Enquanto a mulher
esgota seu potencial reprodutivo com a menopausa, o homem não passa por isso,
diz o médico Marcelo Vieira, coordenador da Área de Infertilidade Masculina da
Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). A infertilidade masculina é um dos
temas em debate no 37º Congresso Brasileiro de Urologia, que começa neste
sábado (24), em Curitiba. O evento é promovido pela SBU e vai até terça-feira
(27).
"O homem vai
produzir espermatozoides até o último dia de vida", destaca Marcelo
Vieira, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o médico, permanece a visão que
se tinha antigamente de que a mulher tem uma melhor época para ser mãe e o
homem pode ser pai a qualquer momento. "Isso continua verdadeiro, porém,
existem algumas considerações", ressalta Vieira.
O médico cita estudos
recentes segundo os quais, clinicamente, homens acima de 40 anos demoram maior
tempo para conseguir engravidar a parceira. "O que vemos nessa faixa
etária é que a qualidade do sêmen piora e aumenta a fragmentação do DNA".
E isso explicaria por
que homens nessa faixa de idade demoram mais a ser pais. "Isso acontece
por um processo natural de envelhecimento. As células que produzem
espermatozoides, apesar de continuarem renovadas a cada divisão celular, sofrem
o efeito do estresse oxidativo, que é o efeito básico do envelhecimento
celular", diz o urologista.
Associação.
Marcelo Vieira lembra
que estudos populacionais constatam uma associação entre o aumento da idade
masculina, a piora da qualidade seminal e a demora para levar uma mulher à
concepção em homens com mais de 45 anos. No entanto, alerta Vieira, esse tipo
de estudo não consegue comprovar causa e efeito para isso. De acordo com o
médico, outros estudos epidemiológicos de análise populacional comprovam a
existência maior de autismo em pais com mais idade.
Além do tema de
envelhecimento e fertilidade, o congresso da SBU vai debater ética em
reprodução humana, ou seja, até onde a medicina pode chegar. Marcelo Vieira
lembra que, antes de 1992, quando foi publicada a técnica de ICSI (injeção
intracitoplasmática de espermatozoide), era considerado antiético o tratamento
de fator masculino grave nos homens que têm poucos ou quase nenhum
espermatozoide. "Não se podia violar o óvulo com uma agulha para
introduzir o espermatozoide. Dizem que, acidentalmente, isso aconteceu e foi
desenvolvido um método".
Hoje, as pesquisas são
no sentido do desenvolvimento de gameta artificial a partir de célula-tronco,
mas o especialista considera que ainda vai demorar algum tempo para isso se
tornar efetivo.
A programação destaca,
na segunda-feira (26), a mesa A Idade do Homem e Fertilidade: Existe Relação,
com participação do urologista norte- americano Paul Turek, ex-professor
titular da University of California San Francisco. O debate está previsto para
as 8h10 na plenária do congresso.
Aspectos
clínicos.
Segundo Marcelo Vieira,
outros temas de plenárias e cursos do congresso são voltados mais para aspectos
clínicos da infertilidade conjugal. "Vamos discutir os temas [em] que nós,
especialistas, temos dúvida no tratamento da infertilidade conjugal". Por
exemplo, se existe uma melhor técnica cirúrgica para recuperar espermatozoide
dentro dos testículos, para homens que não têm espermatozoide na ejaculação.
Outro tema importante é
a varicocele, ou varizes nos testículos, doença comum que causa infertilidade
masculina. Vieira ressalta que a varicocele é tratável e admite correção
cirúrgica, levando à melhora da qualidade seminal e à gravidez em casa após a
correção do problema. O congresso discutirá a melhor forma de diagnóstico e
situações de exceção no tratamento. "Se vale a pena tratar, ou não",
diz o especialista.
De acordo com o
urologista, a varicocele é responsável por cerca de 40% das causas de
infertilidade masculina, mas é corrigível. O homem pode operar e melhorar a
qualidade seminal e engravidar a parceira naturalmente em casa ou ter seu
espermatozoide melhor preparado para depois fazer um bebê de proveta. Marcelo
Vieira esclarece que o resultado do tratamento com técnicas de reprodução
assistida é melhor em homens operados de varicocele em comparação com os que
não se submeteram à cirurgia.
Congressistas.
Mais de 3 mil
urologistas são esperados no congresso, que é considerado o maior evento da
especialidade na América Latina e o terceiro no mundo em número de
participantes. Estarão presentes nomes de destaque da urologia do Brasil e do
exterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário