quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

URINAR NA RUA PODE DAR CADEIA...

FONTE: Karina Baracho & Nelson Rocha (TRIBUNA DA BAHIA).

A festa do Rio Vermelho, como tantas outras que acontecem durante o verão em áreas públicas da cidade, revela um comportamento típico do brasileiro, do baiano em especial: o de não respeitar o ambiente repleto de pessoas e fazer xixi praticamente diante de todos. As autoridades culpam os festeiros pela “falta de educação”, e estes, por sua vez, apontam a falta de sanitários públicos suficientes para socorrer quem estiver “apertado”. O resultado é que, com a aproximação do carnaval, ruas, cantos, muros, áreas verdes e postes da cidade serão, mais uma vez, literalmente irrigados de urina, numa clara demonstração de que esta é uma atitude da qual nem todos compartilham. Entretanto, é bom saber, que quem for pego fazendo xixi em espaço público pode ser preso e responder processo na Justiça.
De acordo com a assessoria da Polícia Militar (PM) da Bahia, a situação é bastante delicada. “O entendimento prático vai depender de cada caso. O ideal, se não tiver um banheiro próximo, é que a pessoa procure um lugar reservado para não gerar um atentado ao pudor, o que pode gerar prisão, lembrando que cada caso é analisado separadamente, pois essa é uma questão bastante subjetiva”.Em relação ao Carnaval, a assessoria da PM foi clara. “Existe uma flexibilidade ainda maior no que diz respeito a comportamento, pois é um ambiente que foge ao normal. As regras ficam mais enfraquecidas, até pela quantidade de pessoas e ingestão de bebidas alcoólicas e que em muitos casos foge a noção”.Segundo a assessoria da PM, inicialmente os policiais dão uma orientação e corrigem o cidadão que está indo de encontro aos bons costumes. “Mas tudo tem limite, se percebemos que a vontade realmente é de agredir e ofender outras pessoas temos que agir de outra forma, encaminhando o agressor a um posto policial”.“Quando me sinto apertada e não consigo um sanitário por perto, sou de pedir socorro pra Iemanjá mesmo. É doce fazer xixi no mar”, comentou a estudante universitária Flávia Costa, 22, que no final da tarde de ontem já havia entrado na praia da Paciência, no Rio Vermelho, quatro vezes para se banhar e “descarregar” o “excesso de cevada”, leia-se cerveja, consumida durante a festa. Portanto, o ato de fazer xixi em público não é uma atitude exclusiva dos homens, mas também de muitas mulheres que não resistem quando estão no “aperto”.
Mas, por que o brasileiro, e particularmente o baiano, faz tanto xixi na rua? “É preciso compreender que é uma atitude transgressora que faz parte do código da masculinidade. É também um ritual de afirmação, onde o macho afronta o outro exibindo seu apêndice viril , e um subproduto de incivilidade do povo que não tem respeito pelo espaço público e usa este espaço como se fosse privado, da mesma forma que o barão da Graça leva o cachorro para o passeio ou o emergente da Suburbana pega o carro popular e enche de som para infernizar no espaço sonoro de todo mundo”, observa o antropólogo Roberto Albergaria.
MARCANDO TERRITÓRIO COM OS BICHOS.
Para Albergaria, o ato de fazer xixi na rua revela um comportamento cultural hoje fortemente enraizado entre os brasileiros. “É um ato lúdico, de prazer, uma atividade transgressora também reproduzida pelas mulheres que adotam o mesmo padrão dos homens, no afã de ser igual a eles, que agem como os animais que marcam o território”, diz o antropólogo que lembra ser a invenção do WC algo recente no ocidente. “Na Bahia antiga, pobre exercia suas funções de excreção no mato e o rico no penico Até o século XIX não havia banheiro e a visão do sexo do outro não incomodava”, declarou. No Rio de Janeiro a atriz Maria Menezes foi a um animado bloco no Rio. Sua missão: tentar entender porque o folião insiste tanto em “regar as plantinhas” por onde passa. A atriz flagrou vários homens fazendo xixi nas ruas. Muitos faziam perto de banheiros químicos. No mesmo evento duas pessoas foram detidas por urinar na rua durante um desfile, no Centro da Cidade Maravilhosa. Quem faz xixi em público, na frente dos outros, está brincando com a lei. “Você incide no crime de ato obsceno. Aí você expõe seu órgão genital para as pessoas que passam ali, muitas vezes crianças, idosos”, explica o promotor de justiça Enéas Gomes. Quem faz xixi em espaço público no Brasil “pode responder por um ato obsceno, que é o artigo 233 do Código Penal. Podendo pagar uma multa ou ficar detido de três meses até um ano”, revelou o comandante da PM carioca Henrique Castro. A cidade mineira de Diamantina já declarou guerra aos praticantes do xixi nas ruas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário