sábado, 27 de fevereiro de 2010

INGÁ PRESEGUE IMBUÍ...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).

Seria absolutamente inacreditável se fosse apenas contado e não estivesse acontecendo mesmo a conduta do Ingá – um órgão da administração estadual – em relação à canalização e urbanização do Rio das Pedras, no populoso bairro do Imbuí, em Salvador, a cargo da prefeitura com recursos repassados pelo governo federal por intermédio do Ministério da Integração Nacional, cujo ministro é Geddel Vieira Lima, candidato do PMDB à sucessão do governador Jaques Wagner.Para ser franco e verdadeiro, o Rio das Pedras (ou Rio Cascão, nome antigo) nada mais é do que um esgoto a céu aberto.
E, como esgoto, empesteando o bairro com os produtos habituais dos esgotos – ratos, baratas, cobras, enxames de muriçocas, fedor – este insuportável em certas áreas, a exemplo das proximidades do shopping-center Caboatã. Tenho um razoável conhecimento dessas coisas como um dos 80 mil a 100 mil moradores do bairro.
Pois então a prefeitura, com a ajuda do Ministério da Integração Nacional, resolve executar obras que envolvem desde as bacias de captação próximas ao Condomínio Amazonas, no lado oposto da Avenida Paralela, até o canal, paralelo à Avenida Jorge Amado, que corta o bairro do Imbuí. Decidiu a prefeitura fazer o que é normal fazer com esgotos – canalizar, impedindo que aquelas pragas já mencionadas continuem ativas. O Imbuí é, historicamente, um dos focos do aedes aegypti, que transmite dengue e pode transmitir febre amarela.
Mas a prefeitura resolveu, no seu projeto, ir mais adiante. Além de transformar o esgoto a céu aberto em um esgoto devidamente acondicionado, incapaz de espalhar seus venenos para as adjacências, planejou transformar o espaço conquistado à sujeira numa área urbanizada, agradável, apropriada para o bairro cuja característica principal é ser vertical e ter escassez de áreas urbanizadas de uso público. Assim, realiza a principal obra municipal na capital no momento.Então apareceu o Ingá, supostamente preocupado com duas ou três sucuris e meia dúzia (não estou minimizando, quis dizer meia dúzia mesmo) de piabas sobreviventes da sujeira.
Nem sucuris nem piabas são animais em extinção, diga-se de passagem, como não muito de passagem é preciso dizer que essa preocupação com bichos é competência de outro órgão estadual, não do Ingá.Pois o Ingá ficou todo preocupado com a hipótese da canalização e da cobertura do rio com placas de concreto tirarem das duas ou três sucuris (se ainda existem), da meia dúzia de piabas e, suspeito, dos milhares de ratos e baratas e milhões de larvas de mosquitos o oxigênio de que precisam. É improvável que o presidente do Ingá, que é candidato a deputado federal, espere eleger-se com os votos desses bichos, mas a ação insana (insana porque contrária à sanidade ambiental visada pela obra da prefeitura) permite visibilidade a esse candidato e ao órgão que dirige. Propaganda, a alma do négócio. Porque, se não for esta a razão da resistência, a outra seria ainda pior.
Ora, se o Ingá queria o Rio das Pedras a céu aberto, por que não intimou a Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) a promover tal saneamento, trabalho que a gente sabe muito bem que nunca será feito.

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