A
tragédia que aconteceu em 1961, em Niterói (RJ), é a com mais vítimas fatais no
país e assim como o incêndio no edifício no Largo do Paissandu, já era
anunciada com antecedência.
O incêndio e posterior
desabamento do edifício no Largo do Paissandu, em São Paulo, chocou a todos com
suas imagens aterrorizantes, mas, infelizmente, está longe de ser o mais fatal
na história do Brasil. Pouco lembrado entre as maiores tragédias brasileiras, o
incêndio no Gran Circo Norte-Americano, em Niterói (RJ), foi o mais mortal do
país. O desastre vitimou 503 pessoas, sendo que 70% eram crianças que assistiam
a matinê daquele fatídico domingo, dia 17 de dezembro de 1961. Outros 800
espectadores ficaram gravemente feridos.
A tragédia poderia ter
sido bem maior, pois no momento do incêndio haviam aproximadamente três mil pessoas
que superlotavam o circo, considerado na época o maior e mais completo da
América Latina. Toda a estrutura do show não era acompanhada de nenhum sistema
de segurança para qualquer tipo de acidente. Já a causa do desastre aumentou
ainda mais a perplexidade de todos os envolvidos na tragédia: o incêndio foi
criminoso e iniciado por um ex-funcionário do circo juntamente com dois amigos.
Apelidado de Dequinha,
Adílson Marcelino Alves quis se vingar do proprietário após sua demissão.
Contratado juntamente com outros 50 funcionários para montar a estrutura do
circo na cidade, ele foi despedido após uma briga com o dono e prometeu
vingança. Somente após as investigações policiais que ficou constatada a
participação dos três no crime. Ao final do processo, todos eles foram
condenados a 16 anos de prisão. Inicialmente, as suspeitas recaíam sobre as
precárias instalações elétricas que teriam gerado um curto-circuito, além da
falta de saídas de emergência no circo.
Entre as novidades
anunciadas pelo circo, nas ruas de Niterói, estava a moderna lona de algodão
(material altamente inflamável) com uma grossa camada de parafina para cobrir a
estrutura. Ela iria garantir um espetáculo tranquilo ao público mesmo em caso
de chuvas torrenciais, que são comuns nesta época do ano. Para complementar o
enredo da tragédia anunciada, o circo possuía apenas uma saída que estava
bloqueada com grades de ferro no momento do incêndio.
Segundo relatos da
época, o início do incêndio foi notado por um trapezista que rapidamente gritou
"fogo". Depois disso, um caos se instaurou embaixo da lona que se
transformou, em menos de cinco minutos, num teto em chamas. Enquanto era
consumida pelo fogo, a lona derretia e pingava sobre milhares de pessoas e
bichos abrigados sob a estrutura. Durante a confusão, centenas de vítimas foram
pisoteadas e intoxicadas pela fumaça que ficou presa dentro do circo.
Para complementar o
caos gerado pela tragédia, a classe médica do estado estava em greve e o
Hospital Antônio Pedro, o maior da cidade, com as portas fechadas. Após a
notícia do incêndio se espalhar, milhares de voluntários foram em direção ao
local para ajudar os feridos. Estas mesmas pessoas arrombaram as portas do
hospital e iniciaram os primeiros-socorros. Após saberem do desastre, os
médicos em greve retornaram imediatamente ao atendimento auxiliados por uma
multidão de voluntários que ajudavam em diversas tarefas. "Foi a maior
tragédia que eu presenciei. A união de milhares de pessoas ajudou a salvar a
vida de muita gente. Na época, eu recolhi doações de medicamentos para os
feridos e levava até os hospitais e clínicas", afirma o aposentado Antônio
Bartholomei, de 87 anos, que foi um dos milhares de voluntários que trabalharam
auxiliando médicos, bombeiros e policiais na mais fatal tragédia da história
brasileira.
Elefante
Samba.
Entre os animais que
tentaram escapar do incêndio estava o elefante "Samba", que em pânico
arrombou sua jaula e disparou contra a multidão matando dezenas de crianças e
adultos. Por ironia do destino, o animal que atropelou diversas pessoas foi o
grande responsável por salvar outras milhares de vidas. Com sua força, o
elefante rasgou a lona e abriu um enorme buraco na lateral, criando uma
"porta" de saída às vítimas que ainda estavam presas dentro do circo.
Estima-se, segundo dados da época, que Samba tenha salvado a vida de
aproximadamente 1,5 mil pessoas que utilizaram o rasgo na lona para fugir do
Gran Circo Norte-Americano.
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