FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Quatro milhões de brasileiros sofrem com
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), doença que pode fazer com que percam a
qualidade de vida, já que obriga a repetir rituais sem sentido, como lavar as
mãos por horas seguidas, mas que aliviam a ansiedade gerada pela condição. No
entanto, não são todos que têm manias que também têm TOC. Há diferença entre
apenas uma mania simples e a doença.
Um
exemplo é a mania que José Alfredo, personagem da novela Império, de arrumar a
cama e querer deixa-la sempre impecável. Segundo o psiquiatra Luiz Vicente Figueira
de Mello, do Ambulatório de Transtornos de Ansiedade do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPQ), a atitude dele não é
considerada TOC, já que o personagem não para a sua vida por causa da mania.
“Ele sai para trabalhar, faz outras coisas”, comenta.
“É
considerado TOC quando a pessoa apresenta sintomas que ultrapassam o limite da
normalidade e atrapalham o dia a dia. Fora isso, é mania, que não é doença”,
explica o médico. A presença de pensamentos e comportamentos repetitivos e que
duram em média uma hora por dia é sinal de alerta. “A pessoa percebe que está
com pensamentos exagerados, mas tenta se livrar deles e não consegue”, detalha
Mello.
Ele diz
que há casos de TOC em que o paciente dá banho no cachorro de estimação cerca
de 10 vezes por dia, por pânico de contaminação.
O
presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva,
conta que o transtorno é derivado de transtornos de ansiedade. “São pensamentos
intrusivos que aparecem na mente e a pessoa não consegue se desvencilhar
disso”, explica ele. “Ela pode achar que foi contaminada, então precisa fazer
um ritual de descontaminação”, explica.
Um
exemplo que ele dá é uma pessoa com TOC que lava as mãos. “Ela pensa que não só
a mão está suja, mas o sabonete também. E lava o sabonete. Mas também pensa que
a torneira está suja, portanto precisa lavar a torneira, depois o sabonete, e
depois as mãos. Depois enxuga e começa tudo de novo”, conta.
Outro
exemplo citado pelo médico são aquelas pessoas que precisam pisar com o pé
direito assim que levantam da cama. Se pisam com o esquerdo, sofrem, deitam de
novo, esperam um pouco e começam tudo de novo, para pisar com o pé certo.
Além
dos pensamentos intrusivos, se a pessoa não obedecer a eles, isso gera uma ansiedade
descontrolada e a ideia de que se não realizar todos os rituais, algo muito
ruim irá acontecer, como a morte de alguém na família.
A
pessoa torna-se escrava de si mesma, por isso é importante buscar ajuda. “Não
dá para falar que o TOC tem cura, mas sim controle dos sintomas”, explica
Silva.
De
origem biológica e genética, há também grande influência ambiental para o
surgimento dos sintomas. “Existem algumas pessoas que são educadas a serem
obsessivas, a terem manias, isso depende muito da educação dada pelos pais”,
explica o psiquiatra do Hospital das Clínicas.
“Mas,
se elas não tiverem alterações biológicas, não desenvolverão TOC, no máximo
alguns sintomas”, explica ele, citando que também há casos mais leves do
transtorno.
Segundo
o médico, a maioria desses sintomas acompanha o paciente a vida toda. “O que
acontece é que a pessoa nem percebe, lava a mão automaticamente cinco ou seis
vezes, mas é tão automático que isso passa a fazer parte da personalidade
dela”, detalha.
Tratamento.
Quem
identifica que pensamentos intrusivos fazem parte do dia a dia deve procurar um
psiquiatra, que fará o diagnóstico de mania ou de TOC. Quem tem apenas manias e
gostaria de se livrar delas, um acompanhamento psicológico já pode resolver o
problema. No caso do TOC, a ansiedade gerada por não obedecer aos rituais pode
se tornar insuportável, então os psiquiatras também receitam medicações para
deixar a pessoa menos ansiosa.
Além
disso, quem tem TOC também deve fazer psicoterapia, para aprender a controlar
os impulsos e viver melhor.
Preconceito.
Mas há
quem olhe torto para pessoas cheias de manias. O presidente da Associação
Brasileira de Psiquiatria comenta que toda doença mental carrega consigo um
altíssimo índice de preconceito. “Por isso temos um projeto de lei que e emenda
do código penal de que psicofobia é um crime. Não queremos colocar ninguém na
cadeia, mas que isso seja no sentido educativo”, explica.
Segundo
o médico, só no Brasil há mais de 50 milhões de pessoas com algum tipo de
transtorno mental. “Essas pessoas não são ajudadas, não temos assistência
pública adequada. Muitas vezes acreditam que doenças mentais não existem, e, se
a doença é negada, não providenciam nada para poder trata-las”, critica.

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