Uma nova pesquisa,
publicada no periódico Neuron, revelou que o anestésico cetamina faz com
que, em situações semelhantes às causadas pela depressão em humanos, primatas
não sofram com a perda de interesse ou prazer, sintomas comuns desse transtorno
mental.
A ciência ainda não
sabe explicar por que a anedonia (a perda de interesse, prazer ou excitação a
atividades que o indivíduo já considerou prazerosas) e a depressão têm uma
relação. Mas o estudo realizado por cientistas da Universidade de Cambridge, no
Reino Unido, descobriu que uma região do cérebro chamada "área 25"
pode estar por trás dessa interação.
"Compreender os
circuitos cerebrais subjacentes a aspectos específicos da anedonia é de grande
importância", diz o principal autor da pesquisa, Laith Alexander.
"Não apenas por causa da anedonia ser uma característica central da
depressão, mas também por ser um dos sintomas mais resistentes ao
tratamento."
Experimento com saguis.
Os cientistas
realizaram dois experimentos com saguis para conseguir explicar por que a
depressão pode causar falta de interesse. Os testes foram feitos nos primatas
justamente porque eles têm lobos frontais mais semelhantes aos humanos do
que roedores.
A ideia era que os
saguis fossem treinados a reagir a dois tipos de sons. O barulho A indicava que
eles receberiam marshmallows como prenda e o som B significava que eles não
receberiam brindes.
Após o treinamento, a
pressão arterial e os movimentos da cabeça mostraram que os saguis ficavam
excitados ao ouvir o som A, mas não respondiam dessa maneira ao som B.
Em seguida, os
cientistas injetaram uma droga ou um placebo no cérebro dos primatas e
perceberam que a substância ativou especificamente uma região do órgão chamada
"área 25".
Os animais que
receberam a droga apresentaram excitação significativamente menor quando
ouviram o som avisando que ganhariam marshmallows.
Em contraste, não houve mudança na atividade cerebral ou no comportamento dos
primatas que receberam o placebo.
Entretanto, quando os
cientistas testaram o efeito da cetamina 24 horas antes de repetir os mesmos
experimentos nos primatas, ela bloqueou a droga que afetava a área 25.
A atividade do cérebro dos primatas que receberam cetamina continuou a exibir
muita excitação antes de receber marshmallows.
"Ao revelar os
sintomas específicos e circuitos cerebrais que são sensíveis aos
antidepressivos, como a cetamina, este estudo nos aproxima de entender como e
por que os pacientes podem se beneficiar de diferentes tratamentos",
explica Alexander.
Estudos mostram que até
30% das pessoas que vivem com depressão têm uma forma da doença que não
responde ao tratamento. As descobertas atuais podem ajudar a deixar as terapias
mais eficazes.
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