FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.
O treco mais rentável hoje em dia, para quem não tem nenhum tipo de vocação específica, não quer trabalhar num escritório ou fábrica durante oito horas diárias e ainda faz sucesso como engajado socialmente e politicamente correto é ser um feliz proprietário de uma Organização Não-Governamental, mais conhecidas como Ongs. Não precisa saber de nada sobre o assunto a que terá de se debruçar, pois basta meter a cara na internet e ficar sabendo como montar uma e a partir daí tomar dinheiro do governo, ou seja, nosso, e ir para a galera.
O que acho de interessante é isso de ser não governamental, mas ficar nas tetas do governo. O cara passa, praticamente, a ser um funcionário público, sem ter que se aborrecer com chefes, bater ponto, estar na repartição, e além do mais, se for bem engajado, nem precisa dar satisfação da sua vida e muito menos de onde foi parar a grana. Se tiver ligação com Força Sindical e outras centrais, aí mesmo é que o negócio vai ser bem feito e lucrativo.
Meu vizinho estava devendo dois anos de condomínio. Tinha entrado num tal processo de demissão voluntária e pensou que iria ter grana para o resto da vida, ainda mais que recebeu todo o FGTS e mais quarenta por cento da multa rescisória. Mas, aí, a filha passou no vestibular de uma faculdade particular, destas que surgem às dezenas todo santo dia na Bahia e somos cheios de santos.
O filho não deixou por menos e também ingressou em outra, pois se tem coisa mais fácil é entrar numa faculdade particular baiana, que só exigem do vestibulando o seguinte: que não sofra de Alzheimer, não seja anecéfalo, saiba que dois mais dois são quatro e mesmo assim se errar ainda tem mais duas oportunidades de recuperação; que saiba que pedra é sólido e água é líquido e que não se perca na hora de pegar a Paralela ou outro roteiro, em direção à escola. Se pagar a mensalidade em dia, pode ainda virar orador da turma.
Como meu vizinho ficou quebrado, porque além da mensalidade tem os livros e por causa da violência que grassa na cidade, optou por comprar um carro para cada e assim evitar os assaltos nos ônibus, ele entrou em parafuso. Até que outro vizinho, conhecido por conseguir soluções mirabolantes para tudo na vida (imagine que foi ele quem inventou um meio do condomínio pagar menos energia elétrica, e quando fomos ver, estava mesmo era puxando parte da luz de um poste da Coelba), o aconselhou a montar uma Ong. E ainda deu todas as dicas de como fazer, onde obter recursos e tudo o mais.
Hoje meu vizinho é um feliz proprietário de uma Ong que cuida de evitar a extinção das galinhas d‘Angola, mais conhecidas como coquem ou mesmo tofraco. Para não dizer que está ganhando sem mostrar serviço, pegou uma das suas garagens e transformou num galinheiro. Se o Ministério Público for atrás, para saber como está sendo administrado o fundo que vem lá do Ministério do Meio-Ambiente e de empresas fornecedoras de frango, peito de frango, miúdos e até penas para travesseiros, vai provar que o que gasta de milho é uma fábula.
Ele está feliz com seu novo status, pois sempre o estão convidando para congressos, palestras e encontros, tendo inclusive participado daquele protesto lá em Davos, somente para dar apoio. Sua única queixa é que não tem mais espaço para criar novas Ongs para defender atum, tartaruga, baleia, mico, onça, lagartixa, pivete malabarista, traficante e até teiú. Mas, ele vai ver se consegue defender as piranhas. Aliás, por falar nisso, sua mulher... esqueça.
Mas, como sempre, tem alguém que consegue botar gosto ruim na felicidade alheia e meu outro vizinho, um cururu radical, garante que vai desmantelar a Ong do homem e soltar as galinhas d‘Angola pelas ruas da Barra, o que considero um horror, pois se não morrerem atropeladas, com certeza vão morrer de pedradas, pois os meninos do bairro jamais viram uma galinha ao vivo e entrarão em pânico.
Os pais, para defesa deles, vão extinguir a raça d‘angolana. Foi este meu vizinho raivoso que me chamou, ontem, a atenção para uma tática do marketing das redes de alimentos.
Os supermercados estão oferecendo uma sacola. Segundo a comunicação, a sacola serviria para que o cliente não precisasse, toda vez que vai ao supermercado, pegar os sacos plásticos para colocar os produtos. A mensagem diz que é para diminuir a poluição por plásticos e preservar o meio ambiente, pois é do tipo leva e traz e leva de novo, até o dia que rasgar.
Foi então que meu vizinho radical explicou sua revolta, argumentando: se é preocupação da empresa preservar o meio ambiente, porque não dar as sacolas aos clientes ao invés de querer trocar pelos pontos que ele tem na casa? E explicou que a empresa está sendo esperta, pois vende a sacola, se livra dos pontos dos clientes, economiza na compra dos sacos e ainda faz média com os ecologistas. “Assim é fácil”, observou.
- Isso é que se chama tirar a pipoca da panela quente com a mão do gato.
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