Ter
filhos sempre foi um dos sonhos da bancária Fabiana Galvão Camargo Sarraf.
Antes, porém, ela queria construir uma carreira sólida e alcançar a tão sonhada
estabilidade financeira. Quando tudo isso chegou, aos 39 anos, ela começou a
tentar engravidar. “Você foca no trabalho, o tempo passa e, como se sente bem
fisicamente, jovial, acha que pode esperar, mas o relógio biológico não é bem
assim.” Com ajuda da fertilização in vitro, Fabiana engravidou e deu à luz
Samuel e Mariah em dezembro, no mesmo dia em que fez 42 anos.
Como
Fabiana, cada vez mais brasileiras optam por ter filhos após os 40 anos. Dados
inéditos do Ministério da Saúde mostram que o número de mulheres que foram mães
após essa idade subiu 49,5% em 20 anos, passando de 51.603 em 1995 para 77.138
em 2015, dado mais recente disponível, divulgado em fevereiro.
As estatísticas
de 2015 mostram que 72.290 dessas mamães tinham entre 40 e 44 anos e outras
4.475 estavam na faixa etária dos 45 aos 49. Houve ainda 373 brasileiras que se
aventuraram na maternidade após os 50 – entre elas, 21 já eram sexagenárias
quando deram à luz.
Segundo
Arnaldo Cambiaghi, médico especialista em reprodução humana da clínica IPGO, a
história de Fabiana se repete entre a maioria das mulheres que adia a gravidez. “Buscam
melhor colocação profissional e, além disso, acreditam que a medicina será
capaz de resolver qualquer problema, mas nem sempre é assim. Embora a gravidez
natural e saudável seja possível após os 40, a dificuldade para engravidar e os
riscos para a mãe e o bebê são reais.”
O
médico Antonio Fernandes Moron, professor de obstetrícia da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador de medicina
fetal do Hospital e Maternidade Santa Joana, ressalta que outra razão para
adiar a gravidez é a mudança nas dinâmicas dos relacionamentos afetivos. “A
mulher busca autonomia, independência em relação ao parceiro. Não precisa se
manter em um único relacionamento desde jovem. A maternidade após os 40
acontece muito entre as pessoas que estão, por exemplo, no segundo casamento.”
Segundo
especialistas, conforme aumenta a idade da mulher, crescem os riscos de doenças
na gravidez e de anomalias congênitas ao bebê. Eles podem ser minimizados com
cuidados com a saúde da gestante e exames que identificam possíveis mutações
genéticas nas células reprodutoras.
Foi
por meio de um procedimento do tipo que a analista contábil Damaris de Souza
Carvalho, de 49 anos, conseguiu engravidar dos gêmeos que espera para abril.
Com a idade avançada e endometriose, ela fez tratamentos de reprodução
assistida por dez anos até que, em 2016, conseguiu gerar dois fetos saudáveis.
Antes da fertilização in vitro, seus embriões foram submetidos a um exame que investiga
alterações cromossômicas. Por meio da investigação, o médico consegue escolher
os melhores embriões para implantar no útero, o que reduz o risco de aborto e
de anomalias congênitas.
“Quase
desisti, muitos médicos não me encorajavam, mas desde os 10 anos, quando
brincava de boneca, sonhava em engravidar”, conta. No caso de Damaris, não foi
só a carreira que atrasou a maternidade. Logo que se casou, aos 28 anos, teve
de cuidar do pai com câncer, perdeu um tio e um irmão de forma trágica, assumiu
os cuidados da filha do primeiro casamento do marido e, três anos depois,
também passou a criar um sobrinho.
“Eram
as crianças, trabalho, faculdade, perdas familiares. Não tinha estrutura física
nem emocional para engravidar. Quando, anos depois, o turbilhão passou e eu
estava perto dos 40, comecei a pensar em engravidar, mas foi aí que descobri a
endometriose.”
Apesar
de já ter criado a enteada e o sobrinho, hoje adultos, Damaris diz que está
curtindo agora as fases que nunca pôde viver. “Estou podendo, de fato, ter a
experiência de gestar, pensar no parto, na amamentação. Tudo isso é novo para
mim. Sempre acreditei que, depois da tempestade, viria a bonança.”
A
bancária Fabiana, cujos bebês estão com dois meses, confirma a felicidade.
“Algumas pessoas falam que não teriam pique para ter uma criança mais velhos,
mas acho que, mais importante que a condição física, é o amor e a energia que
você passa para o seu filho. E os meus foram muito desejados.”
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