segunda-feira, 20 de abril de 2015

COMO AGIR QUANDO O AMIGO MUDA E PASSA A NÃO TER NADA A VER COM VOCÊ...

FONTE: Raquel Paulino - especial para o Ig, TRIBUNA DA BAHIA.

Perceber que a pessoa com quem se tinha tudo em comum praticamente não existe mais pode ser tão frustrante quanto uma decepção amorosa.

Com o passar do tempo, todas as pessoas mudam (ainda que de leve) de opinião, de comportamento, de atitude. Isso é normal do ser humano. Mas algumas, por quaisquer razões que as movam, mudam radicalmente e se tornam praticamente estranhas para os amigos. E daí quem não mudou junto fica naquele impasse: dá para manter a amizade com essa “nova” pessoa? Vale a pena conversar e ver se em alguns pontos ela volta a ser o que era? Ou pelo menos expor o que está incomodando na nova personalidade? 
OS INCOMODADOS QUE SE ANALISEM. 
Antes de qualquer abordagem à pessoa mudada, é necessária uma autoanálise. “Tem que ver até que ponto se está disposto a passar por cima de uma ou de algumas diferenças em nome da amizade. Não é uma questão de convencer o amigo a voltar a ser o que era, mas de lidar com o que mudou”, afirma a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, mestre pela USP (Universidade de São Paulo) e especializada em felicidade e desenvolvimento de adultos. 
De acordo com Angelita, relevar com facilidade é uma característica dos extrovertidos. “Eles não têm muitas exigências para considerar uma pessoa sua amiga, uma vez que as amizades recarregam suas energias”, explica. “Já os introvertidos são muito criteriosos e veem sua bateria acabando se tiverem que interagir com alguém que não lhes agrade. Para eles, é mais fácil se afastar”, continua. Assim, conclui-se que sentar e conversar não é regra: depende do perfil de quem se sente incomodado. 
NEM TODO CASO TEM SOLUÇÃO. 
Tudo resolvido por dentro, chega a hora de – se for o caso – conversar com o amigo. O principal para esse momento é estar preparado para tudo, inclusive para o rompimento. “O resultado desse papo varia de acordo com o grau da amizade e o motivo do distanciamento. Se o vínculo era forte, mas o desentendimento envolve um conflito de valores, dificilmente a amizade poderá continuar”, diz a psicóloga Cristiane Costa Cruz. 
Em casos mais leves, ela acredita que as chances de sucesso sejam maiores. “Se foi um desentendimento por questões circunstanciais, uma conversa desfaz o mal-entendido”. Angelita concorda e acrescenta que a amizade verdadeira está sempre aberta para o diálogo. “A amizade supera embates e conflitos. Se for real, o outro aceitará uma crítica a uma postura nova e diferente do padrão, sem dramas”, garante. 
Optar por não explicar para o amigo que as mudanças de comportamento tornam o distanciamento melhor ou desistir, no meio da conversa de que estávamos falando, de manter os laços tão apertados não são sinônimos de virar as costas e esquecer que a pessoa existe. Há situações em que manter um contato limitado, a uma distância confortável, vale a pena. 
“Se é um colega de trabalho que já foi muito amigo, por exemplo, ou alguém que convive com a família, dá para a amizade ficar nos ‘likes’ em fotos de gatinhos fofos nas redes sociais”, brinca Angelita. Cristiane considera que, quando é assim, não se deve nem usar o termo “amizade”: “É aprender a tolerar a presença de alguém que não é mais considerado amigo. É uma questão política, e o melhor a fazer é conviver de forma pacífica, sem ficar tentando lavar a roupa suja”. 
AMIZADES COM PRAZO DE VALIDADE. 
Há que se considerar, ainda, que alguns vínculos já nascem fadados a acabar. E por eles não vale a pena gastar muita energia, na opinião das especialistas. 
“Algumas amizades se formam em contextos sociais que têm um prazo determinado, como um curso, um emprego. Quando muda esse contexto – o curso acaba ou a pessoa muda de emprego –, se não houver razões mais profundas para manter o vínculo, as pessoas perdem o contato e a amizade esfria. Para que uma amizade se mantenha pela vida toda é necessário que haja vínculos profundos”, simplifica Cristiane. 
Como o desenvolvimento de adultos é sua especialidade, Angelita analisa essa parte sob a ótica do amadurecimento. “Existem amizades que surgem apenas pelo momento que está sendo vivido, ou seja, de acordo com a configuração cognitiva e afetiva das pessoas. Depois de um tempo, elas esfriam e somem por não serem mais relevantes para o desenvolvimento dos envolvidos”, afirma. 

Trocando em miúdos: uma vez que a função dessa proximidade se esgota, ela desaparece por simplesmente não fazer mais sentido na nossa evolução como seres humanos. E tudo bem.

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