Embora
as causas do Alzheimer ainda sejam desconhecidas, a cada dia
os cientistas descobrem mais fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida
associados à doença. A mais recente revelação nesse campo sugere que a presença
de gordura insaturada
no cérebro está associada à demência. Uma
pesquisa publicada na terça-feira no periódico científico PLOS Medicine, sugere
que seis tipos de ácidos
graxos insaturados encontrados em duas áreas cerebrais (giro
frontal médio e giro temporal inferior) estão associados ao Alzheimer.
“Este
trabalho sugere que a desregulação do metabolismo pela gordura insaturada desempenha
um papel na condução do Alzheimer e estes resultados fornecem mais
evidências para a base metabólica da patogênese”, explicou Cristina
Legido-Quigley, uma das líderes do estudo.
Uma nova
análise.
Pesquisadores
da Universidade King’s College de Londres, no Reino Unido, e
do Instituto Nacional de Envelhecimento, nos Estados Unidos, analisaram
como os compostos orgânicos gerados por reações do metabolismo dos ácidos graxos insaturados no cérebro de idosos saudáveis se
comportavam e afetavam as suas habilidades cognitivas. Os dados de cada
participante foram avaliados antes e depois de seus óbitos. Durante as
autópsias, o tecido cerebral foi testado para possíveis
neuropatologias, como Alzheimer.
Comparativamente, também foram examinados os níveis dos compostos orgânicos em
uma área do cérebro que normalmente não é afetada pela patologia – o cerebelo.
Os
participantes foram divididos em três grupos: 14 tinham cérebros saudáveis, 15
tinham um acúmulo patológico de proteína tau abundante no sistema neurológico
ou um acúmulo de placas formadas pela proteína beta-amiloide, que podem levar
a doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, mas que não
desenvolveram problemas de memória, e um grupo final de 14 participantes que já
tinham a demência.
Os
resultados mostraram que seis ácidos graxos insaturados encontrados
no giro frontal médio e giro temporal inferior do
cérebro, regiões comumente associadas ao Alzheimer,
estavam relacionadas à doença: ácido docosa-hexaenoico, ácido linoleico,
ácido araquidônico, ácido linolênico, ácido eicosapentaenóico e ácido oleico.
Os
ácidos graxos são nutrientes essenciais que fornecem energia ao corpo humano.
As gorduras são feitas de ácidos graxos, que podem ser saturados ou insaturados.
As saturadas podem elevar os níveis do colesterol ruim, enquanto os insaturados
podem diminuí-lo.
Apesar
dos resultados, como esse foi apenas um estudo observacional, não é possível
explicar a causalidade nem estabelecer se a desregulação dos níveis de gorduras insaturadas causa o Alzheimer ou o contrário.
Com que
idade a doença pode aparecer?
Em
outra pesquisa, realizada na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos,
cientistas criariam um teste, baseado em 31 marcadores genéticos capaz de
calcular e prever em anos a probabilidade de um indivíduo desenvolver Alzheimer.
Segundo o estudo, uma pontuação elevada no teste pode prever um diagnóstico
muitos anos antes do que aqueles com um perfil genético de baixo risco.
O teste de pontuação de risco
poligênico, como é chamado, foi desenvolvido usando dados genéticos de
mais de 70.000 indivíduos, incluindo pacientes com doença de Alzheimer e idosos
saudáveis. A condição já era conhecida pela sua hereditariedade, cerca de um
quarto dos afetados tem a doença no histórico familiar, e os
cientistas mostraram que isso é, em parte, explicado por um gene chamado ApoE.
No entanto, o recente estudo mostra que há milhares de variações genéticas,
além do ApoE, que podem indicar riscos.
Os
pesquisadores identificaram pela primeira vez cerca de 2.000 diferenças de
polimorfismo de nucleotídeo único (SNP), a variação de “letras” na sequência de
DNA no código genético. Depois de classificá-los por influência, desenvolveram
o teste baseado em 31 desses marcadores. O teste foi, então, utilizado para
prever com precisão o risco de um indivíduo desenvolver a
doença.
Em
pessoas com alto risco do gene ApoE, aqueles classificados entre os 10%
com mais alto risco, no novo teste, tiveram Alzheimer em uma idade média de 84
anos, em comparação com 95 anos para aqueles classificados na porcentagem de
menor risco. “Prevenir o desenvolvimento dos sintomas é o santo graal da
pesquisa de Alzheimer,
mas para ter sucesso precisamos antes de métodos precisos para prever quem é
mais provável de desenvolver a condição. Mas é preciso testá-lo em populações
fora dos Estados Unidos”, explicou James Pickett, coordenador da pesquisa.
Como evitar.
A Alzheimer’s
Association, ONG norte-americana de apoio e pesquisa, estima que a cada 66
segundos uma pessoa desenvolve a doença nos Estados Unidos e que um em cada
três idosos é afetado. A mortalidade relacionada ao Alzheimer aumentou em até 89% desde de ano de
2000 , mas a s causas ainda não são claras.
Para
Rosa Sancho, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research, no Reino Unido, embora
a composição genética possa influenciar as chances de desenvolver a doença, uma
dieta saudável combinada à prática de atividades físicas e mentais também podem diminuir o risco. “A
genética é apenas parte da história, sabemos que o estilo de vida também
influencia”, disse. “A melhor evidência aponta para hábitos que podemos adotar
para ajudar a reduzir o
risco. O que é bom para o coração também é bom para o cérebro.”
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