sexta-feira, 3 de março de 2017

ESTRESSE E ANSIEDADE SÃO FATORES DE RISCO PARA A ENDOMETRIOSE...

FONTE: , Débora Stevaux, (www.msn.com).



Descrita pela primeira vez em 1921, a endometriose é a doença ginecológica mais buscada ao redor do globo. E não à toa: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 6 milhões de brasileiras sofrem silenciosamente com o desconforto recorrente durante a eliminação do fluxo menstrual. Ginecologistas e obstetras também destacam um dado alarmante: aproximadamente 50% das jovens que se queixam de cólicas incapacitantes são portadoras de endometriose.

Estudada há quase um século, as causas da enfermidade relacionada ao desequilíbrio hormonal — aumento do nível de estrógeno no corpo — estão, geralmente associadas à teoria da “menstruação retrógrada“, termo usado para se referir às porções do endométrio que, em vez de serem expelidas pela vagina, crescem irregularmente dentro ou fora do útero, tomando, assim, a área dos ovários e das trompas, o que ocasiona o refluxo menstrual. Um recente estudo encabeçado pela ginecologista Dra. Rosa Maria Neme, e desenvolvido no Hospital das Clínicas, em São Paulo, concluiu que o estresse emocional e a ansiedade são alguns dos maiores fatores de risco da doença. O ginecologista e obstetra Dr. Ricardo Luba fala com exclusividade a CLAUDIA sobre as causas e os tratamentos disponíveis:

CLAUDIA: O que é a endometriose?
Dr. Ricardo Luba: A endometriose é a presença e o crescimento de um tecido que se chama endométrio, fora da região interna do útero da mulher. Ou seja, em qualquer lugar do corpo que não seja o usual. O útero é formado por uma camada muscular externa (serosa) e por uma interna, chamada de mucosa, onde o bebê cresce durante a gravidez, é nessa última que se encontra o endométrio. Pense, por exemplo, em pegar um pedacinho do tecido do endométrio e colocar no seu braço. Então, toda vez que você menstruar, esse pedacinho vai sangrar por ter aquelas células. A endometriose no útero se chama adenomiose, e pode gerar cólica e dor pélvica, porque você apresenta um aumento gradativo do fluxo menstrual. Esse quadro também pode evoluir para uma hemorragia e anemia.

Quais são as causas da endometriose?
Ninguém sabe ao certo porque a doença aparece. Existem duas teorias que tentam explicar o porquê do seu surgimento. Uma delas analisa que, durante o desenvolvimento embrionário, surjam células endometriais em outros tecidos do corpo e que por algum estímulo, normalmente associado a situações de estresse emocional e ansiedade, a doença comece a ser desenvolvida.

Outra é ligada à “menstruação retrógrada”. Esta se trata de um refluxo do sangue menstrual que volta para a cavidade abdominal. As células endometriais têm enorme poder de aderência, especialmente com as do tecido ovariano, intestinal e uterino. Toda mulher menstruada têm esse refluxo, mas apenas alguma liberam o estímulo para que essas células endometriais continuem vivas, mas esse fator desencadeante ainda é um mistério para a medicina.

Quais são os sintomas?
Geralmente as cólicas representam um indicativo fundamental. Se você tem dificuldade para engravidar também pode ser um sinal. A hereditariedade é um fator crucial, porque há uma taxa de 70% de chance de transmissão de mãe para filha. Por isso é muito importante que as mulheres realizem as consultas e os exames de rotina, tenham um diálogo aberto com seus médicos e insistam nas suas queixas, porque ninguém conhece melhor o seu corpo do que você mesmo. Às vezes o simples fato de questionar o médico fará ele solicitar um exame, seja ressonância ou algum outro (este exame costuma ser um bom método para determinar o diagnóstico), mas há também a possibilidade da lesão não ser identificada durante a ressonância. Neste caso, o fato de não haver lesões não significa que elas não existam, mas que talvez o médico precise utilizar outros meios para encontrá-las.

Como os sintomas podem ser identificados?
É praticamente impossível identificar sozinha. Primeiramente, você precisa observar como o seu corpo age durante o ciclo menstrual, se sente cólica forte, distensão abdominal (inchaço da região), dor constante (especialmente quando está menstruada), e levar todas as suas queixas para o seu médico durante os exames de rotina. O diagnóstico clínico pode ser feito através de um exame de videolaparoscopia (procedimento semelhante à endoscopia, no qual o médico visualiza a cavidade abdominal por meio de uma câmera) para enxergar a lesão. Ressonância, ultrassom, e colonoscpia, exames de sangue com dosagem de marcador tumoral são complementares e podem ajudar no diagnóstico. Os ginecologistas também precisam valorizar e entender as necessidades e desconfortos dos pacientes e aliar essas informações aos resultados para determinar o diagnóstico.

O estresse é um fator de risco? Há outros que também podem ser considerados?
Muitos estudiosos acreditam que o estresse e a ansiedade possam ser fatores que desencadeiam o desenvolvimento das células endometriais. Por isso, é necessário que a mulher que esteja apresentando os sintomas citados cuide bem de si, pratique atividade física, se alimente bem, não se cobre tanto no trabalho ou nas relações afetivas. Porque tudo isso diminui a possibilidade de recidiva (reaparecimento da doença), que é altíssima, mesmo após a cirurgia, muitas voltam a ter a lesão, é uma doença bem agressiva.

Há quantos tipos de endometriose?
Podemos segmentar a doença em três tipos: a cística, que é como se fosse uma bolhazinha, onde um cisto encapsulado vai crescendo e que normalmente acomete o ovário; a endometriose típica, que é como se fosse uma lesão acastanhada e aparece sempre na região pélvica feminina e a atípica (que é normalmente branca), essa última provoca muito mais dor que as duas anteriores e surge sempre na região pélvica também. A doença pode se manifestar nos ovários, no espaço retouterino (localizado atrás do útero), onde está o intestino, na região vesical, intestinal, ovariana, pulmonar, no diafragma, fígado etc.

A endometriose atrapalha a fertilidade feminina?
Sim, a endometriose é a principal causa da infertilidade, mas não é porque você tem a doença que é necessariamente infértil. Há pessoas que engravidam e que só descobrem que são portadoras quando já deram à luz. A faixa etária mais recorrente é dos 30 aos 40 anos, mas há uma tendência cada vez maior da enfermidade se manifestar cada vez mais cedo, nós temos diagnosticado cada vez mais jovens. Acredito que seja porque os ginecologistas têm olhado com outros olhos, valorizando cada vez mais os relatos de cada jovem, investigando mais do que há algumas décadas.

Quais são os tipos de tratamento? É indicado para mulheres que têm a doença anti-inflamatórios e anticoncepcionais?
O tratamento pode ser clínico e/ou cirúrgico. O cirúrgico consiste em, por meio de uma videoscopia ou de uma cirurgia aberta, retirar a lesão. Já o clínico é feito através de um bloqueio hormonal, com algumas medicações específicas e talvez com o uso de anticoncepcionais.

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