O suicídio leva um
número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem
um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio,
tentou investigar as razões.
Os 44 anos de idade,
uma idade não muito memorável para a maioria das pessoas mas, no meu caso, foi
um aniversário que sempre terá uma importância especial. Foi a idade em que meu
pai cometeu suicídio, há 25 anos, por razões que ainda não consegui esclarecer
totalmente.
Como resultado,
sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre suicídio no noticiário e
notei também a frequência com que estas histórias envolviam homens.
O que não percebi até
recentemente é que o suicídio é a mais frequente causa de morte de homens
abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales. Cem homens morrem por
semana. É a causa de morte mais prevalente atualmente, mais do que em qualquer
outro momento dos últimos 14 anos e homens têm quatro vezes mais chances de
acabar com a própria vida do que as mulheres.
Queria descobrir o
porquê. Qual a razão de homens serem mais suscetíveis e o que pode ser feito a
respeito, se é que algo pode ser feito?
Meu próprio pai, na
faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.
A incidência de
suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É possível adivinhar as
razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o homem perde o emprego em uma
idade em que é difícil conseguir outro. Tudo isso pode gerar estresse em homens
que se sentem pressionados a sustentar a família.
No caso do meu pai,
nenhuma destas razões poderia explicar seu suicídio. Ele era um homem popular,
gregário e talentoso, com uma mulher amorosa e quatro filhos, dos quais eu era
o mais velho.
Pesquisa.
Para tentar descobrir
as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja pesquisa é baseada em 60 anos de
experiência. O trabalho deles destaca uma série complexa de fatores - incluindo
problemas financeiros e emocionais, traços de personalidade, desafios da idade
e questões de saúde mental.
Todos estes problemas
afetam mulheres também. Então, qual a razão de que, apesar de metade dos
telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de mulheres, quatro vezes mais
homens acabam mortos?
Existe uma opinião
muito comum de que suicídio é prova de doença mental. O argumento é que, se
você comete suicídio, você precisa estar sofrendo de uma doença mental
diagnosticável como depressão.
Rory O'Connor é
responsável por um dos mais importantes centros de pesquisa sobre suicídio no
mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia. Faz experiências em psicologia e
comportamento suicida. Frequentemente, a doença mental é parte do problema, mas
não é uma explicação suficientemente completa para isto.
"Acreditamos que
a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma doença mental, mas menos
de 5% das pessoas com uma doença mental acabam com a própria vida", diz
O'Connor.
Eu precisava
descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de meu pai quando ele
cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar com minha mãe, algo que
estava pendente há muito tempo. Quase nunca tocamos neste assunto na família.
E isto é uma parte
importante do problema para muitas famílias. Meus irmãos e eu não conseguíamos
conversar, provavelmente temendo choro ou discussões familiares durante a
conversa.
Apesar das ressalvas
e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe, com muita coragem, permitiu
que a conversa fosse filmada. Naquela conversa, descobri que, assim os casos
extraconjugais que meu pai teve, os problemas financeiros que enfrentava só
foram descobertos depois da morte. E nunca discutidos antes.
Estes tipos de
problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de suicídio entre homens da faixa
dos 40 anos, mas o suicídio também é a maior causa de morte entre os homens 20
e 34 anos, quase um quarto de todos os óbitos.
Experiência.
Conversei com Stephen
Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de
suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e,
novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um
grande choque para a família.
"Ele era tão
atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz
Habgood.
Mas, por mais
eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre seu estado com sua
família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou relutância dos homens de
todas as idades para falar sobre o que sentem é a chave para explicar o número
maior de suicídios masculinos.
Há uma experiência mental
muito útil para ilustrar estes casos, segundo Joe Ferns, diretor-executivo de
políticas dos Samaritanos.
"Imagine chegar
no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar alguém triste no escritório,
chorando por algo que acontece no fim de semana. Se fosse uma mulher, alguém a
levaria ao banheiro, teria uma conversa com ela e ninguém pensaria nada muito
sobre isto."
"Se o mesmo
acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a reação das pessoas
seria muito mais dramática. As pessoas presumem que algo muito ruim deve ter
acontecido", acrescentou.
Há uma diferença na
forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.
Conversas que salvam?
Então, simplesmente
conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em
suicídio, mas não o fez.
Ele estava
desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em
sua comunidade.
"Sempre fui uma
pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e acredito que era muito
afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito bem com meu grupo de amigos,
sempre me senti como um estranho. Era difícil, pois quando você está crescendo,
ninguém quer se sentir excluído", disse.
Depois de decidir
pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos Samaritanos em Manchester e,
como pensava que não tinha nada a perder, entrou.
Agora ele percebe que
esta decisão salvou sua vida.
"A razão
principal que me levava a não conversar com ninguém era esta ideia de fraqueza.
Se você não pode resolver os problemas sozinho, então é uma pessoa fraca."
E esta percepção é a
chave para entender a razão de os homens tirarem a própria vida em números tão
altos, segundo Jane Powell, diretora da Campanha contra uma Vida Triste (CALM,
na sigla em inglês).
Rugby.
Se alguém procura
estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá
encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.
Ian Knott era um
jogador profissional bem-sucedido do time Warrington Wolves quando sofreu uma
lesão que acabou com sua carreira e o deixou sentindo dores constantes. Knott
sentia que não conseguia mais cumprir seu papel como jogador, marido e pai.
Isto o levou a tentar o suicídio.
"A dor chegou a
tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e meus filhos continuavam
ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte (da família)."
Knott agora dá
palestras em reuniões de uma instituição chamada State of Mind, que exibe
vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para falar sobre suas carreiras
e funciona como um fórum para discussões a respeito de problemas emocionais.
"Estou orgulhoso
pois agora posso falar de minhas experiências e talvez ajudar outras pessoas,
principalmente outros homens", afirmou Knott.
"Este é o
principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam
absolutamente ter nada do que se envergonhar."
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