FONTE: Maria Fernanda Ziegler – Ig, TRIBUNA DA BAHIA.
A
exposição à poluição do ar traz consequências para a saúde antes mesmo de a
criança nascer e que vão muito além de doenças cardiorrespiratórias. Pesquisa
realizada na cidade de Nova York relaciona um componente da poluição do ar ao
aumento das chances de a criança desenvolver transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade, ou TDAH.
Nova
York, desde a gravidez até quando as crianças completaram nove anos de idade.
Os resultados mostram que gestantes expostas a altos níveis de hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos, um componente da poluição do ar, tiveram cinco vezes mais chance
de que os filhos tivessem TDAH mais grave – e do tipo desatento -, em
comparação às mães que não sofreram exposição.
"De
acordo com os resultados, vemos que a exposição à poluição encontrada em Nova
York pode ter um papel importante na ocorrência de TDHA," diz a autora do
estudo Frederica Perera, do Centro de Saúde Ambiental para Crianças da
Faculdade de Saúde Pública de Columbia.
O TDAH
é um conjunto de sintomas marcado pela dificuldade em manter a concentração. A
causa ainda não é claro, mas geralmente está ligada apenas à genética. Imagens
mostram que há menor ativação das áreas frontais em portadores de TDAH.
Frederica
afirma que os mecanismos pelos quais a exposição à poluição pode afetar o
cérebro dos fetos em desenvolvimento não são totalmente compreendidos. “Temos
algumas suposições, que incluem a interrupção de vias hormonais, efeitos sobre
a placenta, resultando em diminuição da troca de oxigênio e nutrientes, danos
diretos do DNA, estresse oxidativo e alterações epigenéticas. O período
pré-natal é crítico por causa de uma série de mudanças estruturais e de nível
celular que ocorrem nos estágios do desenvolvimento.”, afirma.
No
estudo, o nível de exposição ao poluente das grávidas – todas não fumantes –
foi medido por exame de sangue e o das crianças foi obtido a partir da análise
de amostras de urina. Os problemas de TDAH foram avaliados utilizando a escala
de classificação.
Vários problemas.
O
estudo é o primeiro a explorar a relação entre pré-natal, este tipo de
componente e TDAH em crianças em idade escolar ao longo do tempo. Porém,
estudos anteriores já haviam relacionado à exposição á poluição do ar com maior
ansiedade, depressão e atrasos no desenvolvimento e o risco de bebês nascerem
abaixo do peso.
“É um
problema muito sério e atinge, principalmente aqui no Brasil, os mais pobres,
que passam mais tempo nos corredores de ônibus, local com o ar mais poluído”,
afirma Paulo Saldiva, professor da USP e especialista em poluição atmosférica.
Saldiva não participou do estudo realizado nos Estados Unidos.
Saldiva
explica que os poluentes atuam nos neurônios e o estudo provou que isto também
no momento em que o cérebro está se desenvolvendo. “Eles atravessam a placenta
e interfere no sistema nervoso do bebê”, afirma.
De
acordo com Saldiva, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos presentes no ar
impedem que neurônios migrem e estabeleçam circuitos (sinapse), além de inibir
que conexões pouco utilizadas sejam eliminadas para que a capacidade cerebral
fique disponível para conexões mais frequentes.
“O
estudo realizado em Nova York reforça a teoria de que os poluentes atuam em
dois fatores: o impedimento da migração neuronal e inibidor de poda neuronal“,
disse.
É pior ainda aqui.
Se os resultados do estudo já são preocupantes para nova iorquinos, se torna ainda mais para paulistanos e cariocas. Os níveis de poluição nas duas cidades brasileiras são maiores que na cidade americana.
Se os resultados do estudo já são preocupantes para nova iorquinos, se torna ainda mais para paulistanos e cariocas. Os níveis de poluição nas duas cidades brasileiras são maiores que na cidade americana.
De
acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a concentração de material
particulado no ar do Rio de Janeiro é 67μm/m3; em São Paulo, 35 μm/m3 e em Nova
York, 23 μm/m3. O limite estabelecido pela OMS é de 20 μm/m3.
Os
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são compostos encontrados tanto na
forma de material particulado quanto gasosa. Eles são derivados principalmente
de processos de combustão incompleta em indústrias, incineração, e também em
emissões de veículos automotivos.
“A
única solução é reduzir a poluição, não tem como escapar disso. Os carros com
menos emissão de poluentes fizeram o seu papel, mas não adianta ter uma frota
de carros que só cresce e fica parada nas vias. É preciso valorizar o
transporte público”, diz.
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