A música caipira,
verdadeira música popular brasileira, produziu algumas obras de rara beleza
poética e, em muitos casos, com grandes críticas sociais, aos
sistemas políticos, à corrupção e aos comportamentos lesivos à
boa convivência humana. Tião Carreiro e Pardinho, por exemplo,
foram exemplos neste quesito, com letras altamente politizadas, mas com uma
linguagem popular e acessível para o seu público.
Nascido em Planaltina,
interior do Paraná, Dalvan nunca foi tão “pop” como outros
nomes de sua geração, mas quando compôs a música “Massa Falida” mudou de
patamar. Se não em fama, sim em prestígio e respeito por sua visão de mundo.
Composta em 1986, a música se tornou uma referência ao se tratar de
letras/críticas bem escritas. Foi usada, inclusive, pelo ex-presidente Lula, em
2003, em um pronunciamento à nação, pois ela traduziria um sentimento de
“basta” na corrupção e má administração pública
Ironia à parte, hoje
Dalvan – que fez dupla com Duduca, morto na década de 1980 – pode ser comparado
a um “Simpson” caipira, considerando que o desenho norte-americano ficou famoso
recentemente por fazer previsões que se concretizaram. Dando uma boa lida na
letra de “Massa Falida” podemos entender, achar graça e lamentar tal
comparação. Em tempos de pedidos por intervenção militar.
Massa Falida (ouça a
canção logo abaixo).
Eu confesso, já estou
cansado
De ser enganado com tanto cinismo
Não sou parte integrante do crime
E o próprio regime nos leva ao abismo
De ser enganado com tanto cinismo
Não sou parte integrante do crime
E o próprio regime nos leva ao abismo
Se alcançamos as
margens do incerto
Foram os decretos da incompetência
Falam tanto, sem nada de novo
E levam o povo a grande falência
Foram os decretos da incompetência
Falam tanto, sem nada de novo
E levam o povo a grande falência
Não aborte os teus
ideais
No ventre da covardia
No ventre da covardia
Vá a luta empunhando a
verdade
Que a liberdade não é utopia
Que a liberdade não é utopia
Os camuflados e
samaritanos
Nos estão levando a fatalidade
Ignorando o holocausto da fome
Tirando do homem a prioridade
Nos estão levando a fatalidade
Ignorando o holocausto da fome
Tirando do homem a prioridade
O operário do lucro
expoente
E a parte excedente não lhe é revertida
Se aderirmos aos jogos políticos
Seremos síndicos da massa falida
E a parte excedente não lhe é revertida
Se aderirmos aos jogos políticos
Seremos síndicos da massa falida
Não aborte os teus
ideais
No ventre da covardia
Vá a luta empunhando a verdade
Que a liberdade não é utopia
No ventre da covardia
Vá a luta empunhando a verdade
Que a liberdade não é utopia
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