domingo, 22 de agosto de 2010

CONTAGEM REGRESSIVA: FALTAM 7 DIAS PARA A IMPLOSÃO DA FONTE NOVA...

FONTE: Felipe Campos (felipe.campos@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.
Vizinhos do Estádio acreditam na valorização de bairros e imóveis.

Dos tempos áureos, quando a imensa arena de entretenimento orgulhava os moradores dos arborizados bairros que circundam o espaço, o Estádio Otávio Mangabeira, conhecida Fonte Nova, será demolido no próximo domingo. Referência de uma antiga Salvador, ele era também símbolo do prestígio da região. Nazaré, Galés, Jardim Baiano, Tororó...
Tradicionais bairros que padecem junto com o espaço. Hoje fazem parte da imagem pedintes, mendigos e o tráfico.

Da atual decadência nasce o sonho de que a demolição leve consigo a atual visão triste e envelhecida. Surge a esperança de uma velha guarda que ainda resiste nos espaçosos apartamentos do Jardim Baiano, ou nos antigos casarões de Nazaré, recordando com nostalgia de quando eram vizinhos de uma joia. “Isso aqui era bom demais. Principalmente em dia de jogo”. O saudoso depoimento é do aposentado José Oliveira Cruz, o seu Juca, 86 anos, que mora em um grande apartamento no Jardim Baiano.
Ele está no local há mais de 35 anos, com a esposa, Maria Amélia da Silva Cruz, 85 anos. Juntos, criaram seus filhos na arborizada praça em frente ao edifício que moram. “A gente cansava de ficar conversando aí do lado de fora. Hoje isso aí serve como ponto de drogas. O pessoal vem aqui pra usar, vender...”, lamenta Maria Amélia. Apesar de reconhecer que o bairro já não vive os seus melhores dias, eles afirmam o interesse em permanecer: “Não tenho nenhuma pretensão de sair. Só esta vista já vale”, confessa, orgulhoso, enquanto mostra a varanda com vista para o Dique do Tororó.
Se o Jardim Baiano já perdeu um pouco de seu requinte, a poucos metros dali, na Ladeira da Fonte das Pedras, a coisa é bem pior. A poluição visual de publicidades e pichações compõe a paisagem junto com o entulho e o lixo. Vizinho do estádio, morando de frente a uma das entradas principais, o aposentado Edson Queiroz, 71 anos, e sua esposa, Alice Bisseti, 65 anos, afinam o discurso da maioria dos moradores que desejam permanecer no bairro. “Moro há mais de 39 anos.
Não saio daqui para nada. Quem tiver interessado em comprar imóvel por causa do novo estádio é melhor nem bater aqui em casa”, avisa dona Alice, que pela proximidade de sua residência terá seu imóvel incrivelmente valorizado nos próximos anos.
VALORIZAÇÃO.
Está aí um dos motivos para a esperança dos moradores no ressurgimento do estádio. Lotado de antigos casarões e outros casebres em mal estado de conservação, o entorno da nova arena, desde o começo do Dique do Tororó até a Ladeirados Galés, deverá se modificar nos próximos anos devido à especulação imobiliária.
“Já existe uma procura grande. O interesse de grupos estrangeiros já faz parte do mercado”, conta José Azevedo Filho, diretor de Habitações da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). No entanto, ele lembra que a atual legislação da cidade limita edificações mais verticalizadas na região. “Outro problema é a questão do direito de posse. Muito moradores estão em construções irregulares”.
ESPERANÇA.
Alegria para o público cativo dos bairros, esperança para os humildes que moram em casebres de excelente localização. Com ou sem direito de posse, a artesã Sandra Barbosa, 46 anos, moradora da Ladeira Cova da Onça, se anima por ter uma as melhores vistas da invasão. “Lá de casa dá pra ver o estádio todinho. É uma beleza, porque é a única da ladeira que tem laje”.
O acesso ao local se dá por debaixo do viaduto do metrô. Sandra, que vende molduras e pequenos afrescos no Mercado Modelo, sabe quem é o seu investidor alvo. “Eu acredito que quando estiver pronto vão chegar gringos querendo montar uma pousada”. Ela está aberta a negociações,“mas só em dólar, viu?”avisa, com o dedo na cara do repórter.
Outro empolgado, Epifâncio Moreira, o Fifi, é um conhecido eletricista de carros. Sua oficina fica em frente ao Dique.“Tenho planos de vender e descansar. Já trabalhei demais aqui”, diz Fifi, há 40 anos no local. “Sou do tempo que passava bonde pela porta de minha oficina”, exagera.

PROJETO PENSOU NA LOCALIZAÇÃO.
Os dois arquitetos responsáveis pelo projeto da nova arena estiveram em Salvador na última sexta-feira para uma palestra sobre Arquitetura de Estádios Sustentáveis, na Feira Internacional da Construção, no Centro de Convenções. O paulista Marc Duwe e o alemão Claas Schulitz comentaram sobre o impacto da obra para as localidades em torno da estrutura. “Um estádio sustentável significa também questões econômicas e sociais”, lembrou Duwe.
Para Schulitz, a ideia inicial de alguns urbanistas em levar o projeto para a Paralela seria um grande erro, por não aproveitar a excelente localização da Fonte Nova. “É importante para o centro da cidade e mais conveniente para a população”, explicou. Ele também enalteceu o provável aquecimento do comércio. “Todo o comércio daquele centro antigo, direta ou indiretamente, terá seu fluxo capital aumentado”.
Eles também afirmaram que o projeto buscou respeitar a história da Fonte Nova e o seu contexto urbano - o que justifica a manutenção do formato ferradura com vista para o Dique. Também indicaram a intenção de realizar treinamentos para utilizar mão de obra local, o que auxiliaria na recuperação de toda a região.

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