Anualmente, 1,7
milhão de crianças com menos de 5 anos morrem no mundo devido a problemas ligados
a poluição ambiental, afirmam dois estudos da Organização Mundial da Saúde
(OMS) divulgados na noite deste domingo.
O primeiro relatório,
"Herdando um mundo sustentável: Atlas sobre a saúde das crianças e o meio
ambiente", revela que boa parte das doenças mais comuns que matam crianças
nessa faixa de idade - infecções respiratórias, malária e diarreia - pode ser
prevenida com ações para reduzir os riscos ambientais, como acesso à água
potável e ao saneamento básico.
O uso de combustíveis
sólidos para cozinhar, como carvão ou até mesmo estrume, utilizado em áreas
pobres, poluem o ar da casa e provocam doenças respiratórias, diz a organização
com sede em Genebra, na Suíça.
No Brasil, as mortes
de crianças com menos de 5 anos de idade caíram de 4,8% em 2005 para 3% do
total de óbitos no país em 2015, segundo a pesquisa Estatísticas do Registro
Civil 2015, divulgada pelo IBGE em novembro passado.
Um dos elementos para
o declínio da mortalidade infantil no Brasil, de acordo com o IBGE, é o aumento
do número de domicílios com saneamento básico adequado (esgoto, água potável e
coleta de lixo).
Exposições nocivas
causadas pela poluição ambiental podem começar no útero da mãe e aumentar os
riscos de nascimentos prematuros, afirma a OMS.
"Além disso,
quando crianças são expostas à poluição do ar dentro e fora de casa e ao
tabagismo passivo, há o aumento do risco de pneumonias na infância e de doenças
crônicas, como a asma", diz o relatório.
"Exposição ao ar
poluído aumenta os riscos de doenças cardíacas, de acidente vascular cerebral e
de câncer", destaca o documento.
As mudanças
climáticas, com a elevação das temperaturas e das emissões de gases causadores
do efeito estufa, favorecem o aumento do pólen, associado ao crescimento dos
casos de asma em crianças, diz a OMS.
As crianças também
estão expostas a elementos químicos perigosos, como mercúrio, fluoreto e
pesticidas, por meio da comida, água, ar e produtos manufaturados.
Equipamentos
elétricos e eletrônicos, como celulares, que não são corretamente reciclados,
expõem crianças a toxinas que podem causar danos pulmonares, diminuição da
inteligência e câncer, segundo a organização.
"Um ambiente
poluído é mortal, principalmente para crianças com pouca idade. Elas são mais
vulneráveis em razão do desenvolvimento de seus órgão e sistema imunológico e
das vias respiratórias", ressalta Margaret Chan, diretora-geral da OMS.
No total, 5,9 milhões
de crianças com menos de 5 anos morreram no mundo em 2015 (último dado levado
em conta nos dois relatórios).
De acordo com a
organização, 26% dessas mortes podem ser atribuídas a fatores ambientais.
Brasil.
O estudo da OMS
indica que o Brasil registra a taxa de 16,4 mortes de crianças com menos de
cinco anos para cada mil nascimentos, acima do índice de países como Austrália
(3,8 mortes), Argentina (12,5) ou China (10,7), mas taxa bem abaixo da
registrada em países da África e outras regiões pobres do mundo.
Áreas urbanas no
Brasil possuem, segundo dados do estudo, um dos mais baixos índices de
concentração de partículas finas entre os cerca de 190 países listados no
documento.
Quase a totalidade da
população brasileira tem acesso a esgoto sanitário, água potável e combustível
limpo para as tarefas da casa, de acordo com o relatório.
'Não
polua o meu futuro'.
O segundo estudo da
OMS divulgado na noite deste domingo, "Não polua o meu futuro! O impacto
do meio ambiente na saúde das crianças", detalha o impacto de fatores
ambientais sobre as doenças infantis.
Infecções
respiratórias, como pneumonia, são a principal causa de mortalidade infantil:
15,5% das mortes de crianças até 5 anos em 2015.
Cerca de 570 mil
crianças com até 5 anos morrem por ano no mundo em decorrência de doenças
respiratórias, atribuídas à poluição do ar em casa e externa (causada na
maioria dos casos por veículos) e também ao tabagismo passivo.
A poluição em casa é
derivada principalmente do uso de combustíveis sólidos, como o carvão, para
cozinhar.
"Bilhões de
crianças vivem em áreas onde os limites de poluição ultrapassam os fixados pela
OMS", afirma a organização.
A diarreia mata cerca
de 10% das crianças com menos de 5 anos de idade, principalmente na Ásia e no
Sudeste asiático.
Anualmente, são 361
mil mortes causadas pela diarreia devido à falta de acesso à água potável,
saneamento e higiene.
"Investir na
eliminação de riscos ambientais à saúde, como melhorar a qualidade da água ou o
uso de combustíveis limpos, resultará em benefícios maciços", diz Maria
Neira, diretora do departamento de saúde pública da OMS.
O
exemplo de Curitiba.
A capital do Paraná
teve destaque no estudo da OMS como um exemplo a ser seguido. A "ecológica
Curitiba", como é chamada no texto, investiu "pesado" em modos
mais limpos de transporte, em planejamento urbano integrado e na reciclagem do
lixo.
"Apesar da
população de Curitiba ter quintuplicado nos últimos 50 anos, a qualidade do ar
em Curitiba é melhor do que em muitas outras cidades com crescimento
rápido", diz a OMS, acrescentando que os índices de poluição do ar na
cidade brasileira são muitos próximos aos níveis indicados pela organização.
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