FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
A lei 12.732/12 que está em vigor
há quase um ano e meio prevê que o tratamento contra o
câncer comece em até 60 dias após o diagnóstico do Sistema Único de Saúde
(SUS). O cumprimento pleno dessa lei, no entanto, só ficou no papel.
Segundo dados de uma pesquisa da
Federação Brasileira de
Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), 64% dos gestores
estaduais de saúde, hospitais e centros de tratamento do SUS em todas as
regiões do Brasil admitiram que a Lei dos 60 dias não é cumprida com rigor por
falta de repasse de verbas.
A mastologista e presidente
voluntária da Femama, Maira Caleffi, explica que, antes da aprovação da lei, a
entidade reivindicava um prazo
ainda menor, de 30 dias. "Em alguns tipos de câncer, como leucemias e
câncer infantil, 60 dias significam a morte, é muito tempo", diz ela.
Mas nem os dois meses são respeitados. Dados
do Sistema de Informação sobre o Câncer (SISCAN) até julho de 2014, mostram que
40% dos pacientes registrados no sistema não haviam sido tratados dentro do de
60 dias. O atraso no início do tratamento, evidentemente, reflete na
mortalidade pelo câncer.
E mesmo esse porcentual de 40% pode estar subnotifcado,
uma vez que correspondem a apenas pouco mais de sete mil dos 576 mil novos
casos de câncer previstos para 2014. Apesar de a lei prever que todo
diagnóstico de câncer seja registrado, isso não acontece.
"É muito pouca gente para dizer que a Lei
dos 60 dias está funcionando em 60% dos pacientes. Esses dados não denunciam
que o sistema não está funcionando e que a lei não está sendo cumprida",
explica a médica.
Os problemas não são só
prazos.
Maira também aponta como entrave no
tratamento de câncer no Brasil a falta de
medicamentos mais novos disponíveis no SUS. "Existem medicamentos que são
aprovados para quem tem plano de saúde, mas a Comissão Nacional de Incorporação
de Tecnologias no SUS (CONITEC) não aprova, justificando que não há evidências
científicas suficientes para comprovar a eficácia deles", indigna-se a
médica.
Além disso, o Brasil fica para trás quando o assunto são estudos
clínicos. "O CONEP atrasa muito para aprovar e liberar estudos no Brasil,
temos dificuldades imensas para participar de estudos internacionais, que
beneficiariam muito os pacientes. Aqui, demora de 12 a 14 meses para aprovar, o
que demoraria de dois a três meses em outros países", compara.
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