terça-feira, 3 de junho de 2014

DROGA PODE PROTEGER A FERTILIDADE EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA...

FONTE: *** , Andrew Pollack, em Chicago (EUA)  (noticias.uol.com.br).

Uma droga chamada goserelina pode ajudar as mulheres com câncer de mama a manterem a capacidade de ter bebês, aparentemente protegendo seus ovários dos danos causados pela quimioterapia, relataram pesquisadores aqui na sexta-feira (30).

O tratamento poderia fornecer uma nova opção para lidar com um dos dilemas mais dolorosos enfrentados por jovens pacientes de câncer –o de fazer o máximo para salvar suas vidas poder prejudicar, até mesmo arruinar, sua fertilidade.

Os pesquisadores disseram que o medicamento goserelina, que fecha temporariamente os ovários, parece proteger a fertilidade. Em um teste clínico, as mulheres que receberam injeções de goserelina juntamente com a quimioterapia tiveram menos problemas no ovário e deram à luz mais bebês do que mulheres que receberam apenas quimioterapia.

"Não é uma panaceia, mas com base nesses dados, pode ser a escolha certa para algumas pacientes", disse a dra. Ann H. Partridge, uma especialista em câncer de mama do Instituto Dana-Farber de Câncer, em Boston, e autora do estudo, que será apresentado aqui no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.

Partridge disse que cerca de 16 mil mulheres americanas com menos de 45 anos têm câncer de mama a cada ano. A fertilidade prejudicada por causa da quimioterapia também é um problema para mulheres e homens com outros tipos de câncer e para crianças que sobrevivem à doença, apesar de não estar claro se os resultados deste estudo se aplicariam a eles, ela disse.

A goserelina é vendida pela AstraZeneca sob o nome de marca Zoladex. As vendas globais do medicamento foram de cerca de US$ 1 bilhão em 2013.

A goserelina e outras drogas semelhantes, conhecidas como agonistas do hormônio liberador de gonadotropina, costumam ser usadas em terapias hormonais para tratamento de câncer de mama e próstata. Elas também são usadas em clínicas de fertilidade para controle do momento da ovulação.

A principal opção no momento para pacientes jovens de câncer de mama que desejam aumentar suas chances de terem bebês é ter múltiplos óvulos removidos de seus ovários, como é feito na fertilização in vitro. Os óvulos podem ser congelados ou usados para criação de embriões, que então são congelados.

Mas esse é um procedimento invasivo que custa milhares de dólares, e em alguns casos as mulheres precisam começar a quimioterapia tão rápido que não dispõem das duas ou três semanas necessárias para se submeterem ao processo de retirada dos óvulos.

As injeções de goserelina poderiam ser uma alternativa mais barata e mais fácil. Mas até agora, os estudos que a testavam informaram resultados inconsistentes. As diretrizes da sociedade de oncologia dizem que as evidências são insuficientes de que a abordagem é eficaz e que ela "não deve ser usada para preservar a fertilidade".

Partridge, que está no comitê que desenvolveu as diretrizes, disse achar que elas precisarão ser revistas diante do novo estudo.

O estudo, que foi patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde, envolveram 257 mulheres pré-menopausa passando por quimioterapia, antes ou depois de terem seus tumores removidos cirurgicamente.

Dois anos após o início da quimioterapia, apenas 8% das mulheres que receberam mensalmente injeções de goserelina apresentaram falência do ovário, em comparação a 22% daquelas que não; 21% das mulheres no grupo da goserelina engravidaram, em comparação a 11% no grupo de controle, e tiveram mais de um bebê. Os pesquisadores disseram que a diferença não pode ser explicada pela diferença no número de mulheres que tentaram conceber em cada grupo.

Em um resultado inesperado, os pesquisadores relataram que as mulheres que receberam goserelina também apresentaram um risco significativamente menor de morrer após quatro anos.

A dra. Jennifer Litton, uma oncologista de mama que não esteve envolvida no estudo, disse que os dados eram insuficientes para recomendar o uso da goserelina no tratamento de cânceres, mas ao menos sugerem que não piora os resultados do câncer se usada para preservar a fertilidade.

Mesmo assim, Litton, que é do MD Anderson Cancer Center, em Houston, disse que o estudo foi relativamente pequeno e que as chances de gravidez ainda são maiores com a remoção de óvulos, apesar do uso de uma técnica não impedir o uso da outra.

"Eu não acho que será a única coisa que será oferecida para preservação da fertilidade", disse sobre a goserelina.

Partridge disse que há diferenças entre o novo estudo e muitos dos anteriores, alguns dos quais mostravam que a abordagem não era eficaz na preservação da fertilidade.

O novo estudo, ela disse, mediu os índices de gravidez, que é uma melhor indicação de fertilidade do que a perda dos períodos menstruais, uma medição menos direta usada em muitos dos estudos anteriores. Algumas mulheres podem perder a fertilidade mesmo que continuem menstruando, enquanto outras podem ser férteis, apesar de não menstruarem, disse.

Alguns dos estudos anteriores também incluíram mulheres com câncer receptor hormonal positivo, o que significa que o tumor é alimentado por estrógeno. As mulheres com esse tipo de câncer geralmente tomam tamoxifeno, que por si só pode causar perda da menstruação, disse.

O novo estudo incluiu apenas mulheres com câncer receptor hormonal negativo. Partridge disse achar que os resultados também podem ser extrapolados para pessoas com câncer receptor hormonal positivo. Mas as mulheres com câncer receptor hormonal positivo tomam medicamentos que suprimem o estrógeno e geralmente são orientadas a não tentarem engravidar.

Não está claro por que a goserelina protege os ovários. Há alguma especulação de que tornar os ovários menos ativos os protege da quimioterapia. O lado negativo é que a goserelina induz a um estado temporário de pós-menopausa, que pode trazer ondas de calor e outros sintomas.

*** Tradutor: George El Khouri Andolfato.

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