sexta-feira, 24 de setembro de 2010

COSMÉTICOS E ITENS DE HIGIENE OCULTAM INGREDIENTES QUE PODEM PREJUDICAR A SAÚDE (PARTE UM)...

FONTE: IARA BIDERMAN, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).

Em uma típica rotina de higiene e beleza, você talvez comece o dia esfregando lauril sufato de sódio em toda a pele e no couro cabeludo.

Depois, pode espalhar diazolidinyl urea no rosto, parabeno no corpo e passar sal de alumínio nas axilas. Certos dias, talvez inclua camadas de formaldeído nas unhas e de peróxido de hidrogênio e amônia nos cabelos.
Você pode não ter a menor ideia do que sejam essas substâncias, mas elas estão na maior parte dos cosméticos --sabonete, xampu, hidratante, desodorante, esmalte e tintura para cabelos.
E daí? São substâncias proibidas? Não, mas podem significar riscos à saúde. Segundo associações de consumidores, fabricantes de cosméticos, mesmo sabendo disso, continuam usando esses ingredientes e não divulgam os problemas relacionados a essas substâncias.
Terrorismo verde? Bem, o vídeo "The Story of Cosmetics" (www.storyofcosmetics.org), que aponta os potenciais perigos de componentes encontrados na maioria dos cosméticos, pode deixar muita gente aterrorizada.
No vídeo, câncer, distúrbios neurológicos e infertilidade são associados a xampus, cremes, desodorantes e até itens para bebê. O intuito é alertar sobre o perigo oculto nas fórmulas e pressionar as autoridades para aumentar o controle sobre os produtos de beleza e higiene, proibindo os mais tóxicos.
Mas ninguém controla o que vai no creminho que você passa ao redor dos olhos ou no talquinho do bebê?
Mais ou menos, dizem os militantes dos cosméticos "limpos". Como boa parte dos testes de segurança é fornecida pelos próprios fabricantes, resta uma enorme margem de dúvida sobre os resultados apresentados.
No Brasil, o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, é a Anvisa que regulamenta esses produtos.
QUESTÃO DE DOSE.
A agência divide os cosméticos em dois grupos. O grau 1 inclui os considerados mais simples na formulação e nos efeitos prometidos, como condicionadores, xampus, sabonetes. Esses não são submetidos à análise. Basta uma notificação da empresa.
Os produtos grau 2 (alisantes, antitranspirantes, tintura de cabelo) precisam de registro e passam por análise técnica. Os fabricantes têm de apresentar documentos para comprovar que as substâncias estão dentro dos limites considerados seguros.
Aí que a coisa pega entre os militantes dos cosméticos limpos e a indústria. Respaldados pela lei, fabricantes dizem que, embora alguns itens sejam tóxicos, as doses usadas não oferecem riscos.
Afinal, homeopatas (mais afinados com o povo "limpo" do que com a indústria química) são os primeiros a dizer que a diferença entre veneno e remédio está na dose.
O time que luta por cosméticos mais seguros admite que a química de cada produto, individualmente, não faz mal. Acontece que ninguém usa um só. Calcula-se que, por dia, mulheres usem dez e homens, seis produtos.
Dia após dia, ano após ano, pequenas quantidades de produtos tóxicos vão se acumulando no organismo.
"Em longo prazo, esses cosméticos trazem problemas", diz Edilene Costa, da Abrapan (Associação Brasileira de Produtos Artesanais, Naturais e Bem-Estar) -criada para apoiar empresas de "produtos naturais" (conceito vago e sem regulamentação clara) e conscientizar o consumidor da importância desses produtos para a saúde e o ambiente.
No site da Abrapan (www.abrapan.org.br) há uma lista de substâncias inseguras encontradas em cosméticos. É um começo.
"O consumidor deve ler os ingredientes que compõem o produto e buscar informação", diz Costa.
Não é tão simples. As letras são minúsculas nas embalagens, e há siglas indecifráveis para quem não é formado em química.
Você pode fazer uma busca no banco de dados de cosméticos seguros do EWG (grupo de trabalhos ambientais, na sigla em inglês). No site www.cosmeticdatabase.com, você digita o nome da substância para descobrir os tipos de risco que oferece e em que produtos aparece.
Superada a dificuldade de decifrar a fórmula, vem outra questão: encontrar alternativas seguras de produtos.
No Brasil, não há um regulamento oficial para cosméticos ecológicos, orgânicos ou naturais. Uma saída é procurar produtos com selos de certificadoras reconhecidas, como a Ecocert, que tem origem francesa e ramos em vários países, incluindo o Brasil, e o IBD, que trabalha com as certificadoras NSF (EUA) e a Natrue (Europa).
A outra dificuldade é se acostumar com produtos que não usam as substâncias químicas habituais.
"Na percepção do consumidor, cosmético natural não tem muita eficácia", crê Christine Itagaki, gerente da Weleda, marca suíça de cosméticos e medicamentos.
Para Clélia Angelon, presidente da Surya, marca brasileira de cosméticos orgânicos certificados, o brasileiro ainda confunde aspectos sensorais do produto -fazer espuma, ter determinado aroma- com eficiência.
"É preciso educar o consumidor. Já temos [no Brasil] várias opções de cosméticos sem substâncias tóxicas e de excelente performance", diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário