FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).
Fiquei sensibilizado com as manifestações de solidariedade e de apoio nessa guerra que não é santa, mas é funesta em favor da vida. Para minha satisfação pessoal o artigo escrito neste espaço no final de semana – “ Pobre? Morra! – teve uma repercussão além do que poderia eu supor. Isso demonstra que apesar do inferno em que estamos jogados ainda há uma parcela ponderável de nossa sociedade capaz de se indignar, de espernear, de xingar e de lutar a favor do próximo. No comentário de sábado e domingo publicado nesta Tribuna, relatei com a frieza que o tema exigia, mas sem em nenhum instante deixar-me contaminar pela estupidez humana, o drama vivido por uma enteada que, talvez por falta de compaixão divina, teve a infelicidade de precisar ser socorrida no PAN de Roma. A garota de 26 anos sofre o que Satanás não sofre. Aliás, tenho uma tese: Satanás é espirituoso e imenso quando se trata de lidar e observar a desgraça alheia. Pois bem: Suellen Pimentel Lopes passou horas a fio sentada numa cadeira. Não teve direita nem a uma maca ou muito menos uma cama decente. Mesmo assim agradeceu aos céus. Foi privilegiada com uma mísera e desconfortável cadeira, de onde recebeu, depois de penar como todo pobre que só existe para dar trabalho às classes mais abastadas – pobre tem que morrer, estou convencido disso – o primeiro atendimento. Não quero personalizar. Por isso, é necessário que generalize. A situação enfrentada por Suellen é a mesma de centenas de milhares de baianos. Mas ela tinha que ser castigada exemplarmente. A propósito, já o é desde que veio a esse mundo. Ela teria que ser atirada às trevas mal saiu do ventre da sua mãe, que, por ironia do destino, teve o desatino de casar comigo. Azar dela. Mas o maior crime cometido pela jovem foi justamente o de ter exposto a cara na Terra sem contar com Pais ricos. Nasceu pobre, cresceu pobre, vai envelhecer pobre e morrer pobre. Ela é o retrato de tantas e tantos outras jovens – mulheres e homens – espalhados por este país afora. Vou voltar um pouquinho atrás. Minha raiva, meu rancor e meu sentimento de impotência foram recompensados pelas palavras, pelos telefonemas e pelos e-mails de conforto e consolo. É incrível como as pessoas simples são humanas e aconchegantes nos momentos mais difíceis de uma figurinha que poderia simplesmente estar morta. Incrível também é a falta de compromisso das chamadas autoridades com os traumas da maioria desse povo. Um único servidor público – do governador ou auxiliar de enfermagem, passando pelo secretário da Saúde e seu subsecretário- sequer teve o trabalho de saber se a dita cuja já estava enterrada. Pessoalmente dispensaria coroas de flores ou mesmo um caixão fosse ele luxuoso ou de quinta categoria normalmente destinado aos infortunados. Obviamente não gostaria – e até denunciaria como algo estúpido porque unilateral – que eles, os donos da Bahia, se importassem. Não, jamais, longe de mim supor ou querer um troco como esse. O que gostaria – e vou continuar bradando enquanto tiver voz e dedos para teclar no computador as palavras que fazem parte deste e de tantos outros artigos que ainda virão sobre o tema – é que fosse normal se chegar a um posto de saúde ou hospital públicos e ser pronta e dignamente atendido. Hoje eu rio para me acabar quando vejo o noticiário alarmante sobre sonegadores de impostos. Rio porque sonegador neste país são os ricaços. Pobre não tem o que sonegar. E se tiver eu aconselho que sonegue. Afinal, para que diabo viver pagando imposto se nem uma cama de faquir lhe é oferecida quando há necessidade de um socorro imediato? Proponho que ao invés de um tratamento sofrível se deixe já carregada uma injeção, de preferência letal, para extinguir essas pragas que teimam em incomodar nossa gente de bem, como nossos secretários, prefeito, governador e o diabo que o parta.
Fiquei sensibilizado com as manifestações de solidariedade e de apoio nessa guerra que não é santa, mas é funesta em favor da vida. Para minha satisfação pessoal o artigo escrito neste espaço no final de semana – “ Pobre? Morra! – teve uma repercussão além do que poderia eu supor. Isso demonstra que apesar do inferno em que estamos jogados ainda há uma parcela ponderável de nossa sociedade capaz de se indignar, de espernear, de xingar e de lutar a favor do próximo. No comentário de sábado e domingo publicado nesta Tribuna, relatei com a frieza que o tema exigia, mas sem em nenhum instante deixar-me contaminar pela estupidez humana, o drama vivido por uma enteada que, talvez por falta de compaixão divina, teve a infelicidade de precisar ser socorrida no PAN de Roma. A garota de 26 anos sofre o que Satanás não sofre. Aliás, tenho uma tese: Satanás é espirituoso e imenso quando se trata de lidar e observar a desgraça alheia. Pois bem: Suellen Pimentel Lopes passou horas a fio sentada numa cadeira. Não teve direita nem a uma maca ou muito menos uma cama decente. Mesmo assim agradeceu aos céus. Foi privilegiada com uma mísera e desconfortável cadeira, de onde recebeu, depois de penar como todo pobre que só existe para dar trabalho às classes mais abastadas – pobre tem que morrer, estou convencido disso – o primeiro atendimento. Não quero personalizar. Por isso, é necessário que generalize. A situação enfrentada por Suellen é a mesma de centenas de milhares de baianos. Mas ela tinha que ser castigada exemplarmente. A propósito, já o é desde que veio a esse mundo. Ela teria que ser atirada às trevas mal saiu do ventre da sua mãe, que, por ironia do destino, teve o desatino de casar comigo. Azar dela. Mas o maior crime cometido pela jovem foi justamente o de ter exposto a cara na Terra sem contar com Pais ricos. Nasceu pobre, cresceu pobre, vai envelhecer pobre e morrer pobre. Ela é o retrato de tantas e tantos outras jovens – mulheres e homens – espalhados por este país afora. Vou voltar um pouquinho atrás. Minha raiva, meu rancor e meu sentimento de impotência foram recompensados pelas palavras, pelos telefonemas e pelos e-mails de conforto e consolo. É incrível como as pessoas simples são humanas e aconchegantes nos momentos mais difíceis de uma figurinha que poderia simplesmente estar morta. Incrível também é a falta de compromisso das chamadas autoridades com os traumas da maioria desse povo. Um único servidor público – do governador ou auxiliar de enfermagem, passando pelo secretário da Saúde e seu subsecretário- sequer teve o trabalho de saber se a dita cuja já estava enterrada. Pessoalmente dispensaria coroas de flores ou mesmo um caixão fosse ele luxuoso ou de quinta categoria normalmente destinado aos infortunados. Obviamente não gostaria – e até denunciaria como algo estúpido porque unilateral – que eles, os donos da Bahia, se importassem. Não, jamais, longe de mim supor ou querer um troco como esse. O que gostaria – e vou continuar bradando enquanto tiver voz e dedos para teclar no computador as palavras que fazem parte deste e de tantos outros artigos que ainda virão sobre o tema – é que fosse normal se chegar a um posto de saúde ou hospital públicos e ser pronta e dignamente atendido. Hoje eu rio para me acabar quando vejo o noticiário alarmante sobre sonegadores de impostos. Rio porque sonegador neste país são os ricaços. Pobre não tem o que sonegar. E se tiver eu aconselho que sonegue. Afinal, para que diabo viver pagando imposto se nem uma cama de faquir lhe é oferecida quando há necessidade de um socorro imediato? Proponho que ao invés de um tratamento sofrível se deixe já carregada uma injeção, de preferência letal, para extinguir essas pragas que teimam em incomodar nossa gente de bem, como nossos secretários, prefeito, governador e o diabo que o parta.
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