofrendo uma sensível redução na última década, mas o número de vítimas ainda é elevado. Em 2000, foram 5.019 casos, com 941 mortes. Já em 2008, o Ministério da Saúde contabilizou 2.555 casos, com 500 óbitos.
“A meningite aparece anualmente, de forma sazonal. Essa doença requer um estudo longitudinal para ser melhor compreendida. A academia produz trabalhos belíssimos sobre essa patologia, mas eles não são aplicados pelo poder público”, diz Almério de Castro Gomes.
OUTRAS DOENÇAS.Se os casos de meningite diminuíram, os de esquistossomose cresceram entre 1995 e 2007 – período em que o Ministério da Saúde contabilizou os dados. Em 1995 eram 9.995 casos, número que saltou para 112.334 dois anos depois. De 1997 a 2007, o número de casos nunca esteve abaixo dos 76 mil. No mesmo período, ocorreram, em média, 500 mortes por ano.
Depois da esquistossomose e da dengue, as doenças tropicais que mais matam no Brasil são a leishmaniose e a malária. Entre 2000 e 2008 ocorreram, em média, 3.000 casos de leishmaniose por ano, com cerca de 200 óbitos em cada ano. O Nordeste concentra a maioria de vítimas. Já a malária, que atinge os Estados da Amazônia, registrou 314 mil casos em 2008, com 67 óbitos.
Para Castro Gomes, o poder público nas esferas municipal, estadual e federal é responsável pelo alto número de vítimas e falha ao se distanciar das pesquisas acadêmicas. “O poder público procura a academia para resolver determinados problemas, mas não há uma política de integração. Temos muitos pesquisadores ótimos que não são aproveitados”, diz.
De acordo com ele, a figura do sanitarista, do profissional da saúde pública coletiva, perdeu força a partir do final da década de 70. “Hoje não se dispõe desse sanitarista, que seria o médico da comunidade. A medicina tradicional vê o pessoal, o individual. Para a saúde pública o paciente é a comunidade toda”, afirma.
Ainda segundo Castro Gomes, o Estado deveria incentivar a comunidade a compreender seu papel diante de surtos e epidemias, como a do vírus da dengue. “O ambiente somos nós, as pessoas, as relações. O ambiente não é estático, é dinâmico. O indivíduo interfere no ambiente e precisa se colocar como parte do ambiente para refletir e agir”, afirma.
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