FONTE: , Philippa Roxby (noticias.uol.com.br).
Não há pai quem não
tenha, ao menos uma vez na vida, sido ignorado por uma criança, que prefere continuar
assistindo à TV, jogando videogame ou brincando com o celular a acatar as
ordens recebidas.
Porém, esse comportamento, capaz de tirar qualquer um do sério, pode não ser proposital, mas estar relacionado à forma como os cérebros dos pequenos se desenvolvem.
É o que sugere uma série de pesquisas realizada por cientistas britânicos, para quem as crianças não ignoram solenemente os adultos, mas sofrem do que eles chamam de "cegueira não intencional".
A cegueira, nesse caso, seria uma falta de percepção, especialmente quando algo foge do foco imediato de atenção delas.
Porém, esse comportamento, capaz de tirar qualquer um do sério, pode não ser proposital, mas estar relacionado à forma como os cérebros dos pequenos se desenvolvem.
É o que sugere uma série de pesquisas realizada por cientistas britânicos, para quem as crianças não ignoram solenemente os adultos, mas sofrem do que eles chamam de "cegueira não intencional".
A cegueira, nesse caso, seria uma falta de percepção, especialmente quando algo foge do foco imediato de atenção delas.
Segundo a professora
Nilli Lavie, do Instituto de Neurociência Cognitiva da Universidade College
London, no Reino Unido, as crianças têm menor noção periférica do que os
adultos.
"Pais e professores devem entender que até quando focam em coisas simples, as crianças têm menor percepção do que está ao redor delas, em comparação com os adultos".
"Uma criança tentando fechar o zíper do casaco enquanto cruza a rua, por exemplo, pode não ser capaz de prestar atenção no tráfego de automóveis, enquanto um adulto com plenas faculdades mentais não teria problema nenhum em exercer esses dois movimentos simultaneamente", acrescenta Lavie.
"Em resumo, a capacidade de percepção do que está fora do foco de atenção se desenvolve com a idade. Dessa forma, crianças menores têm maior risco de sofrer o que chamamos de 'cegueira não intencional'", conclui a cientista.
"Pais e professores devem entender que até quando focam em coisas simples, as crianças têm menor percepção do que está ao redor delas, em comparação com os adultos".
"Uma criança tentando fechar o zíper do casaco enquanto cruza a rua, por exemplo, pode não ser capaz de prestar atenção no tráfego de automóveis, enquanto um adulto com plenas faculdades mentais não teria problema nenhum em exercer esses dois movimentos simultaneamente", acrescenta Lavie.
"Em resumo, a capacidade de percepção do que está fora do foco de atenção se desenvolve com a idade. Dessa forma, crianças menores têm maior risco de sofrer o que chamamos de 'cegueira não intencional'", conclui a cientista.
Experimento.
A constatação de
Lavie é baseada em um experimento que ela conduziu recentemente para testar os
níveis de "cegueira não intencional" em crianças e adultos.
Lavie pediu a mais de 200 visitantes do Museu de Ciência de Londres para escolher a linha mais longa de uma tela com sete exemplos diferentes.
Em uma das telas, um quadrado preto piscava e, em seguida, participantes tinham de responder se viram a figura.
Enquanto 90% dos adultos foram capazes de perceber a presença do quadrado durante praticamente todo o tempo, menos de 10% das crianças abaixo de 10 anos detectaram o objeto.
Já crianças de 11 a 14 anos demonstraram uma maior capacidade de percepção, enquanto essa aptidão diminuía à medida que a dificuldade da tarefa aumentava.
Essa descoberta surpreendeu Lavie.
"Nas crianças, o córtex visual primário não respondia ao objeto presente na tela e isso parece se desenvolver com a idade, até os 14 anos e depois disso também. Mas eu não esperava que crianças mais velhas também sofressem de 'cegueira não intencional'. Seria interessante ver até que ponto esse comportamento se desenvolve".
Pesquisas anteriores em cérebros de adultos sugerem que o córtex visual primário é a parte do cérebro responsável pela percepção dos objetos. Pacientes que sofreram algum tipo de dano nessa região tendem a experimentar menor noção periférica.
Há, também, implicações óbvias do desenvolvimento tardio desse comportamento. Digitar no celular ao cruzar uma rua, por exemplo, se torna muito mais perigoso se tal percepção não estiver totalmente desenvolvida, por exemplo.
Lavie pediu a mais de 200 visitantes do Museu de Ciência de Londres para escolher a linha mais longa de uma tela com sete exemplos diferentes.
Em uma das telas, um quadrado preto piscava e, em seguida, participantes tinham de responder se viram a figura.
Enquanto 90% dos adultos foram capazes de perceber a presença do quadrado durante praticamente todo o tempo, menos de 10% das crianças abaixo de 10 anos detectaram o objeto.
Já crianças de 11 a 14 anos demonstraram uma maior capacidade de percepção, enquanto essa aptidão diminuía à medida que a dificuldade da tarefa aumentava.
Essa descoberta surpreendeu Lavie.
"Nas crianças, o córtex visual primário não respondia ao objeto presente na tela e isso parece se desenvolver com a idade, até os 14 anos e depois disso também. Mas eu não esperava que crianças mais velhas também sofressem de 'cegueira não intencional'. Seria interessante ver até que ponto esse comportamento se desenvolve".
