FONTE: Fátima Protti, I Especial para o
iGay, TRIBUNA DA BAHIA.
Sou gay assumido, minha família me
aceita e me respeita. Tenho um amigo que não vive a mesma situação,
infelizmente. Ele é homossexual, já se relacionou com homens, mas não consegue
se aceitar. Tanto ele quanto a família são muito religiosos, acho que isso
interfere na maneira dele lidar com a própria sexualidade. Tenho vontade de
ajudá-lo. Como posso fazer isso?
Caro leitor, qualquer atitude insistente da sua parte pode ser entendida
e sentida como uma grande pressão ou agressão. Às vezes, nossa boa intenção em
ajudar prejudica uma grande amizade, enterrando de vez a mínima possibilidade
de estar ao lado desse amigo para poder apoiá-lo no momento oportuno. No seu
caso, acredito que é melhor deixá-lo à vontade. Torcer para que num futuro
muito próximo ele se liberte dos grilhões que o aprisionam.
No entanto, se existe entre vocês intimidade e cumplicidade, você pode
ajudá-lo nesse processo de aceitação, mesmo que seja de uma maneira sutil. Aos
poucos, promova saídas e atividades de lazer com a presença de outros amigos
gays. Isso facilita a identificação e a troca de ideias.
Conversas gerais sobre o tema também auxiliam na reflexão. Uma
publicação sobre diversidade sexual ou homossexualidade pode ser um presente
útil, fornecendo temas para esses bate-papos. Indico para você um livro legal
neste sentido. A obra “O Armário – Vida e Pensamento do Desejo Proibido”
(Editora Independente), de autoria de Fabrício Viana.
É preciso entender que a sociedade ainda trava uma luta com seu próprio
preconceito em relação à homossexualidade. Para um número grande de pessoas,
ela é entendida, equivocadamente, como uma patologia ou uma anormalidade,
apesar de a Associação Americana de Psiquiatria ter tirado esta orientação
homossexual do quadro das doenças mentais, em 1973. A Organização Mundial de
Saúde fez o mesmo em 1993.
O preconceito em nossa sociedade tem raízes profundas, pois ao longo do
tempo foram construídas ideias e crenças sobre nossa sexualidade, sem
fundamentos, e com a intenção de controle e dominação.
A família, a religião, o trabalho e os amigos podem facilitar ou
dificultar a saída do armário. Aliás, está é uma maneira precisa que descrever
o ato de assumir publicamente uma orientação sexual.
Mas a saída do armário fica muito difícil se a pessoa ainda não aceitou
plenamente a própria orientação homossexual, entendendo que é normal desejar e
se relacionar afetivo e sexualmente com outra pessoa do mesmo sexo.
Todo esse processo é delicado e, na maioria das vezes, longo. É único,
pois implica vários aspectos da história de vida de uma pessoa. O medo, a culpa
e a vergonha estão sempre presentes, principalmente quando o desejo aparece. É
preciso tempo para ressignificar aquilo que a impede de assumir de fato a sua
homossexualidade.
É a partir daí que o seu amigo ou qualquer pessoa na mesma situação que
a dele vai construir seus relacionamentos, uma vida emocional e sexual
saudável.
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