FONTE: Jolivaldo Freitas (TRIBUNA DA BAHIA).
Amanheci, ontem, entristecido e com forte sentimento de frustração. Não sou gente. Não tenho importância. O governador Jacques Wagner a quem dei meu voto na eleição passada, sequer ouviu falar de mim. O secretário de Segurança Pública me ignora solenemente. Nem a Justiça quer saber da minha pobre pessoa. Talvez por isso: sou preto, pobre e fudi...
Não fui grampeado. Uma injustiça. O governo está grampeando todo mundo e todos se queixam. É uma ingratidão com o governo que comprou e pagou mais de milhão pelo Sistema de Espionagem Guardião. Queriam o quê? Que ficasse lá jogado num canto estragando para depois vir esta imprensa toda falar mal? Quando aparelhos de ultra som, tomografia e outros objetos são descobertos jogados ao léu num hospital público é aquele Deus nos acuda, o governo está jogando dinheiro do contribuinte fora, desprezo com a saúde da população e tudo que é querela. Quando usa o que foi comprado com dinheiro público fica a queixa. Se comprou e pagou caro, principalmente, tem de grampear.
O radialista Mário Kertész estrilou na Rádio Metrópole. O presidente do PMDB Lúcio Vieira Lima está uma fera, mais inchado de raiva que baiacu; um secretário amigo meu estava cuspindo marimbondos de fogo. Pior, pelo que parece, o negócio tem mesmo a ver com as próximas eleições, pois colegas de jornais, que foram também agraciados com o grampo, estão dizendo e publicando que tem aliados do PT grampeados cujos nomes foram omitidos das operações da Segurança Pública. Me disseram que o tal do grampo Guardião é inteligente. Mais que o de ACM. Funciona como se fosse uma corrente (todo mundo lembra daquela corrente em que você recebia uma carta e tinha de passar para cinquenta pessoas e cada um que recebia fazia a mesma coisa e quem ficava por último ganhava o mico). É assim: digamos que sua mãe foi grampeada. Todos que ligarem para ela serão automaticamente grampeados. Até o pessoal da GVT ou da Oi vendendo planos totais. Quem ligar para você está grampeado. Quem ligar para quem ligou para você cai no grampo. Interessante e futurâmico. Vale o valor pago.
Foi o que aconteceu com minha avó. Ela ligou para uma amiga, que tinha ligado para outra pessoa, que tinha ligado para uma empresa de ônibus relacionada na Operação Expresso somente para saber horário de saída da viagem. Está lá na transcrição o diálogo que vai servir para seu indiciamento: - Marilda? - Oi dona Ju! - Preciso daquele adjutório. - Vou mandar levar hoje. - Não demore. E já mande repartido. - Não se preocupe. Na verdade ela estava falando da pílula para reumatismo. Mas está feliz por ter sido lembrada pelo governador e ainda me joga na cara: - Viu? Você com este negócio de ser jornalista. Não presta nem para ser grampeado. Magoou.
Amanheci, ontem, entristecido e com forte sentimento de frustração. Não sou gente. Não tenho importância. O governador Jacques Wagner a quem dei meu voto na eleição passada, sequer ouviu falar de mim. O secretário de Segurança Pública me ignora solenemente. Nem a Justiça quer saber da minha pobre pessoa. Talvez por isso: sou preto, pobre e fudi...
Não fui grampeado. Uma injustiça. O governo está grampeando todo mundo e todos se queixam. É uma ingratidão com o governo que comprou e pagou mais de milhão pelo Sistema de Espionagem Guardião. Queriam o quê? Que ficasse lá jogado num canto estragando para depois vir esta imprensa toda falar mal? Quando aparelhos de ultra som, tomografia e outros objetos são descobertos jogados ao léu num hospital público é aquele Deus nos acuda, o governo está jogando dinheiro do contribuinte fora, desprezo com a saúde da população e tudo que é querela. Quando usa o que foi comprado com dinheiro público fica a queixa. Se comprou e pagou caro, principalmente, tem de grampear.
O radialista Mário Kertész estrilou na Rádio Metrópole. O presidente do PMDB Lúcio Vieira Lima está uma fera, mais inchado de raiva que baiacu; um secretário amigo meu estava cuspindo marimbondos de fogo. Pior, pelo que parece, o negócio tem mesmo a ver com as próximas eleições, pois colegas de jornais, que foram também agraciados com o grampo, estão dizendo e publicando que tem aliados do PT grampeados cujos nomes foram omitidos das operações da Segurança Pública. Me disseram que o tal do grampo Guardião é inteligente. Mais que o de ACM. Funciona como se fosse uma corrente (todo mundo lembra daquela corrente em que você recebia uma carta e tinha de passar para cinquenta pessoas e cada um que recebia fazia a mesma coisa e quem ficava por último ganhava o mico). É assim: digamos que sua mãe foi grampeada. Todos que ligarem para ela serão automaticamente grampeados. Até o pessoal da GVT ou da Oi vendendo planos totais. Quem ligar para você está grampeado. Quem ligar para quem ligou para você cai no grampo. Interessante e futurâmico. Vale o valor pago.
Foi o que aconteceu com minha avó. Ela ligou para uma amiga, que tinha ligado para outra pessoa, que tinha ligado para uma empresa de ônibus relacionada na Operação Expresso somente para saber horário de saída da viagem. Está lá na transcrição o diálogo que vai servir para seu indiciamento: - Marilda? - Oi dona Ju! - Preciso daquele adjutório. - Vou mandar levar hoje. - Não demore. E já mande repartido. - Não se preocupe. Na verdade ela estava falando da pílula para reumatismo. Mas está feliz por ter sido lembrada pelo governador e ainda me joga na cara: - Viu? Você com este negócio de ser jornalista. Não presta nem para ser grampeado. Magoou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário