Em março, a Assembleia Nacional da Coreia do Sul aprovou uma lei que
reduzirá a carga de trabalho de sua população: o limite máximo de horas
trabalhadas por semana passará de 68 para 52.
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), a Coreia do Sul é o país desenvolvido com o maior número de horas
trabalhadas.
A nova regra passará a ser aplicada em julho de 2018, mas iniciará com
empresas grandes antes de chegar a negócios menores.
Apesar da contrariedade de alguns empresários, o governo do país acredita
que a lei é necessária para melhorar a qualidade de vida, criar mais empregos e
impulsionar a produtividade.
Exceção à regra.
O governo sul-coreano também acredita que a medida pode ajudar a aumentar
a taxa de natalidade, que caiu substancialmente nas últimas décadas.
No volume de horas trabalhadas por ano, a Coreia do Sul lidera entre os
países desenvolvidos: uma média anual de 2.069, segundo dados de 2016
compilados pela OCDE.
A análise se debruçou sobre dados de 38 países e mostrou que apenas o
México (2.225 horas no ano) e Costa Rica (2.212) trabalham mais.
O levantamento da organização não inclui o país. Mas, segundo o
escritório de St. Louis do Federal Reserve, o banco central americano, em 2014,
a média anual de horas trabalhadas pelos brasileiros foi de 1.771 horas. Esse
dado colocaria o Brasil em 16º na lista da OCDE, logo atrás dos Estados Unidos
e à frente de países como Japão, Reino Unido e Alemanha, quarta economia do
mundo e último da lista.
Média individual de
horas trabalhadas por ano:
1º - México - 2.225 horas
2º - Costa Rica - 2.212 horas
3º - Coreia do Sul - 2.069 horas
4º - Grécia - 2.035 horas
5º - Rússia - 1.974 horas
5º - Chile - 1.974 horas
14º - Turquia - 1.832 horas
16º - Estados Unidos - 1.783 horas
22º - Japão - 1.713 horas
26º - Reino Unido - 1.676 horas
38º - Alemanha - 1.363 horas
*** Fonte: OCDE Employment Outlook 2017.
A iniciativa da Coreia do Sul parece seguir na contramão do que ocorre em
outros países asiáticos. Muitos não têm limites para horas trabalhadas por
semana, inclusive o Japão, a terceira maior economia do mundo.
O Japão tem um problema com as mortes por trabalho em excesso - algo
expresso não só pelas estatísticas, como também por uma palavra em japonês que
dá nome justamente a esse tipo de problema: karoshi.
O significado da palavra remete às mortes de empregados ligadas ao
estresse (como derrames e ataques cardíacos) ou a suicídios relacionados à
pressão sentida no trabalho.
A média anual de 1.713 horas trabalhadas não coloca o Japão no topo da
lista da OCDE. No entanto, para além deste dado, está o fato de que o país não
tem uma legislação que determine um limite para o número de horas trabalhadas
ou de horas extras.
Entre os anos de 2015 e 2016, o governo registrou um recorde de 1.456
casos de karoshi.
Grupos que defendem os direitos dos trabalhadores dizem que, na
realidade, os números são muito maiores - isto por conta, hoje, da
subnotificação.
Países com os maiores limites legais de horas trabalhadas por semana:
Tailândia - 84 horas
Ilhas Seychelles - 74 horas
Costa Rica - 72 horas
Nepal - 68 horas
Irã - 64 horas
Malásia - 62 horas
Cingapura - 61 horas
*** Fonte: OIT
Segundo estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
trabalhadores de países com renda baixa e média tendem a trabalhar por mais
tempo do que em países mais ricos. Isso graças a uma série de fatores, como uma
maior proporção de trabalhadores autônomos, instabilidades no trabalho e
questões culturais.
A OIT diz que a Ásia é o continente em que mais pessoas fazem as jornadas
mais longas de trabalho. A maioria dos países (32%) não tem um limite nacional
para o volume de horas trabalhadas por semana; outros 29% dos países têm
valores considerados altos (60 horas semanais ou mais). E somente 4% dos países
seguem a recomendação da OIT de limitar o valor em 48 horas semanais ou menos.
Nas Américas e no Caribe, 34% das nações não têm um limite legal - entre
elas, está os Estados Unidos. No Brasil, a Constituição determina o limite de
44 horas semanais.
Mas é no Oriente Médio que os limites legais têm a maior abertura para
longas horas: oito entre dez países permitem que elas passem de 60 horas
semanais.
Na Europa, por outro lado, todos os países têm limites estabelecidos.
Apenas na Bélgica e Turquia esse valor passa de 48 horas.
Cidades do batente.
Enquanto isso, a África é a região do mundo em que o maior número de
países tem mais de um terço de sua força de trabalho atuando mais de 48 horas
semanais. Essa é a situação de 60% dos trabalhadores na Tanzânia, por exemplo.
Algumas pesquisas já identificaram a situação de cidades pelo mundo no
que diz respeito às horas trabalhadas.
Em 2016, o banco suíço UBS publicou um estudo sobre a situação de 71
cidades. Hong Kong apareceu no topo, com 50,1 horas trabalhadas por semana, na
frente de Mumbai (43,7); Nova Déli (42,6) e Bangcoc (42,1). Duas cidades
brasileiras foram incluídas: Rio de Janeiro (33,5) e São Paulo (34,9).
Os mexicanos, além de terem a maior soma de horas trabalhadas, também têm
um tamanho tímido de férias remuneradas: um mínimo de 10 dias, como na Nigéria,
Japão e China. Um valor bem distante do Brasil, que tem um mínimo de 20 a 23
dias úteis.
Mas poderia ser pior: na Índia, não há limites legais para o volume de
horas trabalhadas e nem um mínimo de férias remuneradas.
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