FONTE: Fernando Cymbaluk, Do
UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Uma característica da
vida em grandes cidades é a refeição comprada na rua. Normalmente, guloseimas
como cachorros-quentes, doces e bolos não fornecem todos os nutrientes que
precisamos para uma alimentação saudável. Mas é possível seguir uma regrinha
básica para garantir uma boa dieta: colorir o cardápio do dia. Tarefa que pode
ficar mais fácil quando, a poucos metros de uma mesinha de bolos, encontramos
uma feira de frutas e verduras.
Foi um cenário como
esse que a reportagem do UOL encontrou em um dia de semana no Largo da Batata,
em São Paulo. No local, por volta das 5h da manhã, ambulantes montam seus
tabuleiros para garantir, com café-com-leite e bolos, o desjejum do paulistano
apressado. Vão embora às 7h, horário em que, num canto do calçadão do Largo, as
barracas de uma feira de produtos orgânicos começam a receber sua clientela.
Para avaliar a
qualidade nutricional dos alimentos que colorem o cenário cinza daquele canto
da cidade, fomos acompanhados pela nutricionista Andrea Stingelin Forlenza, da
clínica Nutravie. E na conversa com vendedores e consumidores, pudemos
verificar hábitos alimentares extremos, com muito doce e pouca fruta
contrastando com muita verdura, fruta e legume, sem agrotóxico.
Muito bolo e pouca fruta.
Na banca de café da
manhã de Abinadabe Joel de Jesus tem bolo de mandioca, broinha de milho,
rosquinha de leite. Boa variedade para um café da manhã? A nutricionista Andrea
acha que não. "O ideal é que, em cada refeição, tenhamos cores diferentes.
Se a gente olhar aqui, só tem amarelo, marrom", diz Andrea.
Para ela, o colorido
diferente pode vir de frutas e verduras. O vendedor de café-da-manhã no Largo
da Batata se defende. "Se eu colocar fruta na banca, não vendo nada",
diz Abinadabe. A nutricionista não discorda. "É característica do brasileiro
uma alimentação monocromática, com pouca".
A diarista Maria
José, 28, comprou um bolinho na banca de Abinadabe. Diz que só às vezes toma o
café na rua. Quando dá tempo, para não sair em jejum de casa, come pão com
mortadela e queijo e café com leite. E a fruta? "Só à tarde ou à noite, se
me der vontade", confessa. Para se prevenir da fome repentina, leva um
pacote de bolacha doce na bolsa.
O café da manhã da
diarista é bem parecido com o do pintor Domingos Máximo, 60. Na banca no Largo
da Batata, pediu café-com-leite e bolo de fubá. A fruta também rareia.
"Como às vezes, depois do almoço. Levo marmita com arroz e feijão e frango
ou carne". Verduras e legumes, só mesmo no final do dia, quando janta com
a mulher. "Não levo salada na marmita porque murcha".
Para a nutricionista,
os exemplos de Domingos e de Maria José confirmam o que diz o vendedor
Abinadabe sobre o hábito alimentar brasileiro. "Pão, mortadela, queijo,
café com leite, é tudo meio laranja, amarelo e marrom", diz a
nutricionista. "Quando a gente come coisas de uma cor só, acaba ingerindo
pouca variedade de nutrientes".
Fruta e verduras são
fontes de vitaminas e antioxidantes. Mas os benefícios vão além. "A fruta
dá saciedade, tem fibras. Quando não comemos, exageramos no pão, no
recheio", diz a nutricionista.
Andréa não condena o
bolinho na banca do Abinadabe, desde que seja garantida uma boa variedade de
alimentos ao longo do dia. Olhar para o prato e ver se há pelo menos duas ou
três cores diferentes é uma boa forma de avaliar o teor de nutrientes da
refeição. Uma forma de garantir variedade seria optar por bolos com frutas no
recheio - como uva passas ou banana.
No fim das contas, a
maior crítica ficou para a bolacha doce na bolsa da diarista. "Por que não
trocar por uma fruta?", questiona a especialista.
Variedade verde, frutas
como chamariz.
