sábado, 6 de fevereiro de 2010

PESQUISAS SOB SUSPEITA...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).

Há uma forte tendência no meio político para impor ressalvas e reservas às pesquisas eleitorais e seus resultados. Em 2006, por exemplo, quando as pesquisas eleitorais, sem exceção, apontavam para uma tranquila reeleição do governador Paulo Souto, Jaques Wagner – que vinha crescendo nos índices de intenção de votos das pesquisas, mas bem longe do que seria suficiente – foi eleito no primeiro turno.
Surpresa total e mil explicações posteriores do que pode ter acontecido. Mas nenhuma antecipação, nessas pesquisas, do que poderia e iria mesmo acontecer. Os institutos de pesquisa literalmente comeram mosca. E nem se pode supor má-fé generalizada, pois todos apontavam na mesma direção e sequer fizeram o suspeitíssimo movimento de correção que às vezes alguns fazem nos últimos dias, para sair dos resultados de interesseira má- fé e aproximar-se da realidade eleitoral, de modo a salvar a própria face ou o próprio (e às vezes já somente suposto conceito).
Estatística já foi definida, mais ou menos, como a maneira de torcer os números até obrigá-los a falar o que se quer que eles falem. Em verdade podem ser produzidas estatísticas sérias, mas também é possível fazer da estatística um poderoso instrumento de enganar pessoas, grupos de pessoas, povos, grupos de nações e, por algum tempo, até o mundo inteiro.
No caso das pesquisas eleitorais, no Brasil, há fatos e histórias capazes de lançar suspeitas sobre muitos institutos e empresas de pesquisa de opinião pública, seja quanto a sua competência técnica, seja, principalmente, quanto à vinculação a interesses políticos e/ou econômicos que se refletem nos resultados apresentados ao público.
Há dois casos emblemáticos na questão de confiança das pesquisas eleitorais no país. O primeiro, uma espécie de consenso, entre políticos, jornalistas e publicitários, de que o Instituto Datafolha – independente da capacidade técnica alguns de seus congêneres também muito conhecidos e de comparações de números que produziram sobre eleições passadas – tem maior credibilidade quando se trata de pesquisa eleitoral. Isto porque integra um grupo jornalístico independente, o grupo da Folha de S. Paulo, e não aceita fazer pesquisa eleitoral por encomenda de partidos, políticos ou quaiquer outros envolvidos.
O segundo caso é do Instituto Gallup. Criado nos Estados Unidos e mundialmente famoso, o Gallup opera no Brasil e já fez pesquisas eleitorais aqui (se não me falha a memória por iniciativa própria, trabalhando para si mesmo). Depois de algum tempo, que não foi muito longo, anunciou que não mais iria operar em pesquisas eleitorais, limitando-se ao setor de pesquisas na área econômica.
Acho até que dá para entender. O Gallup atuou em pesquisa eleitoral para obter maior visibilidade e possivelmente clientes. Mas é um instituto muito sério e não gostou dos costumes no mercado das pesquisas eleitorais. Ciente de que quem com porcos se mistura farelos come, optou por manter seu conceito mundial como instituto de pesquisa de opinião pública.

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