Recordamos com frequência que o câncer não é mais uma condenação à morte, que a metade dos cânceres tem
cura. Mas a pergunta óbvia que é preciso fazer então é: do que precisamos para
curar a outra metade? Todos
os oncologistas concordam em que não vai haver uma penicilina
do doutor Fleming que vá resolvê-los de uma penada: é preciso ir ganhando
terreno da doença passo a passo, e caso a caso. A melhor forma de definir o
caminho, como sempre na ciência, são os dados. E os dados dizem que no mundo há ampla margem
para a melhora agora mesmo, sem
esperar que novos fármacos e técnicas biotecnológicas venham em nosso socorro.
Existem estratégias de ação muito concretas para cada tipo de câncer. Por
exemplo, os exames de sangue nas
fezes, muito valiosos para a
detecção precoce do câncer de cólon, somente são garantidos para toda a
população em risco alguns lugares, o que explica em parte que 60% da população
de risco esteja fora de cobertura, e que outros países nos superem na
sobrevivência a esse câncer. A outra parte se explica pela recusa ignorante e
supersticiosa das pessoas em fazer os exames.
Todos os especialistas concordam em que os maiores recursos
deveriam se concentrar em grandes
hospitais de referência, em
lugar de serem distribuídos por todas as partes com resultados desiguais e
ineficazes. Também é necessário garantir que os mesmos fármacos estejam
disponíveis para toda a população. Um oncologista pediátrico que só examina
poucos casos por ano não pode atuar tão bem como outro que examina cem. É senso
comum, mas a gestão descentralizada da saúde está matando crianças, para
expressar isso com a brutalidade que tal situação lamentável requer.
E há outro ponto essencial sobre o qual devemos estrilar e martelar com
insistência. Cortar recursos de pesquisa é uma política errada e, no caso da
pesquisa oncológica, mata gente ou matará no futuro. Esta semana ficamos
conhecendo também uma pesquisa básica espanhola, ainda em ratos, que promete
combater o câncer de mama mais agressivo. Os cidadãos querem que esse tipo de
estudo chegue logo aos ensaios clínicos e que sejam feitos muito mais trabalhos
desse tipo. Ao que parece, porém, nossos governantes não estão de acordo
conosco. Que pena, não acham?
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