FONTE: Sylvio Quadros (TRIBUNA DA BAHIA).
Três comprimidos para diabetes, mais três para o coração, dois para pressão arterial, outros dois para tireóide, um para labirintite e ainda duas cápsulas de cálcio para a osteoporose. O ritual extenuante faz parte do dia-a-dia da artista plástica Waldeth Garcez, 80 anos, na tarefa de manter sob controle as doenças crônicas comuns à sua faixa etária. Mais regra do que exceção, o alto número de remédios consumidos com o avanço da terceira idade passou a obrigar médicos e demais profissionais da saúde a emitir um alerta grave: a mistura de medicamentos pode compor a receita ideal para um desastre.
Segundo os médicos, a lista de efeitos colaterais produzidos pela falta de informação é tão grave quanto extensa. Desde arritmia cardíaca até hemorragia interna, passando por falência nos rins, as complicações na hora de associar múltiplos medicamentos sem acompanhamento profissional adequado podem oferecer um risco incalculável ao paciente.
Para quem precisa associar remédios regularmente, como no caso de Waldeth, o conselho é redobrar o cuidado na hora de incrementar outra substância à lista de coquetéis. “Sou alérgica à penicilina e ao ácido acetilsalisílico, e meu médico precisa ter conhecimento disso”, diz ela, que já teve uma hemorragia interna. “Ele sabe do meu histórico familiar, da minha propensão a doenças cardiovasculares, e cuida de tudo para o caso de receitar uma nova mistura de comprimidos”.
De acordo com o cardiologista Mário Rocha, professor da Escola Bahiana de Medicina, cabe ao médico responsável avaliar os riscos decorrentes de uma associação perigosa entre medicamentos – já que, em certos casos, estas misturas são inevitáveis. “Quando se utilizam medicamentos complexos que potencializam estas ocorrências, é fundamental que o paciente seja acompanhado por um profissional atualizado”, sugere. Segundo o cardiologista, um agravante para essas interações medicamentosas pode surgir da negligência dos próprios pacientes. “Não raro o indivíduo frequenta vários médicos e deixa de esclarecer a um deles sobre os remédios de que faz uso. Quando questionado, o paciente em geral não se recorda ou simplesmente diz que consome `vitaminas´”, diz Rocha, que estimula pacientes a manter um histórico de saúde organizado e até cultivar o hábito de ler a bula.
Ele aponta ainda para uma maior interação entre os profissionais de saúde, hoje subordinados ao veredicto final do médico: “farmacêuticos, por exemplo, devem acompanhar o tratamento e fazer sugestões”.
O aposentado Antonio Jorge Mendonça, 72, conhece bem o preço da negligência. Em 2004, Mendonça foi hospitalizado com falência nos rins após misturar paracetamol com um antiinflamatório, automedicado logo após um tombo no banheiro. “Aprendi uma lição. Hoje só misturo medicamentos depois do aval do meu médico. De quebra, ainda procuro me informar na farmácia”, diz ele, que usa antidepressivos e já foi alertado para o risco de associá-los a cafeína, álcool ou mesmo alguns tipos de queijo. “A pressão vai para as alturas, o que pode até matar”, alerta.
O risco na associação entre remédios e alimentos é compartilhado pelo clínico geral Daniel Rebouças, membro da diretoria do Centro de Informações Antiveneno (Ciave). Para o médico, a melhor saída é adotar medidas preventivas: “O paciente deve sempre informar ao profissional de que faz uso de medicação contínua”. Segundo ele, o número de medicamentos prescritos, somado aos diferentes médicos consultados por cada paciente, ganha ainda um outro agravante: a falta de informação. “Assim como os idosos, as crianças compõem um importante grupo de risco, já que são, em geral, medicadas pela própria família”, aponta Rebouças. ”O que deu certo para o irmão ou para a tia acaba sendo comprado sem prescrição médica nas farmácias”.
O panorama não é de todo condenável. Na semana passada, a prática generalizada da automedicação recebeu um basta da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O órgão determinou que somente os funcionários das farmácias poderão ter acesso direto aos medicamentos. Como prazo, os estabelecimentos têm até seis meses para se adaptarem às novas regras.
“A lei deve ajudar a diminuir o número de interações negativas. A população, em geral, abusa dos analgésicos”, diz Rebouças. Para os adeptos da generalização, entretanto, o médico acrescenta: “É importante lembrar também das associações positivas entre medicamentos, o chamado sinergismo” - referência à ação combinada entre dois ou mais medicamentos para produzir um efeito benéfico ao paciente. De preferência, porém, “os pacientes precisam ser alertados para as interações negativas”, adverte o médico. Melhor prevenir do que remediar.
