FONTE: Tamirys Machado, TRIBUNA DA BAHIA.
No Brasil, a cada ano nascem 3,5 mil crianças
com anemia falciforme. A Bahia lidera o ranking de casos da doença, com 15 mil
portadores. No Recôncavo do Estado, a situação ainda é mais alarmante: a cada
88 nascidos, um tem a falciforme, segundo o hematologista Fernando Araújo, do
ambulatório municipal especializado.
Conforme
o médico, “até pouco tempo atrás, qualquer dor óssea ou com um quadro
infeccioso normalmente se restringia a crise falcêmica, quando na verdade a
doença, por ter uma hemácia que impacta no vaso, ela interage com o endotélio
que é o nosso maior órgão. O endotélio quando rompe, ele sangra, e se fissurar
libera um monte de substância, e com isso apresenta isquemia, com manifestação
clínica ou silenciosa”, explicou.
A
doença falciforme é caracterizada por uma alteração sanguínea que causa anemia
crônica, dores generalizadas e icterícia, atingindo, principalmente, pessoas de
origem africana. Nesses pacientes, as células do sangue têm um formato
diferente do normal, o que dificulta a circulação e pode levar a acidentes
vasculares cerebrais (os populares derrames), lesões em diversos órgãos e
úlceras de perna. “Por isso vemos crianças com 10 anos de idade com Acidente
Vascular Cerebral, ou ataque isquêmico transitório, mulheres apresentando
infarto sem fatores de risco prévio, ou seja, começou a se perceber que a
anemia falciforme não era uma doença localizada em tecido ósseo, era uma doença
sistêmica de uma relevância muito grande”, pontuou Araújo.
De
acordo com os dados da Associação Baiana das Pessoas com Doença
Falciforme-ABADFAL, a média nacional é bem menor do que a baiana, um para cada
mil nascidos têm a doença. “A prevalência na população negra fortalece o
racismo institucional, pois a evolução científica não acompanhou as políticas
públicas para a doença”, destaca Altair Lira, coordenador de formação e
pesquisa da ABADFAL. “É uma doença sistema de processo inflamatório crônico e
se não tomar cuidado a sua morbidade e sua sobrevida são comprometidas”,
explicou o hematologista Araújo.
Como
pode ser identificada no exame do pezinho, o diagnóstico precoce, segundo
especialistas, é fundamental, pois o acompanhamento regular com equipe de
saúde, além de suporte social, pode reduzir e até evitar agravos e
complicações.
Conforme
o especialista Araújo, a hematologia hoje já tem ferramentas necessárias para o
tratamento adequado da doença. “Hoje já temos especialistas dentro da
hematologia que orienta, dá o cuidado, acompanha os pacientes, oferece eventual
medicamento para o paciente sair de uma situação social ou psicológica”,
afirmou. Um dos tratamentos indicados é a terapia gênica, transplante de medula,
combate a ferro, entre outros.
A forma
mais comum e grave da doença é denominada anemia falciforme e ocorre quando a
criança herda o gene para produzir a Hb S do pai e da mãe, resultando na forma
Hb SS. Todas essas combinações possíveis com a Hb S são exemplos de doença
falciforme e apresentam sinais e sintomas semelhantes, sendo tratadas de forma
similar.
Outra
questão apontada pelo médico é o comprometimento do fator psicológico, já que
em alguns pacientes há o rompimento da hemacia, deixando o olho amarelado,
porém o tratamento também já conta com apoio psicológico.
“Tem
pacientes que usavam óculos escuros por conta do olho amarelado”, explica.
Ontem, aconteceu a “Roda de Conversa” sobre a importância do reconhecimento
precoce e prevenção das complicações geradas pelas doenças falciformes. O
evento foi na sede do SIM Clínicas, na Estrada da Liberdade.
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