sábado, 27 de fevereiro de 2010

A SUDIC E A CESTA...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

O secretário estadual da Indústria e do Comércio, James Correia, revelou ontem apurações na Sudic e Ibametro por parte do Ministério Público e Polícia Federal.
São denúncias de irregularidades na distribuição de terrenos a possíveis apaniguados de ex-dirigentes da primeira autarquia em um piscar de olhos. A marmelada é atribuída a gestões passadas. Louvo a sinceridade com que Correia coloca tão delicada questão, embora pessoalmente acredito que o auxiliar do governador Jaques Wagner esteja equivocado ou, no mínimo, desinformado sobre a situação da Ebal, a administradora da Cesta do Povo. Para ele, a empresa vive momento incomparável.
Nem mesmo Alice no País das Maravilhas estaria vivendo uma fase de tamanha felicidade, com lucros e rentabilidade fabulosos. Não sei, mas desconfio que alguém deveria segredar ao secretário que a rede de supermercado do governo baiano (pode um negócio desse?) tinha, em 2007, de acordo com a Secretaria da Fazenda e a CPI da Ebal instalada pela Assembléia Legislativa, um rombo de R$ 620 milhões.
Hoje o desvio pode chegar a R$ 1 bilhão. Ou mais. Havia na Cesta um antro, uma quadrilha que agia despreocupadamente, certa da impunidade. O pior é que tais elementos estavam corretíssimos. Ninguém foi incomodado ou processado por “brincar” descarada e deslavadamente com o dinheiro do contribuinte. O erário foi lesado e ficou por isso mesmo. Não se trata de simples roubo, mas de uma combinação entre bandidos e conveniências políticas. Está na cara que foi e é isso. Vou citar um trecho da CPI que é para lá de compreensível. E veja se não era meter a mão literalmente no bolso alheio.
Diz o relatório da CPI à página 104: “As construtoras, enquanto pessoas jurídicas, e seus representantes e sócios, enquanto pessoas físicas, realizavam transferências nas contas de funcionários da Ebal e de alguns diretores, em valores fracionados, caracterizando o beneficiamento dos diretores da Ebal, visto a quebra do sigilo bancário ter indicado inúmeros depósitos injustificados nas contas de Osmar Britto (ex-presidente da Ebal) Leôncio Cardoso Neto, Geraldo Oliveira, Josemário Galvão e Antônio Mário Bastos (diretores da estatal) das construtores investigadas”.
Bem, se o secretário James Correia acha pouco, não custa uma olhada mais atenta nos documentos da Sefaz e da CPI. Só espero que, com isso, ele não se contamine com o vírus do silêncio e da leniência que fisgaram ao que parece aos auditores da Sefaz, o secretário Carlos Martins, o Ministério Público e alguns deputados. Não quero radicalizar, mas se persistir essa espécie de espírito de corpo, seria capaz de, num próximo comentário, levantar suspeita de que estamos rodeados de canalhas; que há uma bem montada gangue composta de perigosos elementos que agiam ontem e porventura podem estar agindo hoje e que se servem no mesmo prato e bebem no mesmo copo. Por enquanto não vou dizer nada disso.

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