Passaram-se quatro anos
entre o dia em que o funcionário público Eduardo Furquim, 53 anos, decidiu
parar de fumar e o momento em que ele largou definitivamente o cigarro. "O
vício já estava bem impregnado. Eu conseguia diminuir a quantidade por dia, mas
não conseguia parar", disse. Ele aponta que o grupo de apoio, junto com
outros fumantes, que ele frequentou durante oito meses, na Freguesia do Ó, zona
leste paulistana, foi fundamental para superar o tabagismo. A doença mata 428
pessoas por dia no Brasil, segundo informações do Inca (Instituto Nacional do
Câncer), órgão do Ministério da Saúde.
Furquim fez parte do
Programa Municipal de Combate ao Tabagismo, ofertado em UBSs (Unidades Básicas
de Saúde) e Caps (Centros de Atenção Psicossocial) do SUS (Sistema Único de
Saúde). Além do uso de medicamentos no tratamento antitabaco, são oferecidos
serviços complementares, como grupos terapêuticos, trabalhos corporais,
atividades físicas e práticas de medicina tradicional chinesa. Em São Paulo, o
programa funciona desde 2006 e atendeu, até agora, 76.730 pacientes utilizando
uma abordagem cognitiva comportamental.
Ao longo de oito meses,
o funcionário público encontrou outras pessoas que também tentavam interromper
o vício. "Foram reuniões semanais, depois quinzenais e, por fim, mensais.
A gente discutia quais eram as dificuldades, o que dava aquele start em cada um
para dar vontade de fumar. O grupo teve um papel fundamental. As dificuldades
que eu tinha, eu achava que eram só minhas. E isso era debatido no grupo e via
que não era assim", disse.
Terapias
alternativas.
Acupuntura, homeopatia
e práticas corporais como tai chi chuan e liang gong são algumas das terapias
ofertadas na rede municipal. "Essas práticas acabam cuidando da saúde das
pessoas como um todo, estão voltadas para promoção da saúde e prevenção de
doenças", explicou Emílio Talesi Júnior, médico da área técnica de
praticas integrativas e complementares da Secretaria Municipal da Saúde de São
Paulo. Ele aponta que a auriculoterapia, uma modalidade da acupuntura, é dos
serviços mais buscados para ajudar no combate ao vício do tabaco.
Talesi Júnior avalia
que, ao longo dos últimos 20 anos, período em que atua com práticas
integrativas na saúde, a busca por terapias alternativas têm sido cada vez mais
frequente. "A procura é cada vez maior da população, que vem querendo,
procurando. Essa busca da população é até um fator que favorece a expansão
desse campo. E o preconceito vem caindo também entre os próprios profissionais
de saúde que também querem aprender novas tecnologias", avaliou.
Furquim destaca as
dificuldades em abandonar o vício e aponta como fundamental o apoio recebido.
"Não é fácil. Tem que ter muita força de vontade. Quem me vê hoje e me viu
uns anos atrás não acredita que sou a mesma pessoa", disse. Mais de 10 anos
longe do cigarro, a saúde pulmonar dele pode ser comparada à de um não fumante,
segundo profissionais do Hospital Sírio-Libanês.
Doença.
O tabagismo é uma
doença (dependência de nicotina) que tem relação com aproximadamente 50
enfermidades, dentre elas vários tipos de câncer, como de pulmão, de laringe,
de faringe, do esôfago, do estômago, do pâncreas, do fígado, de rim, da bexiga,
do colo de útero e leucemia.
O Inca informou que os
fumantes adoecem com uma frequência duas vezes maior que os não fumantes.
"Têm menor resistência física, menos fôlego e pior desempenho nos esportes
e na vida sexual do que os não fumantes. Além disso, envelhecem mais
rapidamente e ficam com os dentes amarelados, cabelos opacos, pele enrugada e
impregnada pelo odor do fumo".
Furquim lista os
benefícios físicos e sociais conquistados com o fim do vício. "Voltei a
sentir o sabor dos alimentos e a respiração melhorou muito. Hoje, eu pratico
luta marcial, natação e musculação. Tanto a luta quanto a natação, inclusive,
eu faço com meu filho mais novo", disse o funcionário público, que começou
a fumar aos 16 anos. A decisão de parar veio com o nascimento do segundo filho,
que hoje tem 12 anos. "Eu não queria ser uma influência negativa".
Tabagismo.
O estudo "A Curva
Epidêmica do Tabaco no Brasil: Para Onde Estamos Indo?", lançado pelo Inca
analisa as tendências temporais da taxa de mortalidade por câncer de pulmão no
Brasil. O tabagismo mata mais da metade de seus usuários e é responsável por
oito milhões de mortes mundialmente por ano, sendo a principal causa de morte
evitável.
A estimativa é que
surjam dois milhões de novos casos de câncer de pulmão em 2019 no mundo, sendo
o primeiro tipo de câncer entre os homens e o terceiro entre as mulheres. No
Brasil, a estimativa é de 31.270 novos casos este ano, com 27.931 óbitos por
câncer de pulmão registrados no país em 2017.
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