Um tratamento para a
depressão que utiliza eletrodos implantados sob a pele para estimulação
elétrica foi testado pela primeira vez no Brasil. O procedimento cirúrgico foi
realizado na quarta-feira (21) no HCor (Hospital do Coração), em São Paulo.
Os eletrodos são
implantados na região da testa e ligados a um marca-passo. O objetivo é
estimular o nervo trigêmeo, que confere sensibilidade à face e é uma via
importante de acesso ao cérebro, de acordo com a neurocirurgiã Alessandra
Gorgulho, uma das responsáveis pela pesquisa.
A ideia de testar essa
via veio de uma pesquisa com estimulação externa no nervo trigêmeo realizada na
UCLA (Universidade da Califórnia) para tratar epilepsia.
Durante o experimento,
diz Gorgulho, que não participou diretamente dele mas trabalhava na
universidade americana na época, os pacientes relataram melhora no humor.
O resultado levou os
pesquisadores a testar o mesmo procedimento, um adesivo com eletrodos usado
durante a noite, em pacientes deprimidos, obtendo bons resultados. A ideia
agora é saber se a estimulação contínua traria mais benefícios.
"Se levarmos em
conta o desenho da pesquisa, o número de pacientes envolvidos e o tempo durante
o qual eles serão acompanhados [um ano], o nosso estudo é muito mais
robusto", diz Gorgulho.
Os pacientes que participarão do experimento –20 no total– têm depressão moderada refratária, ou seja, não responderam ao tratamento convencional, baseado em drogas e psicoterapia.
Esse contingente,
explica o psiquiatra Ricardo Moreno, chefe do grupo de transtornos afetivos do
Instituto de Psiquiatria da USP, e que colabora com o experimento, representa
cerca de 20% das pessoas que têm depressão.
Isso não significa que
as abordagens convencionais serão abandonadas. Os pacientes, concomitantemente
à estimulação, vão continuar com os tratamentos que já vêm recebendo.
A paciente que foi submetida à cirurgia no HCor tem cerca de 50 anos e luta contra a depressão há cinco. Nesse período, passou por vários tratamentos, sem sucesso.
COMPLEMENTO.
Moreno diz que a
estimulação poderá servir como um complemento ao tratamento clássico. "Os
resultados da neuromodulação são promissores, mas a área ainda não está muito
consolidada."
Gorgulho diz que há atualmente uma grande procura por novas alternativas, reversíveis e minimamente invasivas para tratar a depressão.
"Acho que é menos
assustador usar uma estimulação elétrica que pode ser interrompida a qualquer
momento do que combinar, por exemplo, cinco drogas, durante anos, para
descobrir depois o que acontece."
Outros experimentos que também têm o nervo trigêmeo como alvo, mas com eletrodos colocados sobre a pele, sem necessidade de cirurgia, vêm sendo realizados também pelo HCor e pela Santa Casa para tratar depressão.
Os pesquisadores do HCor
buscam voluntários para o estudo. Mais informações podem ser obtidas pelo
e-mail neurociencia@hcor.com.br
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