Uma feira no meio do
caminho entre a casa e o trabalho pode ser o segredo para garantir uma fruta na
bolsa dos mais apressados. No entanto, as diferenças entre as barraquinhas de
café da manhã e as da feira de orgânicos, que dividem o espaço do Largo da Bata
às quartas-feiras (quando a feira é realizada), vão além das cores. Está também
no tempo de que as pessoas dispõem para se preocupar com uma alimentação
saudável. Ao contrário do que acontecia na venda de café e bolo na rua, na
feira de orgânicos, consumidores e vendedores não manifestavam tanta pressa.
Na barraca do agricultor Pedro Bittencourt, 27, a cor predominante vem da escarola, rúcula, alface e diversas outras folhas. O domínio monocromático do verde é um problema para o vendedor. Ele não consegue outros tons em frutas e legumes devido à sazonalidade dos produtos e pelas dificuldades inerentes ao cultivo de orgânicos em pequena escala, que ele possui em seu sítio em Juquitiba (SP). Por isso, apela para fornecedores para ter tomate, limão e mandioca na barraca. "É chamariz. Se eu tiver só folhosas, as pessoas falam, 'legal, mas cadê o abacate?'", conta.
Na barraca do agricultor Pedro Bittencourt, 27, a cor predominante vem da escarola, rúcula, alface e diversas outras folhas. O domínio monocromático do verde é um problema para o vendedor. Ele não consegue outros tons em frutas e legumes devido à sazonalidade dos produtos e pelas dificuldades inerentes ao cultivo de orgânicos em pequena escala, que ele possui em seu sítio em Juquitiba (SP). Por isso, apela para fornecedores para ter tomate, limão e mandioca na barraca. "É chamariz. Se eu tiver só folhosas, as pessoas falam, 'legal, mas cadê o abacate?'", conta.
Pedro conta que a
maior parte da freguesia é composta por moradores e por quem trabalha em
escritórios da região. O atrativo do orgânico, para ele, está no fato de serem
produtos produzidos "sem veneno" - livres de agrotóxicos no processo
de produção. Mas se a ausência de química atrai, o preço afasta. "Há os
que olham o custo e preferem pagar R$ 1,00 na alface ali no mercado [do que R$
2,00 na banca de orgânicos]. Digo que é R$ 1,00 de veneno".
A artista plástica
Luciana Bórgio, 30, foi fisgada pela variedade garantida por Pedro. Conseguiu
encontrar boa parte dos itens de listinha que trazia nas mãos. "Sempre que
posso, consumo orgânico. Há um mapa de feiras orgânicas na cidade. Dá para
acompanhar durante a semana e ver qual compensa mais para comprar", conta
ela, que mora no Butantã, bairro próximo, na zona oeste.
Para a nutricionista
Andrea, frutas, legumes e verduras nas refeições garantem uma alimentação rica
em nutrientes. Segundo ela, o principal benefício dos hortifrutis orgânicos
está na ausência do veneno. "Já se sabe que agrotóxicos podem desencadear
alergias, problemas neurológicos, psiquiátricos, disfunções hormonais e
câncer", diz, acrescentando que alimentos no Brasil muitas vezes possuem
nível de agrotóxicos maior que o permitido pela Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), além de químicos proibidos.
A preocupação com a
saúde é o que motiva a professora Helena Vaz, 40, a ter todo cuidado com o que
compra para comer. Ela conta que curou um problema de enxaqueca mudando a
alimentação. "Quanto menos coisas industrializadas, melhor. Fiquei ainda
mais disciplinada porque estou amamentando", diz ela. Ganha ponto com a
nutricionista, que garante que pode haver passagem de agrotóxico pelo leite
materno.
Para os entusiastas
do produto orgânico, o interesse pelo tipo de alimento comercializado por ali
vai além do cuidado com a saúde. "Tem toda questão da proteção da
natureza, da sustentabilidade, [do apoio aos] pequenos produtores", diz a
artista plástica Luciana Bórgio.
Nem sempre saem
satisfeitos. Contam que o preço ainda é alto para alguns produtos - como o
morango, cuja bandeja chega a R$ 15,00 - e reclamam por não encontrar tudo o
que gostariam. Mas se na banca de café da manhã a falta de variedade é
justificada pelo hábito do consumidor, aqui o feirante quer poder se explicar
quando falta uma cor ou outra. "Uma das tarefas do produtor orgânico é
educar, ensinar que nem tudo nasce o ano todo", defende o feirante Pedro
Bittencourt.
Nenhum comentário:
Postar um comentário