FONTE: Gabriela Fujita, do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
O consumo de
entorpecentes ilícitos provocou 183 mil mortes no mundo em 2012, de acordo com
o recém-apresentado relatório
mundial da ONU sobre drogas. Outras milhares de
pessoas tiveram complicações devido ao uso de narcóticos.
Segundo a ONU,
considerando os mortos e os usuários de drogas que enfrentam problemas de
saúde, a população mundial que é dependente química deixou de viver 20 milhões
de anos em 2010.
A conta é complicada
e se baseia na estimativa de quanto tempo um cidadão poderia viver a mais ou
melhor se não usasse drogas. Para chegar ao impacto da droga no tempo de vida
do dependente, os pesquisadores realizaram cruzamentos de dados com 12
variáveis.
Essa interferência
aumentou nas duas últimas décadas. Entre 1990 e 2010, o salto foi de 53%:
passou de 13,1 milhões de anos comprometidos para 20 milhões de anos, juntando
o tempo perdido para overdoses, que provocam mortes prematuras, e o tempo a ser
vivido pelos dependentes com qualidade prejudicada (afetada por doenças como
HIV, hepatites B e C, complicações do fígado e distúrbios psiquiátricos,
resultantes do consumo de entorpecentes).
Em 2012, cerca de 5%
da população mundial entre 15 e 64 anos consumiu drogas ilícitas, o que
corresponde a algo em torno de 243 milhões de pessoas.
Expansão do opio.
As substâncias
ligadas aos opiáceos são as mais letais, sendo responsáveis por 55% dos casos
de mortes no mundo em 2010. O impacto na qualidade de vida também é alto: elas
respondem por 44% dos anos vividos com complicações de saúde.
Maconha, anfetaminas
e cocaína tiveram crescimento dos efeitos que geram na vida dos usuários, mas
foi proporcional ao aumento da população entre 1990 e 2010.
Esse
"equilíbrio" não se aplica aos opiáceos, cujo peso para os
dependentes subiu 74% no intervalo de duas décadas. De acordo com a ONU, o
aumento se acentuou globalmente, nos últimos cinco anos, devido ao mau uso de
produtos à base de opiáceos com prescrição médica.
Em 2010, 43 mil mortes foram atribuídas à dependência de opioides. De acordo com os parâmetros da pesquisa, isso representou uma perda de 46 anos para cada uma das vítimas, considerando a expectativa média de vida.
Em 2010, 43 mil mortes foram atribuídas à dependência de opioides. De acordo com os parâmetros da pesquisa, isso representou uma perda de 46 anos para cada uma das vítimas, considerando a expectativa média de vida.
No caso da maconha, o
estudo indica que a carga para seus dependentes é maior do que a provocada pela
cocaína. Embora o uso da cocaína represente maior perigo para a saúde, o número
maior de dependentes de cannabis resulta em maior carga de doenças em geral.
De acordo com o
estudo, o uso de drogas ilícitas foi a causa de 0,8% dos anos-deficientes
vividos no mundo em 2010 (ficando na 19ª posição em um ranking de fatores de
risco). Em comparação, o consumo de tabaco foi a causa para 6,3% do total de
anos vividos com incapacidade, e o álcool determinou outros 3,9%.
Estados Unidos, Reino
Unido, Rússia e Austrália são alguns dos países com os índices mais altos de
impacto das drogas nas vidas dos usuários (acima de 650 anos por 100 mil
habitantes).
Pesquisa no Brasil.
O estudo não tem
indicadores específicos para o Brasil. De acordo com Francisco Inácio Bastos,
56, pesquisador-titular da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e ex-integrante do comitê
que, até 2012, assessorava o Unodc (escritório para crimes e drogas da ONU, na
sigla em inglês) no país, pesquisas com foco na carga da dependência nunca
foram feitas no Brasil.
O pesquisador,
estudioso do tema há 30 anos, afirma que pode fazer diferença para o
planejamento público conhecer, de maneira mais condizente com a realidade, o
impacto que as drogas oferecem à população, considerando especialmente as
mudanças sócio-econômicas pelas quais o Brasil vem passando. "Esse
tipo de estudo é extremamente importante. O Brasil é um país que está vivendo
claramente uma transição demográfica e epidemiológica", diz.
Bastos fez parte da
equipe de pesquisa
sobre o consumo de crack no Brasil,
uma das mais recentes sobre drogas no país, apresentada em setembro de 2013. O
estudo identificou que o crack tem 350 mil usuários nas 26 capitais brasileiras
e no Distrito Federal e que seu consumo representa 35% do total de drogas
ilícitas consumidas nesses locais (com exceção da maconha).
Segundo Bastos, a
última pesquisa sobre drogas feita no Brasil de acordo com a metodologia
seguida pela ONU foi realizada em 2005 pela Senad (Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas), ligada ao Ministério da Justiça, em municípios com
mais de 200 mil habitantes.
A Fiocruz acaba de
vencer o edital para realizar, em 2015, o Levantamento Nacional sobre o Uso de
Drogas pela População Brasileira. O trabalho será coordenado por Bastos e
seguirá a metodologia da ONU. Dessa forma, o envio dos dados brasileiros à
entidade, futuramente, poderá será mais eficiente e atualizado.
A previsão é que as
equipes de recenseamento, já treinadas, comecem o trabalho de campo em janeiro
de 2015. Os resultados devem ser divulgados até a metade do ano que vem.
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