FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.
A última pesquisa do Instituto Datafolha espalhou sobre o panorama das eleições para presidente da República e para o governo do Estado da Bahia uma onda de dúvidas. A amostragem, feita com mais de 12 mil entrevistados – sendo 1.300 deles em 43 cidades baianas – teve a descortesia de trocar o certo pelo duvidoso, de introduzir a polêmica onde já havia, pela força dos fatos ou das aparências, comemorações antecipadas mal disfarçadas de um lado e conformismo quase confesso de outro.
Na disputa presidencial, o escândalo da violação do sigilo fiscal, inclusive de pessoas ligadas ao candidato oposicionista José Serra ou ao seu partido, o PSDB, somou-se a outro mais estridente, envolvendo os Correios, mas centrado na Casa Civil da Presidência da República e na ex-ministra-chefe Erenice Guerra, para a Casa Civil levada pela candidata petista e governista Dilma Rousseff.
À escandalosa e criminosa violação de sigilo fiscal de tantas pessoas – de algumas com óbvio objetivo político-eleitoral – e ao outro escândalo, realmente espantoso, de corrupção, juntou-se um terceiro escândalo, coordenado ou liderado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Este não é um crime contra as garantias individuais – mais especificamente a privacidade – asseguradas pela Constituição como uma de suas cláusulas pétreas. Nem se trata de denúncias gravíssimas de corrupção, que precisam ser investigadas a partir dos já fartos indícios e evidências existentes.
O escândalo coordenado ou liderado pelo presidente da República é mais grave – um ataque em profundidade contra a liberdade de expressão, que inexiste na civilização atual sem uma mídia livre, alvo contínuo de bombardeio desencadeado a partir dos discursos recentes do presidente.
Parece que para ele, nas proximidades das eleições e simultaneamente às denúncias de violação de sigilo fiscal e de corrupção no cerne do Poder Executivo, a tentativa de intimidar ou desmoralizar a mídia tornou-se uma obsessão. Ora, se consegue silenciar pelo medo ou desmoralizar o denunciante principal (a mídia), as denúncias perdem força.
Mas parece que a sociedade começa a reagir, embora seja muito duvidoso que o faça na velocidade e amplitude necessárias para virar o jogo eleitoral para presidente, pois as eleições estão muito próximas – faltam nove dias apenas. A diferença entre Dilma e o conjunto de seus concorrentes caiu de 12 para sete pontos percentuais. Continua improvável, embora já não pareça impossível, um segundo turno eleitoral para presidente.
Detalhe: Dilma perdeu quatro pontos na Bahia. Isso aconteceu depois que ela, quando veio filmar pata a propaganda eleitoral gratuita no Farol da Barra, deixou quase todo mundo perplexo ao definir-se pelo apoio exclusivo à candidatura do governador Wagner à reeleição, descartando explícitamente Geddel, numa atitude impressionante, já que antes de subir nos saltos altos vivia paparicando o peemedebista e achando normal os “dois palanques” na Bahia.
Quanto à sucessão estadual, Wagner continua em posição para vencer no primeiro turno, mas tem motivos para não estar eleitoralmente feliz. Em uma semana, sua vantagem sobre o conjunto dos concorrentes (o que define se haverá ou não segundo turno) caiu 11 pontos, segundo o Datafolha. Wagner passou de 53 para 48, enquanto a soma dos concorrentes subiu de 23 para 36.
Foi, não há como negar, um movimento importante. Com esses números, Wagner ainda ganharia sem precisar de segundo turno. Resta saber se o movimento ocorrido é uma tendência ou foi apenas um momento isolado na disputa do Palácio de Ondina.
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