Para 65% dos entrevistados, o padrão de beleza feminino mostrado nos
comerciais de TV é diferente da realidade.
“Eu gosto de minhas cicatrizes, dobrinhas e marcas”. A administradora Ludmila Lemos, 26 anos, não é a única que gostaria de ver mais mulheres “normais”, como ela, aparecendo nos comerciais de TV. Segundo a pesquisa Representação das Mulheres nas Propagandas de TV, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Data Popular, 65% dos 1.501 homens e mulheres de 100 municípios brasileiros ouvidos acham que o padrão de beleza feminino mostrado nos comerciais de TV é diferente da realidade.
Enquanto a chamada classe C representa 53% da população brasileira e ganha, em média, R$ 1.450, a pesquisa aponta que 73% consideram que as propagandas na TV mostram mais mulheres de classe alta, enquanto 83% dos homens e mulheres ouvidos veem as mulheres reais como sendo de classe popular.
Para 83%, os cabelos lisos aparecem mais, quando o que a maioria dos brasileiros gostaria de ver são os crespos e cacheados. Outros 80% consideram que as propagandas na TV mostram mais mulheres brancas, quando o próprio Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 51% dos brasileiros se diz negro ou pardo.
Padrão.
“Localmente falando, acho que é uma falta de alinhamento com a realidade étnica”, diz a publicitária e diretora de Atendimento e Planejamento da agência de comunicação Ideia 3, Renata Schubach, sobre comerciais baianos que usam modelos com traços nórdicos. Ela acredita, entretanto, que as propagandas nacionais usam mais pessoas brancas porque as maiores empresas de publicidade se concentram no Sudeste e Sul do país. “Lá tem a predominância de loiros”, diz.
Ela também acha que o Brasil representa mulheres de forma diferente da realidade porque repete os padrões internacionais, seguindo uma lógica de mercado. “Se você pega as campanhas da Victoria’s Secrets, todas têm loiras magérrimas e de olhos claros. Uma negra como Naomi Campbell aparece na publicidade de 30 em 30 anos”, exemplifica.
A pesquisa também revela que 84% concordam que o corpo da mulher é usado para promover a venda de produtos nas propagandas na TV, e, para 60% dos ouvidos, as mulheres ficam frustradas quando não têm o padrão de beleza que veem na televisão.
Questão delicada.
Para a socióloga Petilda Vazquez, a questão é delicada porque as campanhas publicitárias reeditam a cultura da mulher como um objeto. “Essa ideia de só mostrar mulheres jovens, brancas, bonitas e com corpos esculturais é um traço discriminatório de uma sociedade que não lida bem com diversidades culturais”, acredita.
É nociva, de acordo com a socióloga, a representação de padrões estéticos que não correspondem à realidade como sendo os ideais. “Quem não estiver dentro desse padrão vai se sentir pressionado. Você acha que o homem se sente mais viril dentro de uma Brasília amarela ou de um Camaro amarelo?”, exemplifica.
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