Três comprimidos para diabetes, mais três para o coração, dois para pressão arterial, outros dois para tireóide, um para labirintite e ainda duas cápsulas de cálcio para a osteoporose. O ritual extenuante faz parte do dia-a-dia da artista plástica Waldeth Garcez, 80 anos, na tarefa de manter sob controle as doenças crônicas comuns à sua faixa etária. Mais regra do que exceção, o alto número de remédios consumidos com o avanço da terceira idade passou a obrigar médicos e demais profissionais da saúde a emitir um alerta grave: a mistura de medicamentos pode compor a receita ideal para um desastre.
Segundo os médicos, a lista de efeitos colaterais produzidos pela falta de informação é tão grave quanto extensa. Desde arritmia cardíaca até hemorragia interna, passando por falência nos rins, as complicações na hora de associar múltiplos medicamentos sem acompanhamento profissional adequado podem oferecer um risco incalculável ao paciente.
Para quem precisa associar remédios regularmente, como no caso de Waldeth, o conselho é redobrar o cuidado na hora de incrementar outra substância à lista de coquetéis. “Sou alérgica à penicilina e ao ácido acetilsalisílico, e meu médico precisa ter conhecimento disso”, diz ela, que já teve uma hemorragia interna. “Ele sabe do meu histórico familiar, da minha propensão a doenças cardiovasculares, e cuida de tudo para o caso de receitar uma nova mistura de comprimidos”.
De acordo com o cardiologista Mário Rocha, professor da Escola Bahiana de Medicina, cabe ao médico responsável avaliar os riscos decorrentes de uma associação perigosa entre medicamentos – já que, em certos casos, estas misturas são inevitáveis. “Quando se utilizam medicamentos complexos que potencializam estas ocorrências, é fundamental que o paciente seja acompanhado por um profissional atualizado”, sugere. Segundo o cardiologista, um agravante para essas interações medicamentosas pode surgir da negligência dos próprios pacientes. “Não raro o indivíduo frequenta vários médicos e deixa de esclarecer a um deles sobre os remédios de que faz uso. Quando questionado, o paciente em geral não se recorda ou simplesmente diz que consome `vitaminas´”, diz Rocha, que estimula pacientes a manter um histórico de saúde organizado e até cultivar o hábito de ler a bula.
Ele aponta ainda para uma maior interação entre os profissionais de saúde, hoje subordinados ao veredicto final do médico: “farmacêuticos, por exemplo, devem acompanhar o tratamento e fazer sugestões”.
O aposentado Antonio Jorge Mendonça, 72, conhece bem o preço da negligência. Em 2004, Mendonça foi hospitalizado com falência nos rins após misturar paracetamol com um antiinflamatório, automedicado logo após um tombo no banheiro. “Aprendi uma lição. Hoje só misturo medicamentos depois do aval do meu médico. De quebra, ainda procuro me informar na farmácia”, diz ele, que usa antidepressivos e já foi alertado para o risco de associá-los a cafeína, álcool ou mesmo alguns tipos de queijo. “A pressão vai para as alturas, o que pode até matar”, alerta.
O risco na associação entre remédios e alimentos é compartilhado pelo clínico geral Daniel Rebouças, membro da diretoria do Centro de Informações Antiveneno (Ciave). Para o médico, a melhor saída é adotar medidas preventivas: “O paciente deve sempre informar ao profissional de que faz uso de medicação contínua”. Segundo ele, o número de medicamentos prescritos, somado aos diferentes médicos consultados por cada paciente, ganha ainda um outro agravante: a falta de informação. “Assim como os idosos, as crianças compõem um importante grupo de risco, já que são, em geral, medicadas pela própria família”, aponta Rebouças. ”O que deu certo para o irmão ou para a tia acaba sendo comprado sem prescrição médica nas farmácias”.
O panorama não é de todo condenável. Na semana passada, a prática generalizada da automedicação recebeu um basta da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O órgão determinou que somente os funcionários das farmácias poderão ter acesso direto aos medicamentos. Como prazo, os estabelecimentos têm até seis meses para se adaptarem às novas regras.
“A lei deve ajudar a diminuir o número de interações negativas. A população, em geral, abusa dos analgésicos”, diz Rebouças. Para os adeptos da generalização, entretanto, o médico acrescenta: “É importante lembrar também das associações positivas entre medicamentos, o chamado sinergismo” - referência à ação combinada entre dois ou mais medicamentos para produzir um efeito benéfico ao paciente. De preferência, porém, “os pacientes precisam ser alertados para as interações negativas”, adverte o médico. Melhor prevenir do que remediar.
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