FONTE: Raquel Paulino - especial para o Ig, TRIBUNA
DA BAHIA.
Perceber que a pessoa com quem se tinha tudo em
comum praticamente não existe mais pode ser tão frustrante quanto uma decepção
amorosa.
Com o passar do
tempo, todas as pessoas mudam (ainda que de leve) de opinião, de comportamento,
de atitude. Isso é normal do ser humano. Mas algumas, por quaisquer razões que
as movam, mudam radicalmente e se tornam praticamente estranhas para os amigos.
E daí quem não mudou junto fica naquele impasse: dá para manter a amizade com
essa “nova” pessoa? Vale a pena conversar e ver se em alguns pontos ela volta a
ser o que era? Ou pelo menos expor o que está incomodando na nova
personalidade?
OS INCOMODADOS QUE SE ANALISEM.
Antes de qualquer
abordagem à pessoa mudada, é necessária uma autoanálise. “Tem que ver até que
ponto se está disposto a passar por cima de uma ou de algumas diferenças em
nome da amizade. Não é uma questão de convencer o amigo a voltar a ser o que
era, mas de lidar com o que mudou”, afirma a psicóloga Angelita Corrêa Scardua,
mestre pela USP (Universidade de São Paulo) e especializada em felicidade e
desenvolvimento de adultos.
De acordo com
Angelita, relevar com facilidade é uma característica dos extrovertidos. “Eles
não têm muitas exigências para considerar uma pessoa sua amiga, uma vez que as
amizades recarregam suas energias”, explica. “Já os introvertidos são muito
criteriosos e veem sua bateria acabando se tiverem que interagir com alguém que
não lhes agrade. Para eles, é mais fácil se afastar”, continua. Assim, conclui-se
que sentar e conversar não é regra: depende do perfil de quem se sente
incomodado.
NEM TODO CASO TEM SOLUÇÃO.
Tudo resolvido por
dentro, chega a hora de – se for o caso – conversar com o amigo. O principal
para esse momento é estar preparado para tudo, inclusive para o rompimento. “O
resultado desse papo varia de acordo com o grau da amizade e o motivo do
distanciamento. Se o vínculo era forte, mas o desentendimento envolve um
conflito de valores, dificilmente a amizade poderá continuar”, diz a psicóloga
Cristiane Costa Cruz.
Em casos mais leves,
ela acredita que as chances de sucesso sejam maiores. “Se foi um
desentendimento por questões circunstanciais, uma conversa desfaz o
mal-entendido”. Angelita concorda e acrescenta que a amizade verdadeira está
sempre aberta para o diálogo. “A amizade supera embates e conflitos. Se for
real, o outro aceitará uma crítica a uma postura nova e diferente do padrão,
sem dramas”, garante.
Optar por não
explicar para o amigo que as mudanças de comportamento tornam o distanciamento
melhor ou desistir, no meio da conversa de que estávamos falando, de manter os
laços tão apertados não são sinônimos de virar as costas e esquecer que a
pessoa existe. Há situações em que manter um contato limitado, a uma distância
confortável, vale a pena.
“Se é um colega de
trabalho que já foi muito amigo, por exemplo, ou alguém que convive com a
família, dá para a amizade ficar nos ‘likes’ em fotos de gatinhos fofos nas
redes sociais”, brinca Angelita. Cristiane considera que, quando é assim, não
se deve nem usar o termo “amizade”: “É aprender a tolerar a presença de alguém
que não é mais considerado amigo. É uma questão política, e o melhor a fazer é
conviver de forma pacífica, sem ficar tentando lavar a roupa suja”.
AMIZADES COM PRAZO DE VALIDADE.
Há que se considerar,
ainda, que alguns vínculos já nascem fadados a acabar. E por eles não vale a
pena gastar muita energia, na opinião das especialistas.
“Algumas amizades se
formam em contextos sociais que têm um prazo determinado, como um curso, um
emprego. Quando muda esse contexto – o curso acaba ou a pessoa muda de emprego
–, se não houver razões mais profundas para manter o vínculo, as pessoas perdem
o contato e a amizade esfria. Para que uma amizade se mantenha pela vida toda é
necessário que haja vínculos profundos”, simplifica Cristiane.
Como o
desenvolvimento de adultos é sua especialidade, Angelita analisa essa parte sob
a ótica do amadurecimento. “Existem amizades que surgem apenas pelo momento que
está sendo vivido, ou seja, de acordo com a configuração cognitiva e afetiva
das pessoas. Depois de um tempo, elas esfriam e somem por não serem mais
relevantes para o desenvolvimento dos envolvidos”, afirma.
Trocando em miúdos:
uma vez que a função dessa proximidade se esgota, ela desaparece por
simplesmente não fazer mais sentido na nossa evolução como seres humanos. E
tudo bem.
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