segunda-feira, 17 de novembro de 2014

CÂNCER DE PRÓSTATA: "É UMA MUTILAÇÃO, MAS A OPÇÃO FORA A CIRURGIA É MORRER"...

FONTE: Maria Fernanda Ziegler - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
“É uma situação muito ruim. É uma mutilação que ninguém vê. Mas a opção à cirurgia é morrer”. A constatação é forte, mas o músico Rafael Prista, 60 anos, fala isto sem dramas. Em abril do ano passado ele passou por uma cirurgia para retirada do câncer de próstata. Um ano e meio depois, vida normal e o alívio permanente de ter identificado a doença ainda no estágio inicial.
Ele descobriu que tinha um câncer de próstata do tipo agressivo por meio dos exames de sangue de rotina. A taxa do PSA deu alta e o clínico-geral falou para ele marcar uma consulta com um urologista. “Eu não sentia nada. Nada de ardência, problemas sexuais nada. Estava nas fases iniciais que são absolutamente assintomáticas”, disse. Um mês depois do diagnóstico, Prista operou.
O diagnóstico precoce também foi uma característica do caso do bancário Otávio Jose de Medeiros Carreiro, de 56 anos. Em janeiro deste ano ele descobriu o câncer em fase inicial e foi operado por uma cirurgia robótica, método minimamente invasivo. “Optei pelo método mais avançado que tinha, queria resolver isso logo. Hoje estou super bem e curado”, disse.
O câncer de próstata tem 68 mil novos casos por ano no Brasil, com cerca de 520 mil mortes estimadas. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é o com maior incidencia entre os homens em todas as regiões do país.
Porém, pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que entrevistou 5 mil homens em 2013, revelou que 47% dos entrevistados nunca realizaram exames para detectar o câncer depróstata, 44% jamais se consultaram com o urologista e 51% nunca fizeram exames para aferir os níveis de testosterona (hormônio masculino) no sangue.
As causas do câncer de próstata não são totalmente esclarecidas e também não existe prevenção. “Todas as teorias sobre alimentos que previnem o câncer de próstata foram por água a baixo e possíveis remédios estão ainda em testes. O fato é que depois dos 50, um a cada seis homens vai ter câncer de próstata”, afirma o urologista Cesar Câmara, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
De acordo com o urologista Daher Chade, do Instituto do Câncer de São Paulo Chade, o ideal é que entre 40 e 45 anos o homem faça uma avaliação clínica para estimar fatores de risco e definir a partir de quando precisa fazer o acompanhamento. “Algumas pessoas precisam fazer antes dos 50 e outras depois dos 50”, diz.
Como não existe prevenção, as campanhas focam no diagnóstico precoce que é determinante. Entre cada dez casos de câncer descobertos logo no início, nove têm chances de cura.
“Além de o diagnóstico precoce ser importante para que o tratamento já aconteça nas fases iniciais, quanto mais elevado o estágio, aumenta a chance de efeitos colaterais”, afirma o urologista Bruno Benigno, do Hospital AC Camargo Cancer Center, em São Paulo.
Há um risco de incontinência urinária entre 5% e 10% dos pacientes e de dificuldade de ereção entre 20% (para mais novos de 65 anos) e 40% (para mais velhos de 65 anos).
“Todo mundo que opera esquece a vida sexual por um tempo e torce para não ter incontinência urinária. Porque leva um ano para tratar mais ou menos. Eu sofri muito, não tive incontinência urinária e problema sexual cada vez está mais normal. Hoje eu levo uma vida normal e até voltei a correr os meus 10 quilômetros”, diz Prista.
Os especialistas afirmam que para todos os efeitos colaterais existe tratamento. “Muitas vezes o tratamento melhora a performance do paciente. Sem contar que ele passa a se cuidar mais . “O que vale ressaltar é que é uma troca pela vida”, diz Chade.
Tanto Prista quanto Carreiro descobriram o câncer a partir do PSA alterado. “Mas vale ressaltar que apenas 70% dos casos de PSA alterado são diagnosticados com câncer de próstata. É preciso fazer o exame de toque para verificar possíveis nódulos e depois a biópsia”, explica Benigno.
O exame de toque retal é apontado ainda como temido por muitos homens, mas é o melhor exame para detectar anomalias na próstata. “O preconceito tem diminuído muito. Vejo que se tem um serviço disponível os pacientes fazem o exame. Acredito que o problema é falto de acesso a urologistas”, afirma Câmara.

“Mulher também não faz um bando de exame invasivo? Porque que a gente não vai fazer um. Tem que fazer”, disse Carreiro. Prista concorda e lamenta que ainda hoje exista quem prefira morrer de câncer a se cuidar. “É uma coisa ridícula achar que fazer um exame vai ferir a masculinidade de uma pessoa. É bom lembrar que a alternativa é morrer”, diz.

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