FONTE: Especial para o UOL Notícias, Em Salvador (noticias.uol.com.br).
Uma cidade localizada no extremo-oeste da Bahia e que faz divisa com o Piauí ganhou destaque esta semana por um problema meteorológico: Santa Rita de Cássia é o município brasileiro que registra a maior estiagem em 2010, de acordo com informações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Com exceção de 1 mm registrado no dia 24 de maio, índice pluviométrico desconsiderado no levantamento, os cerca de 30 mil moradores do município convivem com a falta de chuva há 167 dias (dados atualizados até a noite de sexta-feira, 24). “Não planto nada há quase um ano, a situação é desesperadora”, disse o agricultor Adalci Batista Dias, 61 anos.
Sem colher arroz, milho, feijão e mandioca, os produtos mais cultivados na cidade, os 2.600 agricultores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Rita de Cássia fizeram uma parceria para enfrentar os problemas causados pela ausência de chuva. “Quem conseguiu estocar alguma coisa está repassando uma parte para algumas famílias em troca de pagamento no futuro. Tudo é feito na base da confiança e da solidariedade, porque ninguém tem dinheiro para nada”, disse o agricultor José Oliveira, 47 anos.
O prefeito Romualdo Rodrigues Setúbal (PT), 59 anos, afirmou que a estiagem “secou” os poços artesianos e contribuiu para o aparecimento de muitos focos de incêndio principalmente na zona rural, onde vivem 15 mil habitantes. “As pessoas estão sobrevivendo por um milagre e por causa da caridade de algumas famílias. O pior é que a prefeitura não pode fazer nada porque não temos recursos para pagar os carros-pipa”, afirmou.
Apesar da falta de chuva, a Prefeitura de Santa Rita de Cássia ainda não decretou situação de emergência, o reconhecimento legal por parte do poder público sobre uma situação anormal provocada por desastres. “Somente agora é que conseguimos reunir todos os dados necessários para o decreto, e vamos fazer isto no início da próxima semana”, disse o prefeito.
De acordo com Romualdo Setúbal, os moradores da zona urbana somente não foram prejudicados pela falta de chuva porque um rio [Negro] corta a cidade. “Mesmo assim, o nível do rio já baixou 1,2 metro somente nos últimos cinco meses.”
A dona de casa Marineide Santos Reis, 48, disse que as crianças são as que mais sofrem com o problema. “De uma forma ou de outra os adultos se viram, mas as crianças exigem um cuidado maior. Na zona rural, as crianças estão tomando banho a cada dois ou três dias e, mesmo assim, muitas vezes utilizam uma água barrenta, imprópria para a atividade”, acrescentou.
Outra consequência relacionada à falta de chuvas que prejudica principalmente as crianças na cidade é a baixa umidade relativa do ar. Segundo especialistas, para ser considerado adequado à saúde o ar precisa ter, no mínimo, 60% de umidade (quantidade de vapor d’água existente na atmosfera em relação ao máximo que poderia ocorrer naquele instante). “Com a umidade baixa, as pessoas precisam ingerir muita água. Só que o produto está em falta principalmente na zona rural”, disse o prefeito Setúbal.
O prefeito disse, ainda, que os postos de saúde da cidade registraram um aumento de 75% nos casos de atendimentos às crianças desde o início da estiagem. “Isso é comum porque o ar seco provoca ressecamento da pele, irritação nos olhos e aumenta os problemas respiratórios e alérgicos”, disse a pediatra Raquel Silveira, 28 anos.
“Com o tempo muito seco, os vírus e bactérias são transmitidos com mais facilidade porque ficam no ar.” “Os meus filhos menores (um de seis e o outro de quatro anos) praticamente vão a um posto de saúde pelo menos duas vezes por mês porque têm dificuldade para respirar normalmente”, disse a dona de casa Maria de Fátima Rodrigues, 30 anos.
PREÇOS DISPARAM.
A falta de chuva regular no município também provocou outro efeito: nos pequenos estabelecimentos comerciais os preços dos produtos básicos dispararam. “Alguns mercadinhos, que compram diretamente dos produtores, aumentaram os seus preços em quase 100%”, disse a dona de casa Francisca Almeida, 34 anos.
A falta de chuva regular no município também provocou outro efeito: nos pequenos estabelecimentos comerciais os preços dos produtos básicos dispararam. “Alguns mercadinhos, que compram diretamente dos produtores, aumentaram os seus preços em quase 100%”, disse a dona de casa Francisca Almeida, 34 anos.
Na lista das dez cidades que estão sem chuva no Brasil há mais tempo este ano, três estão localizadas na Bahia. Além de Santa Rita de Cássia, também estão na relação apresentada pelo Inmet Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, ambas localizadas no oeste do Estado.
Os dois municípios, no entanto, conseguem administrar melhor a falta de chuva porque suas prefeituras têm recursos para a compra de carros-pipa e há muitos rios que cortam a região, o que facilita a irrigação. Em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães também existem registros de incêndios florestais e queimadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário