FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.
As políticas de controle
do tabaco desenvolvidas durante o período 1989-2008 conseguiram reduzir o consumo em quase 50%.
No entanto, apesar desse bom resultado, não houve um olhar específico para as
desigualdades socioeconômicas. Tal afirmativa se comprova no momento em
que as pesquisas analisam a situação de vulnerabilidade às quais as populações
de baixa
renda estão submetidas quando o assunto é o alcance das políticas de
controle.
O alerta faz parte da pesquisa Impostos sobre o tabaco e políticas
para o controle do tabagismo no Brasil, México e Uruguai – resultados do
Brasil, desenvolvida pelo Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab) da
Escola Nacional
de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), em parceria com a Aliança de Controle do
Tabagismo (ACT) e a Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense
(UFF). Os resultados foram apresentados nessa terça-feira (26), na Jornada
Internacional sobre Impostos, Preços e Políticas de Controle do Tabaco,
realizada na UFF.
Os dados apontam que os pobres estão
mais expostos à substância, têm menor
percepção das mensagens de alerta à saúde e encontram-se mais vulneráveis
às doenças
relacionadas ao tabaco. O estudo, coordenado pela pesquisadora da Ensp
Vera Luiza da Costa e Silva, identificou a demanda de fumar por grupo de
renda ou nível educacional, além de avaliar diferentes reações aos impostos e
outras políticas de controle do tabaco. “A pesquisa tem uma grande importância
para o País, uma vez que levanta potenciais razões para as iniquidades
observadas na distribuição do tabagismo no território nacional.
Ela corrobora os resultados de estudos realizados em
outros países, em que a epidemia do tabaco se concentrou entre os mais pobres”, explica a
coordenadora do Cetab a respeito do trabalho, realizado simultaneamente no
México e no Uruguai, e financiado pela Agência de Cooperação do Canadá
International Development Research Centre (IDRC).
Situações de vulnerabilidade.
Além de concluir que as pessoas com
baixo nível
de escolaridade têm maior probabilidade de sofrer das doenças causadas pelo tabagismo, a
pesquisa aponta certa tendência ao crescimento da diferença entre ricos e
pobres, uma vez que os indicadores apresentados sinalizam um cenário
extremamente desfavorável para os grupos socioeconômicos mais baixos em relação
à epidemia do tabaco. O relatório confirma que pobres fumam mais, possuem maior
exposição ao tabagismo passivo, menor percepção das mensagens de alerta à
saúde, menor índice de abandono ao tabagismo e estão expostos, de forma
semelhante, às mensagens pró e antitabaco. Além disso, gastam mais dinheiro
para comprar produtos de tabaco e morrem mais por doenças relacionadas ao
tabaco.
Na opinião da coordenadora do estudo,
constatou-se que não basta conceber campanhas e políticas de controle do
tabagismo no Brasil apenas em áreas temáticas. É preciso que cada iniciativa
traçada teste e elabore estratégias que tenham impacto na população de menor
nível socioeconômico, com campanhas, mensagens de
advertência, medidas de fiscalização e ofertas de tratamento desenhadas para
esse grupo. “Só assim poderemos continuar reduzindo a proporção de fumantes na
população para níveis menores de 5%, levando o país a entrar no que vem sendo
chamado de ‘a jogada final’ do tabaco”, concluiu.
Para a diretora-executiva da ACT,
Paula Johns, os dados demonstram que o tabagismo ainda não é um desafio
superado no Brasil. “Além de avançar na implementação das políticas públicas de
controle do tabagismo clássicas, como aumento de preços, ambientes livres
de fumo, proibição de publicidade e de aditivos nos cigarros, é necessário
pensar em iniciativas que cheguem às camadas populacionais mais vulneráveis ao
tabagismo, tratando-o como um determinante social de saúde”, alertou.
Números.
Dados coletados revelam que o
percentual de fumantes de todos os produtos de tabaco entre as pessoas com 15
anos ou mais, com escolaridade menor que sete anos, foi mais duas vezes maior
do que o identificado entre aqueles com pelo menos um ano de universidade. Em relação às
despesas médias mensais com cigarros, foram maiores na faixa da população com
menos escolaridade, significando 13,1% do rendimento médio no grupo com menos
de oito anos de escolaridade, ao passo que corresponderam a 5,4% da renda entre
pessoas com escolaridade superior a 15 anos. No grupo entre 8 e 11 anos de
escolaridade, atingiu 9,8%.
Na cessação, os pesquisadores
observaram que as chances de parar de fumar são maiores no grupo que tem pelo
menos um ano de universidade do que nos grupos que não frequentaram
universidade. O percentual de fumantes com menos de sete anos de escolaridade
que observou e leu as advertências de saúde nos maços de produtos do tabaco foi
menor que o percentual observado nos dois grupos de nível de educacional mais elevado
(8 a 11 anos de estudo e, pelo menos, um ano de universidade). No entanto, não
existe diferença em relação à intenção de parar quando se comparam os três
grupos.
De acordo com a última Pesquisa de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério
da Saúde em 2012, o percentual de brasileiros tabagistas com até oito anos de
estudo é de 16,4%, quase o dobro em relação ao segmento populacional com 12 ou
mais anos de escolaridade, que ficou em 9,1%.
A frequência maior é entre os homens, com 21,1%n dos adultos com até
oito anos de estudo, contra 12,2% verificados entre os brasileiros que estudam
mais. As mulheres fumam menos, mas as diferenças relacionadas à formação
acadêmica é a mesma: 12,2% contra 6,6%.
A Vigitel aponta, no entanto, que a população com menor escolaridade já
mostra um movimento para o abandono do tabagismo, o mesmo verificado entre os
de maior escolaridade. Em 2012, 29% dos brasileiros com até oito anos de estudo
se declararam ex-fumantes, enquanto apenas 15% dos que tinham 12 ou mais anos
de estudo afirmaram ter abandonado o tabaco. Entre os homens, o percentual
ultrapassa um terço da população com até oito anos de estudo: 34,2%.
A Vigitel é realizada anualmente pelo Ministério da Saúde desde 2006. O
levantamento envolve 2 mil moradores de cada capital brasileira, com
entrevistas por telefones selecionados de maneira a representar os diversos
extratos de renda da população. São entrevistados apenas pessoas maiores de 18
anos.
Quatro doenças fortemente associadas ao tabagismo se destacam de acordo
com as diferenças socioeconômicas: câncer de pulmão (CP), doença isquêmica do
coração (DIC), doença cerebrovascular (CVV) e doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC). A diferença no risco de morrer por essas doenças foi pelo menos
duas vezes maior entre as pessoas com menos de oito anos de estudo em
comparação com pessoas mais de oito anos de estudo em todo o período
analisado.
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