Conforme as pessoas envelhecem,
o modo de encarar o sexo também passa por transformações. A idade, é claro,
interfere na libido, no desejo e nas preferências. E isso, consequentemente,
acaba influenciando na maneira de alcançar e vivenciar o orgasmo, sob o ponto
de vista fisiológico e emocional.
Para as mulheres, a
questão sempre envolve fatores contraditórios que precisam ser equilibrados. Na
puberdade, por exemplo, há um pico hormonal que estimula a vontade de transar e
pode intensificar o orgasmo. "No entanto, pensamentos permeados por culpa,
medo de uma gravidez precoce, consequências sociais do ato e toda a preocupação
que envolve a perda da virgindade e o início da vida sexual acabam dificultando
o prazer", comenta a sexóloga e ginecologista Franciele Minotto, diretora
técnica da clínica Bem-Estar Medicina e Saúde.
Além disso, tudo, ainda
existem o tabu e a repressão que envolvem a masturbação
feminina --ao contrário do que acontece com os rapazes, ela
não é incentivada culturalmente entre as garotas.
Até os 20 anos, em
média, a falta de intimidade
e a insegurança podem atropelar a fase de excitação das mulheres, encurtando as
preliminares e, consequentemente, dificultando ou impedindo o orgasmo, já que
ele necessita de estímulos diretos e indiretos no clitóris para acontecer.
Entre os 20 e 30 anos de idade, elas atingem a plenitude do período reprodutivo
e o auge da receptividade sexual.
"Para muitas, porém,
é difícil vivenciar o orgasmo devido à falta de autoconhecimento físico e de um
certo receio sociocultural de viver a sexualidade de forma mais livre, sem a
necessidade de um relacionamento estável com desejo de reprodução",
considera Franciele.
A faixa etária que vai
dos 30 aos 40 anos é marcada pelo acúmulo de experiências e por uma maior apropriação
dos desejos e vontades. A mulher está no pico da
responsividade, sente-se mais à vontade em relação ao sexo, mais consciente do
próprio corpo e de suas necessidades, mais segura de si, decidida e exigente na
cama. Por saber o que quer, também conhece bem os caminhos para atingir isso e,
portanto, é comum que nessa fase ela experimente orgasmos incríveis, tanto em
quantidade como em qualidade.
A chegada da menopausa,
entre os 45 e os 55 anos, promove uma série de alterações físicas derivadas da
diminuição do hormônio feminino estrogênio, entre as quais o afinamento da pele
e da mucosa vaginal e a redução da lubrificação natural. "A resposta
sexual humana possui fases que são divididas em: desejo, excitação, platô,
orgasmo e resolução. Com o envelhecimento, ocorrem mudanças nessas etapas. Na
resolução, fase após o orgasmo, o corpo pode levar menos tempo para retornar a
um estado neutro do que levaria no caso de mulheres mais jovens", explica
a fisioterapeuta pélvica Mônica Lopes. Isso dificulta --mas não impede, vale
frisar-- a obtenção de um novo orgasmo.
Segundo Mônica, fazer sexo
durante a menopausa pode parecer complicado, mas é
importante lembrar que o desejo tem um componente emocional importante e, nessa
fase, muitas preocupações deixam de existir, abrindo caminho para mais
liberdade. Uma vez que o estrogênio é responsável por manter a lubrificação
vaginal durante a excitação, a redução dele tende a levar à secura vaginal.
"O uso de um lubrificante à base de água é imprescindível", fala a
fisioterapeuta.
"Após os 60 anos,
a vagina pode apresentar graus mais intensos de afinamento e perda da
elasticidade, mas tanto as sensações de prazer quanto o orgasmo ainda são
possíveis", afirma Franciele, que recomenda conversar com um ginecologista
sobre tratamentos de reposição hormonal e técnicas como laser e/ou
radiofrequência, que amenizam esses incômodos.
Outra mudança é a maior
necessidade de estímulos --ou seja, as preliminares devem ser mais prolongadas.
Há outras maneiras de alimentar essa motivação: usar a imaginação, recorrer a
fantasias, ler romances excitantes, ver vídeos e filmes pornôs, apostar na
masturbação, ouvir músicas que despertem as memórias sexuais e por aí vai.
E
em relação aos homens?
Assim como ocorre com
as mulheres, a fase jovem se caracteriza pela taxa elevada dos níveis
hormonais, principalmente da testosterona, o que facilita a excitação e a
ereção. "Nessa etapa, o tempo de latência, que é o período entre ejacular
uma vez e tudo se restabelecer para ejacular novamente, é menor", afirma
Alex Meller, urologista da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e membro
do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.
O tempo de latência
aumenta conforme a idade, o que acaba modificando o jeito de ejacular.
"Já o adolescente, quando começa a ter relações sexuais, é normal que
ejacule antes até de penetrar devido a uma ansiedade natural de
desempenho", diz Lessandro Curcio Gonçalves, urologista do Hospital
Federal de Ipanema e vice-presidente da SBU-RJ (Sociedade Brasileira de
Urologia do Rio de Janeiro).
Depois dos 30 anos, há
o início do declínio hormonal, quando a libido e a excitação começam a diminuir
e o volume da ejaculação também, pois tudo faz parte do mesmo processo.
"Costumo explicar isso aos pacientes e lembrá-los que depois dos 30 anos o
potencial fértil vai diminuindo e, inclusive, reforçando que isso faz parte da
nossa biologia e não tem muito como evitar", diz Meller.
"A balança pende
para um maior tempo de relação e um menor número de vezes. O homem adulto tem
mais confiança
na sua virilidade e consciência de que a mulher também
precisa se satisfazer. No entanto, é frequente receber no consultório pacientes
nessa faixa etária reclamando de mau desempenho por conta da vida atribulada
associada à rotina no casamento", completa Gonçalves, reforçando que o
aspecto emocional tem papel importante no orgasmo também para os homens.
Após os 40 anos, o DAEM
(Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino) surge sorrateiramente com
quedas graduais dos níveis de testosterona, afetando diretamente a performance
física e sexual do homem. Ainda de acordo com Gonçalves, essa condição tende a
piorar com a idade, principalmente para aqueles que se alimentam mal, dormem
pouco, são sedentários, estão acima do peso ou têm diabetes
e hipertensão arterial.
Os 50 anos, de acordo
com Meller, marcam um declínio hormonal maior, o que faz com que os pacientes
sintam diminuição na libido e com que a ereção seja menos imediata. "O
nível de excitação necessária para atingir a ereção é maior, enquanto o volume
da ejaculação geralmente fica reduzido", explica o especialista.
Medicamentos indicados
para disfunção erétil, como o Viagra,
permitem ereção suficiente para uma atividade sexual satisfatória, mas não
basta apenas engolir o comprimido para o pênis ficar ereto. Viagra não é
afrodisíaco, e sim um facilitador. Se não houver estímulos nem erotização na
fase pré-sexo, o remédio não vai funcionar.
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