terça-feira, 27 de maio de 2014

ESTUDO LIGA ESQUISTOSSOMOSE A MAIOR INCIDÊNCIA DE HIV EM AFRICANAS...

FONTE: DONALD G. McNEIL Jr., DO "NEW YORK TIMES" (noticias.uol.com.br).

Em todo o mundo, uma ampla maioria das vítimas da Aids é de homens. Mas a África há muito tempo tem sido a gritante exceção: quase 60% são mulheres. E, embora haja muitas teorias para isso, ninguém conseguiu provar nenhuma.

Numa clínica nesta zona rural da Província de KwaZulu/Natal, na África do Sul, infectologistas noruegueses acreditam ter encontrado uma nova explicação.

Se for correta, uma solução de baixo custo pode prevenir milhares de contaminações por ano.

A equipe acredita que as africanas sejam mais vulneráveis ao HIV devido a uma doença parasitária crônica e não diagnosticada: a esquistossomose genital.

A doença é provocada por vermes parasitas que habitam rios infestados. Ela se caracteriza por feridas no canal vaginal, as quais podem facilitar a entrada do HIV, o vírus que provoca a Aids.

A médica Eyrun Kjetland, que lidera a equipe, diz que a doença é mais comum do que a sífilis ou o herpes, que também podem abrir caminho para o HIV.

Além disso, os ovos e vermes nas feridas atraem células CD4, o tipo atacado pelo vírus da Aids.

Os vermes podem ser eliminados com uma droga que custa US$ 0,08 (R$ 0,18) por comprimido. A equipe de Kjetland tenta determinar se o medicamento irá curar as feridas em mulheres jovens.

Alguns especialistas em Aids questionam a teoria da esquistossomose, observando que mulheres criadas longe de águas infestadas também morrem de Aids.

Mas os defensores da teoria argumentam que, há 20 anos, muitos eram céticos em relação à ideia de que a circuncisão protegia os homens contra o HIV. Até que em 2006 testes clínicos provaram que a tese estava correta.

A esquistossomose "é, possivelmente, o cofator mais importante na epidemia de Aids na África", disse Peter Hotez, da Escola Nacional de Medicina Tropical, ligada à Faculdade de Medicina Baylor, em Houston (Texas). "E é uma questão da saúde feminina."

Líderes das duas agências que financiam a luta global contra a Aids querem mais provas antes de mudarem suas campanhas atuais, voltadas para preservativos, medicamentos e circuncisão.

"Precisamos rastrear todas essas coisas e ver o que é uma causa e o que é apenas ter outra doença ao mesmo tempo, como câncer do colo do útero", disse Mark Dybul, do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária.

O médico Eric Goosby, que foi coordenador do Plano Emergencial do Presidente dos EUA para o Alívio à Aids (Pepfar, na sigla em inglês), concorda que feridas vaginais podem contribuir para a entrada do vírus.

Mas disse que "muitas mulheres que têm o HIV não têm esquistossomose, e vice-versa".

Estima-se que 200 milhões de africanos já tiveram esquistossomose. Embora raramente seja fatal, em crianças o sangramento pode levar a anemia, atrofia e problemas de aprendizagem.

A doença é causada por minúsculos vermes que emergem com cabeças pontiagudas, capazes de penetrar na pele de pessoas que apanham água ou lavam roupas.

Uma vez dentro do organismo, os vermes se acasalam. Muitos se aninham no trato urinário -urina com sangue é o sintoma clássico-, mas alguns vão parar na vagina, criando "retalhos arenosos" de tecido danificado e ovos calcificados dos vermes.

Estudos já mostraram que mulheres com esses "retalhos" têm o triplo de probabilidade de serem contaminadas do que as demais.

Salim Abdool Karim, pesquisador sul-africano da Aids, está cético. Sua equipe acompanha mais de mil mulheres numa área a 65 km de Otimati, com incidência de HIV igualmente elevada.

"Estudamos detalhadamente os tratos genitais há 20 anos, fotografando-os sequencialmente", disse ele, "e não vemos retalhos arenosos". Ao ouvir isso, Kjetland disse que "eles não estão procurando nos lugares certos".

Lutar contra a esquistossomose na África exigiria um amplo esforço para a distribuição de comprimidos. De acordo com Peter Hotez, a doença poderia ser erradicada a um custo de US$ 22,4 milhões (R$ 49,5 milhões) por ano.


Em "A solução de US$ 0,32 para o HIV", ele defende a entrega de quatro comprimidos de vermífugo para 70 milhões de crianças todos os anos. O valor é bem menor que a estimativa de US$ 38 bilhões (R$ 84 bilhões) em gastos da Pepfar neste ano. 

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