FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
A novela ‘Império’, da Rede Globo, tem mostrado com propriedade como a homofobia é nociva, e causa mal para muito além de afetar os LGBTs. A intolerância de Enrico Bolgari (Joaquim Lopes) já tinha levado a uma ruptura familiar, já que ele declarou guerra ao pai, Cláudio (José Mayer), e de tabela brigou também com a mãe e a irmã. Nesta semana, ele se sentiu afetado pela presença de um travesti em sua despedida de solteiro e o agrediu. Por fim, a homofobia de Enrico foi a gota d'água para destruir, à beira do altar, seu relacionamento com Maria Clara (Andrea Horta).
Fora
das telas, muitas mulheres se reconhecem nesse conflito e também não estão
dispostas a aceitar comportamento semelhante dos parceiros. Quando Thalita
Pereira, de 21 anos, conheceu João*, com quem manteve um relacionamento por
dois meses, ela jamais imaginaria que ele pudesse ser homofóbico. Primeiro
porque os dois se conheceram justamente em uma balada voltada ao público LGBT.
E, segundo, porque ele sempre tratou os amigos gays dela muito bem.
“Ele
sempre dizia que não tinha nada contra, que gostava bastante de frequentar o
local, mas um dia ele pediu para eu não me relacionar mais com meus amigos
gays, pois isso só ia me prejudicar, e nas palavras dele queimava o meu filme”,
comenta.
Assim
que ouviu esse ‘conselho’, Thalita não pensou duas vezes: falou que jamais
abandonaria seus amigos por alguém que pensasse assim e que ele, a partir dali,
era insignificante na vida dela. Fim de caso.
Quem
também se relacionou com um homofóbico que se dizia simpatizante foi a
professora Sabrine, de 31 anos. “Ele era bastante contraditório. Conheci um
amigo dele que ele tratava super bem, que era gay assumido e estavam sempre
juntos. Mas quando se unia a outros amigos heteros, todos faziam comentários do
tipo: ‘A única coisa que estraga é ele ser gay’. Como se o ‘ser gay’ fosse um
vício ou algo assim, saca?", diz.
Ouvindo
esses comentários, Sabrine começou a perceber que aquela situação estava
condenada ao fracasso. Não chegava a discutir com o namorado, mas observava seu
comportamento. Ela reconhece que, na época, não sabia direito o que fazer e
vivia em um ‘mundinho de faz-de-conta’.
A
relação não durou muito tempo, mas deixou uma lição. Hoje, a professora quer
distância de pessoas homofóbicas. “Minha cabeça é outra, minhas convicções são
outras. Não faz sentido algum [me relacionar com homofóbico]. Eu tenho amigos
LGBTs e vejo diariamente o que o ódio causa: agressões, mortes, coisas muito
tristes e que não dá pra aceitar.”
“Esse tipo de situação é broxante”.
Às
vezes, demoramos para perceber que alguém é homofóbico, principalmente quando a
própria pessoa ainda não notou que algumas atitudes e comentários como chamar o
colega de ‘bicha’ são, sim, ofensivos e preconceituosos. No entanto, há casos
bem mais extremos e perigosos, em que a intolerância é nítida.
Carolina
Garcia, de 27 anos, se afastou totalmente dos amigos gays quando começou a se
relacionar com Carlos*. Segundo ela, o parceiro não dava nenhuma oportunidade
para ficar perto de um LGBT. Quando ele se juntava com os amigos, então, a
coisa piorava. “Ele tinha amigos com ideias um pouco extremistas. Não diria que
eram nazistas, mas pendiam para esse lado às vezes. Eu ficava na minha, era
novinha, mas sabia que aquilo não estava certo”, lembra.
A
situação ficou tão insustentável que, como nos outros casos, o namoro também
chegou ao fim. Carolina, hoje, conta que não dá mais chances para quem ainda
tem a mente fechada e cita o hit ‘Wannabe’, das Spice Girls: “'Se você quer ser
meu namorado, tem que se dar bem com meus amigos’, não é? Sem condições namorar
um homem das cavernas. Antes de gostar de uma pessoa, é necessário admirá-la.
Esse tipo de situação broxa a gente e consequentemente não rola admiração.”
“Uma coisa é pensar diferente, outra é ser escroto”.
Depois
de passar por essas experiências, as três mulheres acreditam que não foram
radicais na decisão de terminar o namoro com os homofóbicos, muito pelo
contrário. Para elas, não há sentido em levar uma relação adiante se você não
tolera esse tipo de comportamento.
“Uma
coisa é respeitar diferenças saudáveis, outra é lidar amigavelmente com gente
escrota. Não dá. Homofobia é desvio de caráter. É como fazer amizade com o
Feliciano e ser simpatizante da causa gay. Não faz o menor sentido”, observa
Sabrine.
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