FONTE: LUCAS REIS, DE MANAUS (www1.folha.uol.com.br).
A rotina da estudante Giovana
(nome fictício) mudou radicalmente aos 14 anos.
De família pobre, da
periferia de Manaus, ela foi tomada pela curiosidade ao ver uma amiga rodeada
de presentes, dinheiro e carros.
Em pouco tempo, passou até a
cabular aula para entrar na rede de exploração sexual.
Não demorou e passou a fazer
de seis a sete programas por dia. E ela ainda nem havia completado 15 anos.
"Emendava um programa no
outro. Não parava. Ganhávamos dinheiro muito fácil. Mas, como diz o ditado,
tudo que vem fácil vai fácil", disse à Folha a adolescente, hoje
com 17 anos e, segundo ela, longe dos encontros sexuais.
Há um ano, a rede de
exploração sexual da qual Giovana fazia parte foi desbaratada pela polícia em
Manaus.
Agora, a Folha teve
acesso a detalhes das investigações sobre a forma de atuação do esquema que
servia a grupos de empresários e políticos do Amazonas e que recrutava garotas
pobres, com idades a partir de 12 anos.
O Ministério Público ofereceu
denúncia. A Justiça ainda analisa se abrirá processo.
O caso está sob sigilo no Tribunal
de Justiça do Amazonas. Um cônsul, um prefeito e um deputado estadual estão
entre os suspeitos de fazer parte do esquema.
"Às vezes no meio da
aula eles [agenciadores] me avisavam sobre algum programa por mensagem de
celular, então me buscavam na escola e me levavam até o local do encontro.
Depois, me levavam de volta pra escola ou pra casa", disse a menina.
IDENTIDADE.
"Na média, num dia,
podia ganhar R$ 2.000, R$ 3.000. Variava de R$ 300 a R$ 400 [cada
programa]", completa.
Segundo a garota, a maioria
dos clientes sabia que ela não tinha 18 anos -quando necessário, diz, usava uma
identidade falsificada.
A vida dela, conta, mudou de
novo quando a rede veio à tona, em novembro de 2012.
Policiais foram até a casa
dela para apreender computadores e celulares. "A reação da minha mãe foi
péssima. Ela desmaiou, foi uma coisa muito horrível", afirma.
Outros parentes de garotas
ouvidos pela reportagem relataram semelhante reação quando o caso foi revelado.
Com medo, Giovana afirma que
apagou seus perfis nas redes sociais e passou a fazer, também, um curso
profissionalizante. Hoje sonha com uma universidade.
"Não falo com mais
ninguém, perdi o contato com todos. Eu vi e revi o que eu fazia e agora faço
diferente. Quero estudar e ter meu próprio negócio."
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