Pesquisas anteriores em cérebros de adultos sugerem que o córtex visual primário é a parte do cérebro responsável pela percepção dos objetos. Pacientes que sofreram algum tipo de dano nessa região tendem a experimentar menor noção periférica.
Há, também, implicações óbvias do desenvolvimento tardio desse comportamento. Digitar no celular ao cruzar uma rua, por exemplo, se torna muito mais perigoso se tal percepção não estiver totalmente desenvolvida, por exemplo.
Vantagens.
Mas há um lado positivo
na cegueira não intencional.
Quem quer ser distraído por tudo e por todos? Certamente a falta de consciência periférica significa que podemos reter nosso foco e concentrar.
Psicólogos argumentam que todos temos uma capacidade limitada de atenção até certo nível, e quando executamos tarefas árduas, ignorar o que está à nossa volta é fundamental.
Para Richard Wiseman, professor de psicologia da Universidade de Hertfordshire, o processamento da visualização humana "é enormemente complicado".
"Grandes partes do cérebro são dedicadas a essa função. É muito difícil, então não queremos processar o que não é importante".
"É por essa razão que precisamos da cegueira não intencional. Do contrário, não seríamos capazes de focar numa determinada tarefa", diz ele.
Uma vez que o cérebro cria a ilusão de que está constantemente monitorando tudo, alega o pesquisador, normalmente nos surpreendemos quando não percebemos algo que beira o óbvio.
Para comprovar sua teoria, Wiseman deu nova roupagem a um teste famoso de atenção seletiva, criado pelo cientista Daniel Simons, para demonstrar quão facilmente deixamos de notar a presença de um gorila em um vídeo.
Enquanto assistiam ao vídeo, os pesquisadores pediam que as pessoas se concentrassem em outras coisas, como, por exemplo, quantas vezes uma bola era passada entre pessoas jogando basquete.
Em outro experimento, Wiseman pediu às pessoas que se concentrassem em um truque de cartas. Durante o truque, alguns itens ao fundo mudavam de cor, mas poucos perceberam a mudança uma vez que estavam focados nas cartas.
Segundo o especialista, pessoas criativas tendem a ter um desempenho melhor nesse tipo de teste, enquanto indivíduos ansiosos ou muito preocupados com a tarefa tendem a notar menos o que foge do seu centro de atenção.
Wiseman acredita que há muitas ocasiões na vida em que não percebemos "o óbvio" porque estamos totalmente focados em outros problemas.
Um exemplo ocorre quando motoristas acabam atropelando pedestres porque estavam prestando atenção em outra coisa, ou pilotos de avião que relatam não ter percebido as luzes de emergência na cabine porque estavam ocupados com outros assuntos.
"Um adulto está constantemente aprendendo a julgar o que é ou não é importante, então estamos mais propensos a cometer esses deslizes", resume Wiseman.
Quem quer ser distraído por tudo e por todos? Certamente a falta de consciência periférica significa que podemos reter nosso foco e concentrar.
Psicólogos argumentam que todos temos uma capacidade limitada de atenção até certo nível, e quando executamos tarefas árduas, ignorar o que está à nossa volta é fundamental.
Para Richard Wiseman, professor de psicologia da Universidade de Hertfordshire, o processamento da visualização humana "é enormemente complicado".
"Grandes partes do cérebro são dedicadas a essa função. É muito difícil, então não queremos processar o que não é importante".
"É por essa razão que precisamos da cegueira não intencional. Do contrário, não seríamos capazes de focar numa determinada tarefa", diz ele.
Uma vez que o cérebro cria a ilusão de que está constantemente monitorando tudo, alega o pesquisador, normalmente nos surpreendemos quando não percebemos algo que beira o óbvio.
Para comprovar sua teoria, Wiseman deu nova roupagem a um teste famoso de atenção seletiva, criado pelo cientista Daniel Simons, para demonstrar quão facilmente deixamos de notar a presença de um gorila em um vídeo.
Enquanto assistiam ao vídeo, os pesquisadores pediam que as pessoas se concentrassem em outras coisas, como, por exemplo, quantas vezes uma bola era passada entre pessoas jogando basquete.
Em outro experimento, Wiseman pediu às pessoas que se concentrassem em um truque de cartas. Durante o truque, alguns itens ao fundo mudavam de cor, mas poucos perceberam a mudança uma vez que estavam focados nas cartas.
Segundo o especialista, pessoas criativas tendem a ter um desempenho melhor nesse tipo de teste, enquanto indivíduos ansiosos ou muito preocupados com a tarefa tendem a notar menos o que foge do seu centro de atenção.
Wiseman acredita que há muitas ocasiões na vida em que não percebemos "o óbvio" porque estamos totalmente focados em outros problemas.
Um exemplo ocorre quando motoristas acabam atropelando pedestres porque estavam prestando atenção em outra coisa, ou pilotos de avião que relatam não ter percebido as luzes de emergência na cabine porque estavam ocupados com outros assuntos.
"Um adulto está constantemente aprendendo a julgar o que é ou não é importante, então estamos mais propensos a cometer esses deslizes", resume Wiseman.
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