FONTE: Maria Fernanda
Ziegler - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
“É uma situação muito ruim. É uma mutilação
que ninguém vê. Mas a opção à cirurgia é morrer”. A constatação é forte, mas o
músico Rafael Prista, 60 anos, fala isto sem dramas. Em abril do ano passado
ele passou por uma cirurgia para retirada do câncer de próstata. Um ano e meio
depois, vida normal e o alívio permanente de ter identificado a doença ainda no
estágio inicial.
Ele
descobriu que tinha um câncer de próstata do tipo agressivo por meio dos exames
de sangue de rotina. A taxa do PSA deu alta e o clínico-geral falou
para ele marcar uma consulta com um urologista. “Eu não sentia nada. Nada de
ardência, problemas sexuais nada. Estava nas fases iniciais que são
absolutamente assintomáticas”, disse. Um mês depois do diagnóstico, Prista
operou.
O
diagnóstico precoce também foi uma característica do caso do bancário Otávio
Jose de Medeiros Carreiro, de 56 anos. Em janeiro deste ano ele descobriu o
câncer em fase inicial e foi operado por uma cirurgia robótica, método
minimamente invasivo. “Optei pelo método mais avançado que tinha, queria
resolver isso logo. Hoje estou super bem e curado”, disse.
O
câncer de próstata tem 68 mil novos casos por ano no Brasil, com cerca de 520
mil mortes estimadas. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer
de próstata é o com maior incidencia entre os homens em todas as regiões do
país.
Porém,
pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que entrevistou 5 mil
homens em 2013, revelou que 47% dos entrevistados nunca realizaram exames para
detectar o câncer depróstata, 44% jamais se consultaram com o urologista e 51%
nunca fizeram exames para aferir os níveis de testosterona (hormônio masculino)
no sangue.
As
causas do câncer de próstata não são totalmente esclarecidas e também não
existe prevenção. “Todas as teorias sobre alimentos que previnem o câncer de
próstata foram por água a baixo e possíveis remédios estão ainda em testes. O
fato é que depois dos 50, um a cada seis homens vai ter câncer de próstata”,
afirma o urologista Cesar Câmara, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
De
acordo com o urologista Daher Chade, do Instituto do Câncer de São Paulo Chade,
o ideal é que entre 40 e 45 anos o homem faça uma avaliação clínica para
estimar fatores de risco e definir a partir de quando precisa fazer o
acompanhamento. “Algumas pessoas precisam fazer antes dos 50 e outras depois
dos 50”, diz.
Como
não existe prevenção, as campanhas focam no diagnóstico precoce que é
determinante. Entre cada dez casos de câncer descobertos logo no início, nove
têm chances de cura.
“Além
de o diagnóstico precoce ser importante para que o tratamento já aconteça nas
fases iniciais, quanto mais elevado o estágio, aumenta a chance de efeitos
colaterais”, afirma o urologista Bruno Benigno, do Hospital AC Camargo Cancer
Center, em São Paulo.
Há um
risco de incontinência urinária entre 5% e 10% dos pacientes e de dificuldade
de ereção entre 20% (para mais novos de 65 anos) e 40% (para mais velhos de 65
anos).
“Todo
mundo que opera esquece a vida sexual por um tempo e torce para não ter incontinência
urinária. Porque leva um ano para tratar mais ou menos. Eu sofri muito, não
tive incontinência urinária e problema sexual cada vez está mais normal. Hoje
eu levo uma vida normal e até voltei a correr os meus 10 quilômetros”, diz
Prista.
Os
especialistas afirmam que para todos os efeitos colaterais existe tratamento.
“Muitas vezes o tratamento melhora a performance do paciente. Sem contar que
ele passa a se cuidar mais . “O que vale ressaltar é que é uma troca pela
vida”, diz Chade.
Tanto
Prista quanto Carreiro descobriram o câncer a partir do PSA alterado. “Mas vale
ressaltar que apenas 70% dos casos de PSA alterado são diagnosticados com
câncer de próstata. É preciso fazer o exame de toque para verificar possíveis
nódulos e depois a biópsia”, explica Benigno.
O exame
de toque retal é apontado ainda como temido por muitos homens, mas é o melhor
exame para detectar anomalias na próstata. “O preconceito tem diminuído muito.
Vejo que se tem um serviço disponível os pacientes fazem o exame. Acredito que
o problema é falto de acesso a urologistas”, afirma Câmara.
“Mulher
também não faz um bando de exame invasivo? Porque que a gente não vai fazer um.
Tem que fazer”, disse Carreiro. Prista concorda e lamenta que ainda hoje exista
quem prefira morrer de câncer a se cuidar. “É uma coisa ridícula achar que
fazer um exame vai ferir a masculinidade de uma pessoa. É bom lembrar que a
alternativa é morrer”, diz.
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